Reino Unido dá segundo golpe a Espanha. Viagens a Canárias e Baleares desaconselhadas

por Joana Raposo Santos - RTP
Prevê-se que as decisões britânicas sejam motivo de cancelamento de férias de milhares de pessoas. Juan Medina - Reuters

Dois dias depois de ter imposto quarentena obrigatória para quem chegue ao Reino Unido vindo de território espanhol, o que mereceu críticas por parte de Madrid, o Governo britânico desaconselhou agora viagens a toda a Espanha, incluindo ilhas Canárias e Baleares, onde não têm sido registados casos de Covid-19.

Quando soube que o Reino Unido tinha excluído Espanha da lista de países seguros, o Governo de Pedro Sánchez garantiu ter os surtos controlados e argumentou que muitas regiões espanholas, nomeadamente as ilhas, eram “territórios muito seguros” por não registarem surtos de Covid-19 há várias semanas.

Agora, apesar da contestação de Madrid, o Executivo de Boris Johnson desaconselhou qualquer viagem não essencial à totalidade do território espanhol, incluindo as ilhas Canárias e as Baleares, justificando a decisão com os “riscos” que a pandemia apresenta nesse país.


“Este conselho baseia-se nas provas existentes sobre o aumento de casos de Covid-19 em muitas regiões, particularmente em Aragão, Navarra e Catalunha, que incluem as cidades de Zaragoza, Pamplona e Barcelona”, assinalou o Ministério britânico dos Negócios Estrangeiros em comunicado.

Tivemos em consideração a situação geral dos britânicos que viajam para e desde as Baleares e as Canárias, incluindo o impacto da imposição de uma quarentena quando regressam ao Reino Unido, e concluímos que devemos recomendar aos nossos cidadãos que evitem qualquer viagem à totalidade de Espanha”.

O Governo britânico disse ainda não aconselhar quem já se encontra em Espanha a sair desse país neste momento, recomendando aos turistas britânicos em território espanhol que “sigam os conselhos das autoridades locais sobre como melhor se protegerem a si mesmos e aos outros, seguindo ainda qualquer medida que esse país ponha em prática para controlar o vírus”.

A decisão surge depois de, na segunda-feira, o Governo espanhol e os governos autónomas das Baleares e das Canárias terem afirmado estar em negociações com o Reino Unido para a criação de um corredor turístico seguro que permitisse aos turistas vindos dessas regiões escapar à quarentena no regresso a casa. Após o mais recente anúncio de Londres, essa opção parece menos provável.

Em entrevista a uma estação televisiva espanhola, o primeiro-ministro Pedro Sánchez classificou de “desajustada” a decisão do Reino Unido de retirar Espanha da lista de países seguros e anunciou que estão em curso negociações para que a mesma seja revogada.

As decisões do Reino Unido estão a ser desajustadas. Muitos territórios espanhóis possuem uma incidência acumulada de contágio inferior, inclusivamente, à média europeia, e também à do Reino Unido”, defendeu o chefe de Governo.
Quarentena poderá passar de 14 para dez dias
Para além da nova recomendação britânica, mantém-se a decisão de quarentena obrigatória para todos os que cheguem ao Reino Unido vindos de Espanha. Essa quarentena, que foi anunciada como tendo uma duração de 14 dias, poderá, porém, ser reduzida a dez dias.

Segundo o britânico The Telegraph, ministros do Executivo de Boris Johnson estão a finalizar planos que reduzirão o número de dias de quarentena a que estão obrigadas as pessoas vindas de Espanha e que trarão simultaneamente uma nova política de testagem para quem chegue de países de risco elevado.

As pessoas que venham desses países poderão passar a ser testadas oito dias após a aterragem em terreno britânico e, se testarem negativo, poderão terminar a quarentena dois dias depois dos resultados. Isto significa que a quarentena é reduzida de 14 para dez dias.
Bruxelas apela à "não discriminação"
As medidas tomadas por Londres mereceram, entretanto, uma reação de Bruxelas. “Se um Estado-membro decidir aplicar a quarentena no regresso de determinadas regiões, [...] essa medida é possível, mas esperamos que seja respeitada a regra da não discriminação entre regiões com a mesma situação epidemiológica”, declarou o porta-voz da Saúde do executivo comunitário, Stefan De Keersmaecker.

O responsável insistiu que o importante é que, “quando um Estado-membro decida impor restrições, use a mesma abordagem relativamente a outros países ou regiões na mesma situação epidemiológica”, acrescentando que a “melhor maneira” de lutar contra a Covid-19 é apostar na testagem, na deteção precoce, no rastreamento de contactos e na “coordenação entre países”.
Prevê-se que as decisões britânicas sejam motivo de cancelamento de férias de milhares de pessoas.

Mas não só o Reino Unido tomou medidas de precaução quanto ao país ibérico. Depois de França, Noruega e Bélgica terem desaconselhado viagens até Espanha, foi agora a vez da Alemanha de seguir esse exemplo.

“Desaconselhamos qualquer viagem turística desnecessária até às comunidades autónomas de Aragão, Catalunha e Navarra devido ao elevado número de infeções e às quarentenas locais”, lê-se no site da Ministério alemão dos Negócios Estrangeiros. "Há atualmente novos surtos regionais" nas três regiões, refere a nota.

Neste momento, a média do território espanhol aponta para 39,4 casos de Covid-19 por cada 100 mil habitantes, de acordo com o Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças. No Reino Unido, por outro lado, esse número fixa-se nos 14,6.

Na segunda-feira, Espanha comunicou que tinha registado 855 novos contágios pelo novo coronavírus nas últimas 24 horas, mais de metade dos quais, 474, diagnosticados na comunidade autónoma de Aragão.

A maioria de novos casos registados em Espanha está concentrada em algumas regiões, sendo as mais preocupantes as comunidades autónomas de Aragão (risco muito alto, com 237,9 casos por cada 100 mil habitantes), Catalunha e Navarra (risco alto, com 111,6 e 110,5 casos por cada 100 mil habitantes, respetivamente).

c/ agências
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