A Câmara do Porto impediu o Teatro Art`Imagem de estrear quarta-feira na sua sala, na Rua da Picaria, o espectáculo "Homem sem cara", informou hoje a companhia.
"Contra todas as expectativas, foi indeferido pelos serviços municipais da cidade o pedido de licença acidental de recinto que permitiria ao Teatro Art`Imagem apresentar no seu espaço Tzero.com.palco (à Rua da Picaria) a peça `O homem sem cara`", refere a companhia, em comunicado.
Contactado pela Lusa, José Leitão, do Teatro Art`Imagem, disse esperar que a proibição nada tenha a ver com a intenção anunciada pelo grupo de processar em tribunal a autarquia por incumprimento contratual.
"Quero crer que não. às vezes passa-me pela cabeça que sim, mas, em nome da sanidade mental de todos os portuenses, espero que não", frisou, estranhando, contudo, que a Câmara do Porto também não tenha, "ao contrário de outras situações", disponibilizado "mupis" para afixação de cartazes de publicidade à peça.
José Leitão explicou que a sala em causa "está em vias de legalização", culminando "mais de três anos" de processos burocráticos, pelo que a companhia precisou de recorrer ao instrumento legal do pedido de licença acidental.
Segundo o responsável, o pedido foi apresentado em 01 de Outubro, tendo sido aprovado pelos bombeiros e pela inspecção camarária, "mas a Divisão de Ruídos do pelouro do Ambiente da Câmara do Porto indeferiu o pedido".
José Leitão referiu que este indeferimento foi comunicado apenas verbalmente, num contacto telefónico feito pelo Art`Imagem segunda- feira para os serviços da câmara.
A companhia optou por telefonar a confirmar o pedido, dado que não queria "expor os convidados a uma eventual situação ilegal", disse.
O responsável indicou terem sido convidados para a estreia a ministra e o secretário de Estado da Cultura e diversos autarcas, mas Isabel Pires de Lima ainda não tinha confirmado a presença.
A Lusa aguarda esclarecimentos sobre este assunto pedidos ao Gabinete de Comunicação da Câmara do Porto.
A estreia da peça "Homem sem cara" está agora marcada para sábado na Sala Latino, onde ficará em cena até dia 26.
"O homem sem cara", com texto e encenação de Fernando Moreira, é inspirado na história verídica de um homem que sofre um grave acidente de comboio em que perde parte do rosto e, depois de várias operações, aceita fazer um transplante.
"De quem é esta cara? Quem foi este? E agora quem sou eu?" são as perguntas a que a personagem central desta peça procura responder ao longo do espectáculo, que tem interpretação de Ângela B. Marques, Pedro Carvalho e Valdemar Santos.
Os figurinos são de Marita Setas Ferro, a cenografia de Ricardo Preto, a música de Carlos Adolfo, o desenho de luz de Leuman Ordep e Cláudia Valente, a imagem de Ricardo Leite e a caracterização de Paulo Soares.
O encenador refere que este trabalho nasceu na sequência do primeiro transplante mundial de rosto.
"Senti que havia aqui matéria, algo de lírico e trágico, para uma peça de teatro", disse.
Aludindo às "informações bizarras quanto ao chamado progresso da ciência", Fernando Moreira citou, a propósito, o caso do homem a quem foi feito o primeiro transplante de mão, que pediu aos médicos para a removerem, porque a achava "feia e grande demais".
"Também o cidadão chinês a quem foi transplantado o pénis pediu aos médicos para o retirarem, porque a mulher não aceitou o novo órgão", acrescentou o encenador.
