Clima. Norte-americanos congelam e australianos derretem

por Cristina Sambado - RTP
Eduardo Munoz (E) /Stefica Bikes (D) - Reuters

A Austrália está a registar temperaturas máximas de 48,9 graus positivos, 14 graus mais altas do que o normal para a época. No Midwest americano, os termómetros registam temperaturas mais baixas do que na Antártida e o frio extremo já provocou mais de 20 mortos. Ambos os fenómenos estão associados às alterações climáticas.

A 24 de janeiro, a cidade australiana de Adelaide registou o dia mais quente, com os termómetros a chegarem aos 46,6 graus. Segundo os serviços de meteorologia australianos, o mês de janeiro registou temperaturas “sem precedentes”. Com temperaturas superiores a 40 graus, o corpo humano começa a ficar exausto pelo excesso de calor. As autoridades de saúde apelaram para que a população evite o exercício físico e a manter-se hidratada.


Michael Grose, cientista do Centro de Ciências Climáticas, alertou, na CNN, para que estas altas temperaturas podem ser apenas o começo dos problemas no país e que até 2100 “vão aumentar os dias quentes”.

As previsões dos serviços de meteorologia apontam para que entre fevereiro e o fim de abril as temperaturas continuem 70 por cento acima da média.

Desde 1910 que as temperaturas médias na Austrália aumentaram um grau, o que tem contribuído para ondas de calor e secas graves cada vez mais frequentes. Oito dos dez anos mais quentes (de que há registo) aconteceram nos últimos 13 anos.

Num vídeo que se tornou viral nas redes sociais, vê-se dois fazendeiros, junto ao rio Darling, em Nova Gales do Sul, a retirar da água dois peixes em decomposição devido às altas temperaturas registadas.



Segundo as autoridades, que culpam a seca prolongada e as alterações climáticas, os peixes sufocaram por falta de oxigénio na água.

No norte da Austrália foram encontrados corpos de cavalos selvagens junto a um buraco de água que estava seco. Nos Estados de Vitória, Nova Gales do Sul e Queensland os morcegos morreram, depois de caírem das árvores.

A vaga de calor que assola a Austrália desencadeou uma seca severa e incêndios florestais destruidores, que já devastaram milhares de hectares.
Norte-americanos batem o dente

Nos Estados Unidos, 14 Estados estão em alerta devido ao vórtice polar, com os termómetros a chegarem aos 40 graus negativos. Em algumas localidades do Dacota do Norte e do Sul, de Wisconsin e Minnesota, a sensação térmica chegou a alcançar os 56 graus negativos.

A vaga de frio que está a afetar o Midwest americano já provocou mais de 20 mortos. A maioria das mortes foi provocada por acidentes rodoviários devido à neve e ao gelo nas estradas.

Segundo as autoridades, também houve dezenas de feridos em vários choques em cadeia provocados pela acumulação de gelo nas estradas.

As escolas continuam encerradas, as entregas de correio suspensas e vários voos foram cancelados. Para possibilitar a circulação ferroviária os carris estão a ser aquecidos. Segundo a CNN, em alguns estados está “mais frio que no Alasca”, o território norte-americano mais próximo do Pólo Norte.

Além dos alertas a que tem que obrigatoriamente andar no exterior, as autoridades estão a alertar os senhorios de que podem enfrentar multas de 500 dólares por dia caso não assegurem que os sistemas de aquecimento estão a funcionar adequadamente.

Os serviços de saúde alertam os habitantes para o risco de quedas e para a possibilidade de haver o congelamento de partes do corpo que podem levar a amputações. Estar sem luvas durante um ou dois minutos pode levar ao congelamento dos dedos.

No Midwest, os hospitais registaram dezenas de pacientes tratados por sintomas de congelamento.Várias cidades criaram planos de emergência para os sem-abrigo.

Em Chicago, a cidade mais populosa do Estado do Illinois, os termómetros desceram até aos 29 graus negativos. A temperatura máxima não ultrapassou os 14 graus negativos.

As previsões apontam para que nesta sexta-feira as temperaturas comecem a subir, trazendo condições mais amenas. Na quinta-feira, vários meteorologistas afirmaram na CNN que “hoje é o último dia de frio extremo”.

O frio extremo que está a afetar vários Estados norte-americanos foi causado por um vórtice polar no ártico.
Alterações climáticas

Para a porta-voz da Organização Meteorológica Mundial, Claire Nullis, as temperaturas extraordinariamente quentes que se fazem sentir na Austrália e o frio polar que está a afetar alguns Estados norte-americanos “são consistentes com os cenários previstos para as alterações climáticas”.

Alguns cientistas apontam para a possibilidade de que o aquecimento global tenha criado correntes quentes que perturbam o vórtice polar.

Segundo Claire Nullis, “a mudança climática não é a única causa para estes eventos extremos”, porque “as mudanças na intensidade ou frequência dos extremos também são causadas pelo fator humano”.

Em junho de 2018, um relatório da Organização Meteorológica Mundial alertava para o risco de inundações, ondas de calor e outras alterações climáticas extremas “como resultado da aceleração das alterações climáticas”.

“O que estamos a assistir são cenários de alterações climáticas”, frisou.
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