Na passada sexta-feira deram entrada no Hospital de Vila Franca de Xira 13 pessoas com suspeitas de estarem infetadas por legionella. Este sábado eram já mais de 60 os diagnosticados com a doença, havendo registo de uma vítima mortal. Para o ministro da Saúde, Paulo Macedo, tratar dos doentes e identificar a origem da contaminação são as prioridades.
Inicialmente, as suspeitas recaíram sobre o consumo de água contaminada, versão que veio a ser desmentida pelo presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública. De acordo com Mário Jorge Santos, a contaminação pode ter resultado de um “evento ocorrido num espaço com ar condicionado, dado o número de casos (...) confirmados no mesmo dia”, cita a Lusa.
A bactéria não se transmite de pessoa para pessoa, mas através da inalação de gotículas de água, invisíveis a olho nu e alojadas em sistemas de refrigeração ou aquecimento e duches, com falta ou má manutenção.
Depois de um grande número de pessoas recorrer ao serviço de urgência do Hospital Reynaldo dos Santos, a autarquia fez análises laboratoriais à água. O resultado foi negativo, “não se verificando qualquer registo anómalo dos valores normais para consumo humano”, segundo o município. Fonte hospitalar admitiu que as pessoas tenham sido infetadas através do ar.
Os doentes têm entre 30 e 90 anos e são de diferentes locais do concelho de Vila Franca de Xira. Estão internados nos Cuidados Intensivos e Intermédios, sendo que um dos infetados está ventilado em estado grave. “É o que está pior”, referiu fonte oficial do hospital.
Algumas das pessoas que apresentavam um quadro clínico menos grave foram medicadas e mandadas para casa por não necessitarem de cuidados hospitalares.
Infetados com legionella internados em Lisboa
O número de pessoas infetadas com a bactéria legionella subiu durante a noite de sexta-feira para sábado, de acordo com fonte oficial da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, passando a haver doentes internados também em hospitais da capital.
"São todos oriundos da região de Vila Franca de Xira", sublinhou a mesma fonte, acrescentando que continua "sob investigação" o que esteve na origem da infeção.
Na manhã de sábado estavam internadas em hospitais do Centro Hospitalar Lisboa Central (CHLC) nove pessoas, das quais seis em enfermarias em situação estável e três nos cuidados intensivos, indicou o CHLC.
Caso mortal em Vila Franca
O primeiro caso fatal de infeção por legionella no hospital de Vila Franca de Xira vitimou um homem de 59 anos já com problemas respiratórios e morbilidades associadas, tendo a batéria potenciado esse quadro clínico prévio.
"O doente que faleceu já tinha morbilidades associadas, tinha doenças respiratórias, doença pulmonar obstrutiva crónica, era um fumador e já tinha uma pneumonia, ou seja, já tinha uma doença do foro pneumológico, o que faz com que o quadro clínico seja mais complicado", disse à Lusa uma fonte oficial do Hospital.
Hospital preparado para lidar com a bactéria
Carlos Rabaçal, diretor clínico do Hospital de Vila Franca de Xira, garantiu este sábado que a unidade está preparado para lidar com o surto de legionella.
"Temos tudo o que precisamos, não temos um aumento de afluência ao hospital, a afluência é a que se verifica durante as noites e durante todo o ano, por isso para além destes problemas, temos o banco de urgência com as situações mais díspares", afirmou o responsável aos jornalistas.
Rabaçal aconselha as pessoas a recorrerem à linha Saúde 24, em primeiro lugar, em caso de sintomas. “Se depois os doentes forem orientados para a nossa urgência, podem vir", disse.
Surto não é habitual, admite Francisco George
Por sua vez, o diretor-geral da Saúde, Francisco George, admitiu em entrevista à estação televisiva TVI que o surto "é um problema que não é habitual" dada "a magnitude e gravidade".
"As pessoas têm razões para estar atentas e preocupadas, é um problema que não é habitual, uma situação deste tipo, com esta magnitude e gravidade não é habitual", disse o diretor-geral.
"É possível haver mais casos nas próximas horas e nos próximos dias", acrescentou, considerando que as pessoas devem estar "alertadas e preocupadas, mas não alarmadas".
Inquérito epidemiológico
O Ministério da Saúde iniciou na sexta-feira "um inquérito epidemiológico para averiguar a fonte potencial de contaminação" e constituiu uma equipa para acompanhar o tema.
Portugal registou, entre 2009 e 2013, 459 casos de doença por legionella.
A equipa é constituída pela Direção-Geral da Saúde, Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, delegados de Saúde e Administração de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo.
De acordo com fonte do Ministério da Saúde, Paulo Macedo tem "acompanhado pessoalmente a evolução da situação e participado em algumas reuniões".
Resposta em duas frentes
O ministro da Saúde, Paulo Macedo, explicou na tarde deste sábado, à entrada para uma reunião na Direção-Geral de Saúde, que a resposta à legionella está a acontecer em em duas frentes.
“Há um conjunto de medidas que têm vindo a ser tomadas, desde logo a primeira, que é tratar da pessoas, e identificar a origem do surto e pôr-lhe um término”, afirmou.
As autoridades querem agora acautelar a assistência aos doentes infetados, mas é também uma prioridade a identificação da fonte de contaminação.
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