Covid-19. O Reino Unido pode evitar um regresso ao confinamento?

Os números de infeção pelo SARS-CoV-2 estão a aumentar drasticamente em alguns países da Europa ocidental, o que está a provocar novas restrições e confinamentos. Há receios de que o Reino Unido possa seguir-lhes exemplo?

Cristina Sambado - RTP /
Reuters

Há, no entanto, várias razões para acreditar que o Reino Unido possa escapar ao que se está a passar no continente europeu. E até pode estar numa melhor posição para resistir à pandemia de Covid-19 no inverno.

E porquê? Segundo especialistas ouvidos pela BBC, ao contrário do Reino Unido – e da Inglaterra em particular – muitos países da Europa mantiveram as restrições por mais tempo.

Enquanto a Inglaterra desconfinou em meados de julho, partes da Europa só o fizeram no outono e algumas mantiveram restrições rigorosas.

O Reino Unido foi atingido pela variante Alfa, mais infeciosa, e pela Delta antes dos outros países, o que significa que estava em posição de avançar com o desconfinamento antes dos restantes países europeus.


A lógica – juntamente com o benefício de acabar com restrições que prejudicavam a saúde – era a de que seria melhor sofrer o impacto da infeção no verão.

O aumento da propagação do SARS-CoV-2 seria mitigado pelo melhor clima, o que significa mais tempo ao ar livre, e evitava a crise no inverno, quando a pressão no sistema de saúde aumenta. Altos níveis de imunidade
Além disso, o Reino Unido, que já teve a vaga por que alguns países da Europa estão agora a passar, tem altos níveis de imunidade.

A distribuição de vacinas, particularmente entre os mais idosos e vulneráveis, que correm o risco de doença mais grave, e a imunidade natural à infeção levou a que seja provável que exista um grupo mais pequeno de pessoas vulneráveis ao vírus.

Investigadores da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres têm tentado quantificar a situação, analisando o que poderia acontecer no Reino Unido e a outros 18 países europeus.

Se todos fossem hipoteticamente expostos ao vírus, o Reino Unido teria, de longe, o menor número de pessoas a necessitar de hospitalização – 62 por 100 mil. Na Alemanha o número seria de 300 e na Roménia, país que está a tentar convencer a população a ser vacinada, seria de 800.

Segundo e especialista Lloyd Chapman, no início da vacinação o Reino Unido foi mais rápido e tem agora um maior número de pessoas a necessitarem da dose de reforço.

“Estamos a dar esse reforço às pessoas mais vulneráveis ao risco, na melhor época do ano – pois terão uma proteção mais elevada no inverno”, frisou.

No entanto, Chapman alerta que isso tem um preço – as altas taxas de infeção resultaram num maior número de doença grave e óbitos nos últimos meses do que muitos outros países do continente europeu.

“Podemos estar na posição mais forte – mas podemos ainda ver o dobro dos casos o que causaria problemas”,
alertou, frisando que o estudo não deve ser visto como uma garantia de que o Reino Unido escape ao inverno sem registar um aumento de casos.

No Reino Unido os níveis de infeção têm sido estáveis. Depois de uma subida acentuada no início do verão, que atingiu o pico em meados de julho, as novas infeções têm vindo a oscilar, com pequenos aumentos a serem seguidos por quedas semelhantes.

Não há mais nenhum país da Europa que tenha registado níveis de infeção tão estáveis, com poucas restrições em vigor.

Em vez disso, quando os outros países virem o número de casos a aumentar voltaram a impor restrições. É o que está a acontecer em algumas zonas da Europa Ocidental e que vem na sequência do que aconteceu na Europa Oriental no início do outono.

A Roménia, por exemplo, teve um aumento acentuado de casos em setembro e outubro e reagiu com a imposição de um recolher obrigatório noturno, o fecho das escolas e a obrigação de certificado de vacinação ou teste negativo para acesso aos locais públicos.

Os países que tiveram mais problemas com a chegada do frio foram os identificados pela Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres como tendo o maior número de pessoas vulneráveis. População desempenha papel importante
Mas a imunidade, por si só, não explica porque é que o Reino Unido - e em particular a Inglaterra - tem visto taxas tão estáveis, afirma o professor Graham Medley, que acredita que é mais complexo do que isso.
 
Penso que estamos a ver a população a desempenhar um papel importante”, realçou.

Segundo Graham Medley, “o Governo passou a gestão do risco à população – e nós conseguimos fazer isso melhor do que outros países”.

A grande questão é saber se a atual situação se vai manter durante todo o inverno. Medley considera que é “delicadamente” equilibrado, mas com cada semana que passa as hipóteses estão a melhorar.
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