O que parecia ser uma derrapagem verbal do ministro das Finanças alemão foi reafirmado pelo diretor alemão do Fundo de Resgate europeu: está em curso a campanha contra o alegado afrouxamento da austeridade. O presidente português põe água na fervura, o ministro dos Negócios Estrangeiros, protesta.
Na primeira versão das suas polémicas declarações, o ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble, afirmara que Portugal estava a caminho de um segundo resgate. Pressionado a esclarecer a bombástica afirmação, mitigara-lhe o sentido, afirmando que Portugal só iria precisar de um segundo resgate se não cumprisse as "regras europeias". O porta-voz do Ministério das Finanças alemão negou também que Schäuble se tivesse referido a Portugal como estando a caminho de um segundo resgate.
Na altura, as primeiras reacções portuguesas vieram do ministro das Finanças, Mário Centeno, negando que houvesse qualquer intenção portuguesa de pedir um segundo resgate, e do líder parlamentar socialista, Carlos César, criticando o que chamou a "arrogância persiste" de Schäuble.
Agora é a vez do ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, que em entrevista àquele semanário afirma: "Não tenho de fazer processo de intenções, mas apenas notar, aliás é um padrão, e entendemos que desta vez o nosso desagrado devia ser comunicado". E acrescenta que "o efeito [das declarações de Schäuble] é negativo", tanto "no mercado, nas taxas de juro e no clima de confiança".
Hoje mesmo uma outra declaração de Klaus Regling, o director alemão do fundo de resgate europeu, vinha reforçar o sentido das advertências lançadas por Schäuble, ao dizer que Portugal é o único país que lhe suscita preocupações, por estar a afastar-se do caminho da política austeritária acordada com Bruxelas.
O presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, desvalorizou essas declarações de Regling, dizendo que elas não significam forçosamente que Portugal esteja a ser um motivo de preocupação para as instâncias europeias. Declarações deste tipo podem, pelo contrário, explicar-se com um intuito de produzir determinados efeitos práticos, a curta distância da data em que será decidido sobre as eventuais sanções por défice excessivo - sanções, nomeadamente, a Portugal.