Bienal em Coimbra "sonha" com um jardim botânico informal em Santa Clara-a-Nova

por Lusa

O diretor do Círculo de Artes Plásticas de Coimbra (CAPC), uma das entidades que organiza a bienal de arte contemporânea Anozero, quer abrir "a cerca" do Mosteiro de Santa Clara-a-Nova e construir um jardim botânico informal naquele espaço.

"Tem ficado claro para mim que aquele lugar tem um potencial enorme para criar uma nova centralidade àquele lado da cidade [situado na margem esquerda do Mondego]. Pela escala desmesurada do lugar e por estar fechado, constitui-se como um problema para o desenvolvimento de Santa Clara-a-Nova. Depois do mosteiro, parece que a urbanidade acaba, como se aquele lugar marcasse uma espécie de limite", disse à agência Lusa o diretor do CAPC, Carlos Antunes.

Para aquele responsável, a abertura do complexo do Mosteiro de Santa Clara-a-Nova e a criação de um jardim botânico informal, com espécies autóctones, que necessitem de pouca manutenção e ambientalmente adaptadas, é "um desejo antigo" e que poderia ser "uma grande conquista" para abrir todo aquele lugar.

No sábado, pelas 11:00, haverá uma visita guiada ao jardim que por agora existe naquele lugar levada a cabo pelo designer de jardins britânico Noel Kingsbury, conhecido por uma abordagem naturalista ao design paisagístico e que colabora com o arquiteto paisagista holandês Piet Oudolf, com obras por todo o mundo, como é o caso do jardim High Line, em Nova Iorque.

"Foi uma feliz coincidência, porque o Noel vive em Tábua e convidámo-lo para refletir sobre as condições naturais do espaço e ele adorou o sítio. E acho que esta visita vem dar outra força a essa ideia", explicou Carlos Antunes.

Para Carlos Antunes, a visita pode "apontar caminhos e sinalizar potencialidades.

Carlos Antunes salientou ainda a importância de um jardim botânico no processo de abertura de todo aquele lugar à cidade.

Antes da bienal, que decorre até dia 26, a organização promoveu uma oficina com alunos de arquitetura do Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE), cujos trabalhos estão expostos no Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, núcleo central da Anozero, que apontam para a necessidade de "rasgar as muralhas" e criar entradas e uma nova centralidade àquele lugar, mantendo a sua ligação à arte contemporânea, explicou.

"Antes, o rio era uma espécie de limite da cidade, em que o lado de lá [a margem esquerda] era o Japão. Esta imagem de uma acrópole para o saber artístico de um dos lados em diálogo com a acrópole do lado de cá [Universidade de Coimbra], faz com que o rio se torne no centro da cidade e as dinâmicas urbanas acabariam por se processar", salientou.

"Haveria um paralelo dos dois lados do rio: duas edificações monumentais [universidade e mosteiro] e depois o Jardim Botânico da Universidade teria, numa espécie de espelho do outro lado, um botânico informal", realçou.

Segundo Carlos Antunes, em todas as propostas dos alunos de arquitetura que participaram na oficina a encosta de Santa Clara-a-Nova "abre-se para a cidade", propondo-se "atravessamentos e cruzamentos".

"Estou ansioso para que se discuta aquele lugar com a cidade. Se não tivermos cuidado, aquilo volta a ser um espaço fechado. Esteve fechado para os religiosos, depois para os militares e depois pode ficar fechado para os ricos, caso fique reservado a frequentadores de hotéis de cinco estrelas. Essa dimensão [da hotelaria] pode existir, mas não pode impedir a dimensão pública do espaço. O hotel deve sujeitar-se ao interesse e usufruto público", afirmou Carlos Antunes.

No sábado, o presidente da Câmara de Coimbra, José Manuel Silva, numa visita da ministra da Coesão Territorial à Anozero, afirmou que a autarquia continua a trabalhar com as entidades para garantir que o espaço possa ter usos múltiplos -- bienal, hotel e um centro de eventos.

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