As artes do tráfico numa crónica anedótica de João Botelho que é uma cáustica visão de Portugal neste tempo.
Um vulgar casal com um filho, de férias no Algarve, descobre um fabuloso tesouro na praia: um carregamento de droga. Transformam-se em novos ricos arrogantes, ostensivos e obcecados pelo consumo. Envolvem-se em diversas actividades de tráfico, nomeadamente armas, artefactos religiosos ou peças de arte, e tiram todo o partido da sua inesperada e pouco escrupulosa fortuna, que vai crescendo a olhos vistos.
João Botelho já tinha em 1987, com "Tempos Difíceis", criado uma fábula mordaz e irónica em tom de farsa. Porém, com "Tráfico", amplia de forma notória o tom caricatural e assina uma sardónica crónica anedótica sobre um casal vulgar que se vicia, literalmente, nas mais variadas formas de tráfico: droga, armas, peças artísticas e religiosas. Todavia, Botelho, que é um implacável e inteligente observador da realidade portuguesa, a pretexto de uma história quase absurda sobre um casal de traficantes, explora as mais complexas e, por vezes, esquecidas vertentes de outras formas de tráfico menos evidentes, como o culto das aparências, o comércio das ilusões, a corrida ao dinheiro, a perversão dos valores morais e um sem número de deformações do comportamento contemporâneo. Um filme virulento, cáustico e feroz, plasticamente fascinante e pleno de referências cinematográficas e citações literárias, servido por um vasto elenco, onde se contam os nomes de Alexandra Lencastre, Rita Blanco, Laura Soveral, João Perry ou Canto e Castro.