Executivo da Junta de Freguesia de Alqueidão da Serra: Silvia Carvalho, Filipe Batista e Patrícia Santos (da esquerda para a direita)

PSD "nem tentou" e PS vive "momento complicado". A história da vitória previsível em Alqueidão da Serra

A campanha está a começar, mas há candidatos que concorrem sem adversários. Na freguesia de Alqueidão da Serra, em Porto de Mós, o ainda presidente independente que sucedeu há 12 anos ao primo - que é do PS - atingiu o limite de mandatos. A oportunidade não é aproveitada pelos partidos.

Alqueidão da Serra oferece uma aula de história aos aficionados e aos curiosos pela época dos Romanos. Quem vem pelas povoações de Demó e Bouceiros, e que pelo meio encontra uma pedreira, vai dar de caras com a Estrada Romana do Alqueidão.

“É um dos maiores troços da Península Ibérica”, assinala Filipe Batista, (ainda) presidente da Junta da Freguesia. São uns desnivelados 100 metros que têm a seu lado um parque de merendas onde o executivo se dá a conhecer à Antena 1.

Filipe Batista encabeça desde 2013 o movimento independente “Juntos Fazemos Alqueidão da Serra” (JFAS). Consigo teve Silvia Carvalho no executivo e, desde 2017, Patrícia Santos. O que “nasceu quase como uma brincadeira e um desafio”, descreve Filipe, já resultou em três vitórias para a autarquia - duas sem adversários.

 Filipe Batista é professor há 27 anos e passou também a ser autarca nos últimos 12 anos

“Às vezes digo a brincar que nós não deixamos mais ninguém” candidatar-se, mas depois rejeita que haja falta de iniciativa: “Nestes últimos anos nasceram mais quatro associações na nossa freguesia, penso que é sinal de que as pessoas têm vontade em fazer alguma coisa pela sua freguesia”.

No associativismo, Filipe jogou futebol no Centro Cultural e Recreativo de Alqueidão da Serra. Foi lá que ganhou a alcunha de Jardel, disseram dois moradores à Antena 1 ao percorrer algumas ruas. “Marcava uns golitos”, reconheceu o autarca. 
Sucessão de primos
O futebol era um passatempo, mas os 12 anos como presidente da junta foram um “hobby sério”. As aulas de eletrónica e automação sempre foram a ocupação principal. Filipe Batista soma 27 anos como professor, os últimos oito no ensino profissional do Agrupamento de Escolas de Ourém.

“A gestão da junta faz-se muito noturnamente”, e dá a semana passada como exemplo, em que saíam da junta depois das 21 horas.

Chegadas as eleições autárquicas de 2025, Filipe Batista atingiu o limite de mandatos. Ainda assim vai manter-se no executivo e passa a tesoureiro, enquanto Sílvia continua como secretária.

Patrícia Santos passa a encabeçar a lista. É praticamente certo que se torne presidente, já que o movimento JFAS é a única candidatura à Assembleia de Freguesia de Alqueidão da Serra - é uma das 335 freguesias nesta situação, uma lista que a Antena 1 noticiou na semana passada.

Nem mesmo esta mudança leva PS e PSD a tentar uma candidatura. As duas estruturas locais reconhecem a notoriedade de Filipe Batista, ao ponto de o PSD não querer desafiar o movimento mesmo com a mudança de rosto.

“Nem sequer tentámos”, assume à Antena 1 o presidente da Câmara Municipal de Porto de Mós e recandidato Jorge Vala. O PSD desapareceu dos boletins de votos na freguesia em 2013, mesmo vencendo a câmara desde 2017. Mas já este ano, em 2025, Jorge Vala diz que "sentimos-nos bastante confortáveis com o atual executivo", rejeitando que isso signifique um apoio expresso ao movimento JFAS.

"É uma equipa muito representativa da vontade do povo", referindo também que "haveria algumas pessoas que nós veríamos com bons olhos para serem nossos candidatos", mas o candidato pelo PSD à câmara diz que sentem-se bem na lista. "Entendo isto com muita naturalidade" em aldeias rurais, resume.
 Excerto de declarações ao telefone de Jorge Vala à Antena 1
Já Rui Marto foi antecessor de Filipe Batista e são primos. O antigo presidente da Junta entre 2009 e 2013 e atual candidato do PS à Assembleia Municipal de Porto de Mós diz que Filipe é “abrangente” e que consegue chegar a vários “flancos políticos”.

“Muitas das pessoas que potencialmente podiam apresentar uma candidatura já estão num movimento independente e isso dificulta-nos muito a vida”, afirma.

A este problema junta outro fator: o abalo que o PS sofreu em maio.

“Desde as últimas eleições legislativas o PS já estava mal, pior ficou”, sublinha Rui Marto, pelo que “dar a cara pelo partido numa altura destas tem sido muito complicado”.
 Excerto das declarações de Rui Marto à Antena 1Bastam uns panfletos e uma apresentação
Sem oposição, Patrícia Santos avança confortavelmente. Contabilista de profissão, nasceu em Mulhouse, no nordeste de França - esta é, aliás, uma lista liderada por lusodescendentes, já que Filipe é da região de Paris e Silvia de Mainz, da Alemanha. Todos vieram para Portugal em criança.

“Aqui na freguesia conhecemo-nos todos praticamente uns aos outros”, explica Patrícia, o que também gera situações curiosas na política local.

Em 2013, Patrícia foi convidada para fazer parte do movimento de Filipe Batista, mas já tinha aceite o convite do PS, naquela altura encabeçada por Fernando Sarmento (presidente da Junta entre 2002 e 2009).

O candidato tentava voltar à autarquia, depois de a ter deixado em 2009 para dar lugar ao também socialista Rui Marto – que é primo do atual presidente Filipe Batista. 

Neste puzzle político, Patrícia Santos foi oposição de Filipe entre 2013 e 2017: “ Eu era daquela oposição que falava muito e que às vezes dava um bocadinho nas orelhas”, explica, o que a faz tentar na brincadeira adivinhar o pensamento do executivo “temos que acabar com a oposição, vamos puxá-la para o nosso lado”.

Patrícia Campos estreia-se este ano na liderança de uma lista autárquica

Depois de se ausentar de listas durante quatro anos, entra no executivo em 2021 para colaborar na renovação do parque eólico que preenche a paisagem da freguesia - são 15 torres ao todo, indica a Junta de Freguesia.

A campanha oficial começa esta terça-feira e só nesta altura a equipa vai pôr em marcha a divulgação da candidatura. Para uma freguesia com mais de 1.500 habitantes, haverá panfletos e uma apresentação das linhas gerais para os próximos quatro anos.

Nas ruas de Alqueidão da Serra por onde a Antena 1 passou, há quem estranhe que não exista uma segunda candidatura, mas também reconhecem o envolvimento de Filipe Batista com a terra.

Sobre a nova candidata, o nome ainda não está na ponta da língua: “Eu acho que é uma senhora Patrícia”, diz Garcia Carvalho na Rua dos Fornecos, enquanto uns metros à frente há quem diga “não sei qual é” a candidata.
Reportagem Antena 1 em Alqueidão da Serra

No concelho de Porto de Mós, há outra freguesia onde só há uma candidatura. Em Calvaria de Cima, antecipa-se a vitória do PSD.