Neste programa começamos em Portugal com a realidade de filhos de mães reclusas. A Casa da Criança é um centro de acolhimento temporário para meninos dos três aos dez anos. Vizinha do Estabelecimento Prisional de Tires, esta instituição acolhe cinco filhos de reclusas e oito meninos que foram retirados às suas famílias biológicas por se encontrarem em situação de risco. Duas vezes por semana, os filhos vão visitar as mães à prisão, a distância é curta e permite este contacto sempre rico em doces e afectos. A Casa da Criança pretende dar aos meninos um ambiente o mais familiar possível bem como a definição de um projecto de vida que corresponda ao superior interesse de cada criança. É um longo trabalho de acompanhamento e atenção para que a condenação das mães seja um pouco menos nociva à vida dos filhos.
De Portugal viajamos até o Haiti. Aqui, visitamos um dos maiores campos para deslocados do sismo de Janeiro de 2010 em torno da capital, Port-au-Prince. No total, são quase 7 mil haitianos que vivem no campo de Corail Cesselesse, tentando pôr fim ao luto e recomeçar do zero. O testemunho da jovem Jaqueline de 22 anos, que hoje tem uma pequena mercearia no campo, é apenas um exemplo disso. O sismo levou-lhe a casa, o marido abandonou-a e a filha nasceu com uma deficiência na perna, o que torna a sua vida no campo ainda mais difícil. Mas Jaqueline não desiste. É uma resistente, tal como os 680 mil haitianos que dois anos depois do sismo ainda vivem em campos para deslocados. A nossa visita pelo campo de Corail mostra-nos ainda que as mulheres e as crianças haitianas são as maiores vítimas da catástrofe que deixou o país em escombros. Mais vulneráveis a abusos físicos e sexuais, acabam desprotegidas sobretudo quando anoitece e a falta de iluminação nos campos as transforma em presas fáceis dos homens.