Madrid ignora posição do Governo central sobre restrições

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Ministro espanhol da Saúde, Salvador Illa Emilio Naranjo - EPA

Depois de solicitar ajuda “urgente” ao Governo central para enfrentar a pandemia, a Comunidade de Madrid rejeitou agora a recomendação do Ministério da Saúde de confinar toda a cidade. Ao invés, o executivo regional anunciou a extensão das medidas de restrição de mobilidade somente a oito novas zonas de Madrid.

As divergências entre o Governo central e o executivo regional de Isabel Díaz Ayuso voltaram a intensificar-se depois de Salvador Illa, ministro espanhol da Saúde, numa atitude sem precedentes, ter participado numa conferência de imprensa onde informou que Ayuso desconsiderou as recomendações do ministério para controlar a grave situação pandémica na região de Madrid.

Esta sexta-feira, a presidente do Governo regional de Madrid, Días Ayuso, anunciou a ampliação das medidas de restrição a oito novas zonas sanitárias na área metropolitana de Madrid, passando assim a ser 45 as áreas com restrições à mobilidade dos cidadãos. Mais de um milhão de habitantes na região ficaram afetados. As medidas estipulam que não é permitida a entrada ou saída destas zonas, exceto para ter acesso a bens essenciais ou ir trabalhar, a lotação nos espaços fechados é reduzida para 50 por cento e os estabelecimentos comerciais e hoteleiros devem fechar às 22h00.

No entanto, Illa esclarece que o Ministério da Saúde propôs ampliar as restrições a toda a cidade de Madrid e a áreas com uma incidência superior a 500 novos casos por 100 mil habitantes, e não de mil novos casos, como foi feito por Días Ayuso. O Governo sugeriu ainda a proibição do consumo em bares em toda a região e a restrição da capacidade de lotação para 50 por cento nas esplanadas de bares e restaurantes. A população também foi instada a “evitar qualquer deslocamento desnecessário”.

Para Illa, estas medidas são “o mínimo que deve ser feito para controlar a situação”, considerando insuficientes aquelas que foram anunciadas pela presidente do Governo regional de Madrid.
É “essencial que andemos de mãos dadas”
As declarações de Salvador Illa voltaram a abalar as frágeis relações entre as duas administrações, depois de uma aparente trégua política alcançada na altura em que o vice-presidente da comunidade de Madrid, Ignacio Aguado, enviou um pedido de ajuda “urgente” e apelou a um maior envolvimento do Governo de Sánchez para travar o avanço da pandemia.

O presidente do Conselho Geral das Associações Médicas, Serafín Romero, confessou estar “espantado” com estas “divergências políticas”. “Não é aceitável que voltemos a uma situação que não ajuda a combater a pandemia”, afirmou, considerando necessário “criar um comando único na Saúde Pública, bem como uma comissão de especialistas independentes para liderar o caminho”.

“Parece-me essencial que andemos de mãos dadas”
, disse, por sua vez, o conselheiro-adjunto regional da Saúde Pública, Antonio Zapatero. “Vou continuar a ter o prazer de trabalhar neste espaço de colaboração, mas deve ser isso mesmo, um espaço de colaboração, e não um espaço de imposição”, sublinhou Zapatero, acrescentando: “Na semana passada decidimos dar um passo em frente. Nada aconteceu de segunda até ontem, quinta-feira, portanto não consideramos que seja necessário tomar mais medidas acima destas, de momento. Volto a reclamar critérios homogéneos em todo o Estado espanhol”.

O executivo de Días Ayuso já reagiu às acusações do Ministério da Saúde, rejeitando qualquer “imposição” governamental.

Na rede social Twitter, a presidente do governo regional de Madrid defende que as medidas anunciadas “são as adequadas”. “Mais do que confinar Madrid, a nossa missão é ajudar as pessoas”, sublinha Ayuso.

Ayuso já tinha alertado que é preciso “evitar a qualquer custo o desastre económico” de um confinamento completo, considerando que estão ainda "a tempo de evitar" a propagação dos surtos detetados em algumas zonas a toda a comunidade madrilena.

A Comunidade de Madrid, com 6,6 milhões de habitantes, é o epicentro da propagação da Covid-19 em território espanhol, com 210.768 casos confirmados de infeção por Covid-19 e 9.190 óbitos.

Na quinta-feira, Espanha registou mais de dez mil novos casos, ultrapassando o total de 700 mil infetados. O país contabilizou ainda mais 84 óbitos relacionados com a Covid-19, aumentando o total de mortes para 31.118.
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