"Surtos perfeitamente controlados". Espanha critica imposição de quarentena pelo Reino Unido

por Joana Raposo Santos - RTP
A média do território espanhol aponta para 39,4 casos de Covid-19 por cada 100 mil habitantes, quando no Reino Unido esse número se situa em 14,6. Albert Gea - Reuters

O Governo de Espanha garante que todos os surtos de Covid-19 no país estão identificados, isolados e controlados, opondo-se por isso à recente decisão do Reino Unido de impor quarentena aos viajantes vindos de qualquer região espanhola. Muitos turistas britânicos também se opõem, criticando o Executivo de Boris Johnson pela decisão que consideram repentina e, em algumas circunstâncias, desnecessária. O aumento exponencial de infeções está, no entanto, a preocupar a Europa, com vários países a desaconselhar viagens para Espanha.

Nas últimas semanas, marcadas pelo desconfinamento, Espanha observou o aparecimento de mais de uma centena de surtos por todo o país. As regiões mais afetadas são as comunidades autónomas de Aragão, Catalunha e Navarra, onde os surtos fazem aumentar a cada dia a taxa de incidência.

Ainda assim, a decisão do Reino Unido de excluir Espanha da lista de países seguros indignou o país. “Espanha é segura para espanhóis e para turistas”, defendeu já a ministra espanhola dos Negócios Estrangeiros. “Os surtos estão perfeitamente controlados”, assegurou Arancha González Laya, acrescentando que os mesmos eram expectáveis depois de levantadas as restrições.

“Metade dos casos positivos de Covid-19 em Espanha são assintomáticos, o que revela claramente os enormes esforços que todas as regiões do país estão a levar a cabo para testar a doença nos seus cidadãos”, argumentou a responsável do Executivo de Pedro Sánchez.

Segundo a ministra, regiões espanholas como as Canárias ou as Ilhas Baleares, populares entre turistas britânicos, não registaram qualquer surto nas últimas semanas, pelo que são “territórios muito seguros” e deveriam ser excluídos da lista do Reino Unido.

O país vizinho critica particularmente o facto de a medida entrar em vigor apenas algumas horas depois de ter sido anunciada, no domingo, apanhando desprevenidos viajantes, agências de viagens e companhias aéreas, quer em Espanha como no Reino Unido.

“A medida está a lançar os planos de viagem de milhares de britânicos para o caos”, criticou a companhia aérea britânica British Airways. A Tui, maior operadora turística do Reino Unido, cancelou todas as férias em território espanhol até pelo menos 9 de agosto.
Turistas britânicos lançam críticas
Os próprios turistas britânicos que estão em Espanha ou que tinham viagem marcada para lá também se estão a queixar da medida adotada pelo seu país, especialmente por este não a ter anunciado com a antecedência suficiente para que pudessem alterar planos e evitar a quarentena.

“Temos políticos preguiçosos que tomaram medidas tarde e mal”, defendeu ao El Pais um dos turistas britânicos que no domingo se encontravam no aeroporto de Palma, em Maiorca, para regressarem ao país natal. “[O Governo britânico] impôs uma medida igual para toda a Espanha quando, em Maiorca, há muito menos contágios do que no Reino Unido”.

Deviam ter avisado mais cedo, nem que fosse 72 horas antes, para que quem está de férias decidisse o que queria fazer: voltar a casa ou não. Tive de escrever a todos os meus clientes para lhes dizer que agora vou estar 14 dias de quarentena”, lamentou ao El Pais outro turista.

O ministro britânico dos Negócios Estrangeiros, Dominic Raab, defendeu, porém, esta mudança “repentina”, que obriga todas as pessoas vindas de Espanha a permanecerem em quarentena durante 14 dias.

O Reino Unido teve em consideração o facto de Espanha ter visto o número de novos casos de infeção triplicar em apenas duas semanas, tendo registado mais de 900 contágios na última sexta-feira e elevando para 272 mil o total de casos desde que a pandemia teve início.
Europa atenta à situação espanhola
Neste momento, a média do território espanhol aponta para 39,4 casos de Covid-19 por cada 100 mil habitantes – número semelhante ao de Portugal, que regista 39,0 -, de acordo com o Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças. No Reino Unido, por outro lado, esse número fixa-se nos 14,6.

A maioria de novos casos registados em Espanha está concentrada em algumas regiões, sendo as mais preocupantes as comunidades autónomas de Aragão (risco muito alto, com 237,9 casos por cada 100 mil habitantes), Catalunha e Navarra (risco alto, com 111,6 e 110,5 casos por cada 100 mil habitantes, respetivamente).

Espanha ocupa, assim, o quinto lugar na lista de países com maior taxa de incidência do vírus, sendo apenas ultrapassada pelo Luxemburgo, Romania, Bulgária e Suécia. Não é, por isso, de estranhar que países europeus com níveis mais baixos de infeção pelo novo coronavírus estejam atentos à situação espanhola.

Não só o Reino Unido tomou medidas de precaução quanto ao país ibérico. Em França, o primeiro-ministro Jean Castex recomendou “encarecidamente” à população que não viajasse até à Catalunha. 

A Noruega impôs uma quarentena de dez dias a quem chegue de Espanha e desaconselhou viagens até esse país.

 Já a Bélgica proibiu as deslocações até às regiões espanholas de Huesca (Aragão) e Lleida (Catalunha), e a Alemanha recomendou aos seus cidadãos que evitem viajar para Navarra, Catalunha, Aragão ou Ilhas Baleares.

c/ agências
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