Brasil. Gangues impõem recolher obrigatório para evitar contágio da Covid-19

por RTP
Pilar Olivares - Reuters

Nas favelas brasileiras, onde está aglomerada uma parte significativa da população que vive em condições pouco higiénicas, os traficantes de droga estão a obrigar os habitantes a não sair à rua depois das 20h00 de forma a travar a propagação do novo coronavírus. Os habitantes dizem que os gangues estão a fazer o trabalho do Governo. O presidente Bolsonaro, por seu lado, desvalorizou a epidemia ao afirmar que não passa de um "resfriadinho".

Depois de ter sido confirmado o primeiro caso de infeção por Covid-19 na favela Cidade de Deus, muitas organizações criminosas têm estado a impor um recolher obrigatório em diversas favelas para evitar uma propagação da Covid-19.

"Venho aqui a pedido da diretoria das áreas 15, 13, AP e Karatê. Iremos fazer toque de recolher porque ninguém está levando a sério. Quem estiver na rua de sacanagem ou batendo perna vai receber um corretivo e vai ficar de exemplo. É melhor ficar em casa de molho. O recado já foi dado", escreve a Revista Veja ao citar uma mensagem sonora que tem circulado pelas favelas.

Os líderes do Comando Vermelho, uma das maiores organizações criminosas do Brasil, têm estado a ordenar aos residentes da favela Cidade de Deus que permaneçam dentro de casa depois das 20h00 e no Morro dos Prazeres, membros de gangues têm alertado os moradores para circularem apenas em grupos de dois.

Noutras favelas como Pavão-Pavãozinho em Copacabana, Cantagalo no Ipanema, Vidigal e Rocinha, uma das maiores favelas da América Latina e onde há mais de uma centena de casos suspeitos, também foi imposto um recolher obrigatório.

“Estamos a impor um toque de recolher obrigatório porque ninguém está a levar a sério o coronavírus. É melhor ficar em casa e relaxar. A mensagem foi dada”, dizem os membros dos grupos criminosos enquanto andam pela favela Cidade de Deus.

"Queremos o melhor para população. Se o Governo não tem capacidade de dar um jeito, o crime organizado resolve"
, indica uma outra mensagem.

Esta quarta-feira, o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, disse que a Covid-19 não passa de um "resfriadinho" e que escolas e comércio não deveriam ser fechados. A população diz, por isso, que os traficantes estão a fazer o trabalho do Governo. “Os traficantes estão a fazer isso porque o governo está ausente. Somos invisíveis para as autoridades”, disse um morador a The Guardian.

Em Santa Marta, uma favela que fica na penumbra do Cristo Redentor, os traficantes distribuem sabão e deixam avisos perto das fontes de água na entrada da comunidade onde se lê “Por favor, lave as suas mãos antes de entrar na favela”.

“Acho que eles escreveram isto para os viciados que vêm para aqui comprar droga, para que não tragam o vírus”, disse um residente ao jornal britânico. “Mas não vai funcionar. As pessoas que moram no topo da favela, às vezes passam duas semanas sem água canalizada. Se as pessoas nem se conseguem alimentar, como devem manter-se limpas?”, questionou.
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