Almodóvar afirma-se admirador da língua e cultura portuguesas

por © 2007 LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A.

Pedro Almodóvar afirmou, no Estoril, que se alguma vez filmar fora de Espanha, será em Portugal, pois sente-se fascinado pela língua e cultura portuguesas.

O realizador falava num encontro com público no Teatro-Auditório do Casino Estoril no âmbito do European Film Festival, inaugurado quinta-feira.

O cineasta afirmou que se sente "estimulado" a criar em Madrid, até porque nos seus arredores estão os seus amigos artistas, mas confessou que tem vontade de rodar em Portugal.

"Gosto da música portuguesa, da sonoridade da língua, da cultura e da vossa maneira de estar", declarou.

"Sinto que somos próximos, mas não irmãos gémeos", acrescentou.

O realizador usou de sentido de humor para quebrar a timidez da audiência que hoje, ao final da tarde, se reuniu no Estoril para o questionar sobre a sua filmografia.

Estudantes de cinema, público que se tornou fã incondicional dos seus filmes e alguns curiosos encheram o auditório do Casino Estoril para perguntar qual o filme de que mais gostava, a personagem favorita ou onde encontrava inspiração.

Quanto à inspiração "é tudo", respondeu o realizador sem hesitar, e prosseguiu: "ela não surge como uma revelação, estou a tomar café e as notícias do `Telediario` despertam-me histórias, assim aconteceu com o filme `Saltos altos`".

Quanto aos filmes favoritos afirmou sentir-se "mais próximo" dos que rodou de 2000 até hoje.

"A postura é a mesma, escrevo e faço-o com paixão, desfruto e sofro muito, mas a paleta de cores muda", disse.

"Mas identifico-me com todos, os primeiros em que era mais jovem e os mais recentes, em que estou na meia-idade", disse Almodôvar suscitando um gargalhada na sala.

Quanto a personagens, referiu o enfermeiro Benigno de "Fale com ela", que vive num mundo paralelo ao mundo real.

Outra questão colocada pela sala foi a importância da música nos seus filmes.

O cineasta afirmou que ela "é orgânica, pois faz parte do guião. Um elemento essencial, não truculento na medida em que não provoca sentimentos, mas explica as personagens. É um elemento activo no guião", disse.

Quanto à música confessou-se um admirador de Rodrigo Leão e, em tom humorístico, afirmou que se os portugueses contratassem um comando para matar o seu director musical, Alberto Iglesias, escolheria o músico português.

O realizador afirmou-se "fascinado" pela música portuguesa, realçando não só Rodrigo Leão como Bernardo Sassetti e "a descoberta" que foi Camané.

Estes músicos integraram quinta-feira à noite o programa da gala de abertura do European Film Festival, a decorrer até 17 de Novembro no Estoril, e no âmbito do qual se realizou este encontro com o público.

Camané foi a "descoberta do fado no masculino", disse o realizador, um fã confesso de Amália Rodrigues.

"O fado muda cantado por um homem", sublinhou.

A sala questionou ainda o cineasta sobre o seu universo feminino e projectos futuros.

A explicação para a forma como aborda o universo feminino foi buscá-la à sua infância "rodeado de mulheres".

Ouvia-lhes as histórias, os comentários, estava rodeado delas: mãe, tias, primas, irmãs e vizinhas.

"Quem nunca ficou à guarda de uma vizinha? - questionou o cineasta - na minha terra os homens iam trabalhar e nós ficávamos com as mulheres".

Um universo de "mulheres fortes, do pós-guerra e a quem muito devemos", rematou.

Quanto a projectos futuros há "La piel que habito" que deverá começar a rodar dentro de um ano e um outro de que não quis revelar o título.

Almodóvar explicou que "hoje em dia, num mundo complicado de direitos de autor, não vou adiantar o nome".

O realizador explicou esta sua posição "pois assim que revelámos o título de `Volver` [o seu mais recente filme] alguém se registou na Internet e ainda hoje se anda em demandas".

A conversa foi pautada por gargalhadas, muitos elogios da assistência ao realizador e pedidos de desculpa por "falar em portuñol".

Um dos elogios foi do ex-primeiro-ministro e ex-ministro dos Negócios Estarngeiros da França, Dominique de Villepin, que participa também neste primeiro Festival, no âmbito do qual profere no domingo uma conferência sobre "A política, a Cultura e os Artistas".


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