CARLOS QUINTAS, por João Carlos Callixto

2 Fev 1977 - "O Teu Lugar"

Carlos Quintas é conhecido do grande público como actor, mas menos recordarão a sua carreira como cantor, com vários discos editados entre a segunda metade dos anos 70 e a primeira metade da década seguinte. Mais surpreendente para alguns, eventualmente, será a sua co-autoria em “Dai-Li-Dou”, a canção vencedora do Festival RTP de 1978, com música de Vítor Mamede e interpretação dos Gemini.

Mas muito antes do “papagaio voar”, já Carlos Quintas se entregava à canção de forma séria. Em Angola, em 1971, recebe o prémio de interpretação no Festival da Canção de Luanda, prémio que repete dois anos depois no mesmo certame, sendo que dessa vez também se sagra vencedor. A canção premiada, “O Feitiço de Tinta”, tinha letra do jornalista Carlos Castro e música do maestro ovarense António Redes Cruz, não tendo no entanto chegado a ser publicada em disco.

Se a aventura no teatro começara já em Angola, é ao regressar à então metrópole, em 1975, que Carlos Quintas surge a encabeçar o elenco do musical “Godspell”, que subiu com êxito à cena no Teatro Villaret. Aí, estão vários outros novos talentos, como Alexandra, Joel Branco, Rita Ribeiro ou Vera Mónica - todos eles com carreiras mais ou menos longas na canção e no disco.

“O Teu Lugar” marca precisamente o início do percurso discográfico em nome próprio de Carlos Quintas, que assina contrato com a multinacional Phonogram. Na etiqueta Philips, é então publicado o single com esta canção (com letra do cantor e música do holandês Jan van Dijck), trazendo no lado B “Teatro” (desta vez, com música de Tozé Brito). Os arranjos e a produção desta tentativa de revitalização da canção ligeira couberam ao escocês Mike Sergeant, já radicado entre nós desde finais da década de 1960.

Tozé Brito e Mike Sergeant voltam a marcar presença no disco seguinte, “Um Nome Isabel”, ainda de 1977. A canção-título é da autoria de ambos, assinada com os pseudónimos A. Correia e M. Singer, surgindo no lado B “De Boina e Trompete”, que juntava Carlos Quintas ao também cantor Luís Arriaga (assinando como Jim Larriaga, curiosamente o nome de um intérprete francês da mesma época).

Ao terceiro disco, chegou o sucesso maior para Carlos Quintas. Escolhendo duas canções clássicas de um dos grandes compositores da canção ligeira nacional, Nóbrega e Sousa, as novas orquestrações couberam desta vez a Thilo Krasmann, que já há mais de vinte anos dava cartas na nossa música. “Vocês Sabem Lá” e “De Degrau em Degrau” são duas canções do mesmo ano de 1958 (exactamente vinte anos antes do disco de Carlos Quintas) e tinham sido interpretadas originalmente com sucesso por Maria de Fátima Bravo e por Maria de Lourdes Resende. De certa forma, contribuíram na época para uma renovação dentro da canção ligeira, algo que tem paralelismos no pós-25 de Abril com a vitória de Manuela Bravo no Festival RTP da Canção de 1979, com “Sobe Sobe Balão Sobe”, também de Nóbrega e Sousa.

Em disco, Carlos Quintas trocaria a Phonogram pela Valentim de Carvalho no início da nova década de 1980, aí publicando várias canções originais de Carlos Paião e também da dupla José Jorge Letria - Carlos Mendes. Até hoje, no entanto, encontra-se por reunir a sua obra gravada, que inclui ainda participações em discos infantis e em bandas sonoras de outros musicais.