Filipinas oferecem enfermeiros para trabalho externo em troca de vacinas

por Inês Moreira Santos - RTP
Eloisa Lopez - Reuters

O Governo das Filipinas anunciou que vai permitir que milhares de profissionais de saúde, principalmente enfermeiros, emigrem para trabalhar no Reino Unido e na Alemanha se estes países concordarem em doar vacinas contra a Covid-19.

As Filipinas são um dos países asiáticos com mais casos de Covid-19, mas decidiram levantar a probição do número de profissionais de saúde que emigram, embora mantenham o limite de cinco mil por ano, com o objetivo de chegar a acordo com o Reino Unido para trocar os serviços de enfermeiros e médicos por vacinas contra a Covid-19.

O anúncio partiu de Alice Visperas, diretora do gabinete de assuntos internacionais do Ministério filipino do Trabalho, que garantiu que o país asiático estaria disposto a considerar a redução da proibição do envio de profissionais de saúde para o estrangeiro em troca de vacinas do Reino Unido e Alemanha.

"Estamos a considerar o pedido de levantamento do limite de emigração, sujeito a acordo", disse Visperas à Reuters.

O objetivo será inocular trabalhadores que saem do país e centenas de milhares de repatriados filipinos. Os enfermeiros, recorde-se, estão entre os milhões de filipinos que trabalham no exterior, fornecendo mais de 30 mil milhões de dólares (24,7 mil milhões de euros) por ano em remessas "vitais" para a economia do país.

Segundo dados do Governo filipino, em 2019 cerca de 17 mil enfermeiros do país assinaram contratos de trabalho no exterior.
Reino Unido sem interesse no acordo filipino
O Ministério britânico da Saúde disse que, para já, não estava interessado em tal acordo e que a prioridade passaria por usar as vacinas no mercado interno. O Reino Unido acrescentou, no entanto, que que pode vir a compartilhar o excedente de vacinas no futuro.

"Não temos planos para que o Reino Unido chegue a um acordo sobre uma vacina com as Filipinas, vinculado a um maior recrutamento de enfermeiros", disse uma porta-voz do Ministério da Saúde, citando a promessa do primeiro-ministro Boris Johnson de compartilhar vacinas no final do ano. "Confirmamos que compartilharemos quaisquer vacinas excedentes no futuro - por exemplo, por meio do grupo internacional da COVAX".

O Governo britânico tem 11 mil enfermeiros a mais a trabalhar no Serviço Nacional de Saúde (NHS) do que tinha no ano passado. O Ministério da Saúde do país afirmou que, embora fosse grato aos milhares de filipinos que trabalham para o NHS, não precisava de trocar vacinas por mais profissionais.

O Reino Unido é o país com o sexto maior número de mortes devido à Covid-19 em todo o mundo e também um dos que sofreu dos maiores impactos económicos da pandemia. Já a Alemanha tem o décimo maior número de infeções em todo o mundo.

Ambos os países já vacinaram um total de 23 milhões de pessoas, mas Filipinas ainda nem iniciaram a sua campanha para imunizar 70 milhões de adultos, ou pelo menos dois terços dos seus 108 milhões de habitantes. O país asiático espera receber o primeiro lote de vacinas ainda esta semana, doado pela China, mas não serão doses suficientes.

Embora os enfermeiros filipinos tenham lutado para suspender a limitação do número de trabalhadores autorizados a exercer no estrangeiro, a proposta de troca pelo governo de Rodrigo Duterte não foi bem aceite por alguns profissionais de saúde.

"Estamos indignados com a forma como enfermeiros e profissionais de saúde estão a ser tratados pelo governo como objeto ou produto de exportação",
disse à Reuters Jocelyn Andamo, secretária-geral da Filipino Nurses United.
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