Legionella com origem por apurar causa uma morte e mais de 60 infeções

por João Ferreira Pelarigo, RTP
Testes laboratoriais. Stefan Wermuth, Reuters

Na passada sexta-feira deram entrada no Hospital de Vila Franca de Xira 13 pessoas com suspeitas de estarem infetadas por legionella. Este sábado eram já mais de 60 os diagnosticados com a doença, havendo registo de uma vítima mortal. Para o ministro da Saúde, Paulo Macedo, tratar dos doentes e identificar a origem da contaminação são as prioridades.

A bactéria legionella é responsável por uma pneumonia grave que se manifesta por tosse, febre alta, pontadas torácicas e, em alguns casos, dores musculares. Os utentes do Hospital de Vila Franca de Xira deram entrada com queixas do foro respiratório.

Inicialmente, as suspeitas recaíram sobre o consumo de água contaminada, versão que veio a ser desmentida pelo presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública. De acordo com Mário Jorge Santos, a contaminação pode ter resultado de um “evento ocorrido num espaço com ar condicionado, dado o número de casos (...) confirmados no mesmo dia”, cita a Lusa.
A bactéria não se transmite de pessoa para pessoa, mas através da inalação de gotículas de água, invisíveis a olho nu e alojadas em sistemas de refrigeração ou aquecimento e duches, com falta ou má manutenção.

Depois de um grande número de pessoas recorrer ao serviço de urgência do Hospital Reynaldo dos Santos, a autarquia fez análises laboratoriais à água. O resultado foi negativo, “não se verificando qualquer registo anómalo dos valores normais para consumo humano”, segundo o município. Fonte hospitalar admitiu que as pessoas tenham sido infetadas através do ar.

Os doentes têm entre 30 e 90 anos e são de diferentes locais do concelho de Vila Franca de Xira. Estão internados nos Cuidados Intensivos e Intermédios, sendo que um dos infetados está ventilado em estado grave. “É o que está pior”, referiu fonte oficial do hospital.

Algumas das pessoas que apresentavam um quadro clínico menos grave foram medicadas e mandadas para casa por não necessitarem de cuidados hospitalares.
Infetados com legionella internados em Lisboa
O número de pessoas infetadas com a bactéria legionella subiu durante a noite de sexta-feira para sábado, de acordo com fonte oficial da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, passando a haver doentes internados também em hospitais da capital.
"São todos oriundos da região de Vila Franca de Xira", sublinhou a mesma fonte, acrescentando que continua "sob investigação" o que esteve na origem da infeção.

Na manhã de sábado estavam internadas em hospitais do Centro Hospitalar Lisboa Central (CHLC) nove pessoas, das quais seis em enfermarias em situação estável e três nos cuidados intensivos, indicou o CHLC.
Caso mortal em Vila Franca
O primeiro caso fatal de infeção por legionella no hospital de Vila Franca de Xira vitimou um homem de 59 anos já com problemas respiratórios e morbilidades associadas, tendo a batéria potenciado esse quadro clínico prévio.
"O doente que faleceu já tinha morbilidades associadas, tinha doenças respiratórias, doença pulmonar obstrutiva crónica, era um fumador e já tinha uma pneumonia, ou seja, já tinha uma doença do foro pneumológico, o que faz com que o quadro clínico seja mais complicado", disse à Lusa uma fonte oficial do Hospital.
Hospital preparado para lidar com a bactéria
Carlos Rabaçal, diretor clínico do Hospital de Vila Franca de Xira, garantiu este sábado que a unidade está preparado para lidar com o surto de legionella.

"Temos tudo o que precisamos, não temos um aumento de afluência ao hospital, a afluência é a que se verifica durante as noites e durante todo o ano, por isso para além destes problemas, temos o banco de urgência com as situações mais díspares", afirmou o responsável aos jornalistas.

Rabaçal aconselha as pessoas a recorrerem à linha Saúde 24, em primeiro lugar, em caso de sintomas. “Se depois os doentes forem orientados para a nossa urgência, podem vir", disse.
Surto não é habitual, admite Francisco George
Por sua vez, o diretor-geral da Saúde, Francisco George, admitiu em entrevista à estação televisiva TVI que o surto "é um problema que não é habitual" dada "a magnitude e gravidade".

"As pessoas têm razões para estar atentas e preocupadas, é um problema que não é habitual, uma situação deste tipo, com esta magnitude e gravidade não é habitual", disse o diretor-geral.

"É possível haver mais casos nas próximas horas e nos próximos dias", acrescentou, considerando que as pessoas devem estar "alertadas e preocupadas, mas não alarmadas".
Inquérito epidemiológico
O Ministério da Saúde iniciou na sexta-feira "um inquérito epidemiológico para averiguar a fonte potencial de contaminação" e constituiu uma equipa para acompanhar o tema.
Portugal registou, entre 2009 e 2013, 459 casos de doença por legionella.
A equipa é constituída pela Direção-Geral da Saúde, Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, delegados de Saúde e Administração de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo.

De acordo com fonte do Ministério da Saúde, Paulo Macedo tem "acompanhado pessoalmente a evolução da situação e participado em algumas reuniões".
Resposta em duas frentes
O ministro da Saúde, Paulo Macedo, explicou na tarde deste sábado, à entrada para uma reunião na Direção-Geral de Saúde, que a resposta à legionella está a acontecer em em duas frentes.
“Há um conjunto de medidas que têm vindo a ser tomadas, desde logo a primeira, que é tratar da pessoas, e identificar a origem do surto e pôr-lhe um término”, afirmou.

As autoridades querem agora acautelar a assistência aos doentes infetados, mas é também uma prioridade a identificação da fonte de contaminação.
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