Comunidade cabo-verdiana da Cova da Moura em luto

Amadora, 17 dez (Lusa) -- Na Cova da Moura, hoje cantou-se a `morabeza` e a saudade de Cabo Verde, nos vários cafés deste bairro da Amadora, e Cesária Évora, a `diva dos pés descalços` foi recordada como "uma amiga", quase família, que partiu. Neste bairro, onde a maior parte da comunidade é de origem cabo-verdiana e muitos afirmam ter conhecido a cantora originária do Mindelo, na ilha de São Vicente, a notícia da morte de Cesária Évora levou muitas pessoas aos cafés para ouvir e homenagear a `diva dos pés descalços`, como era conhecida.

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A saudade, um dos principais temas de Cesária Évora, é um sentimento que desperta tristeza e mágoa em muitos dos cabo-verdianos que moram na Cova da Moura há varias décadas. Muitos disseram à agência Lusa que vão fazer luto pela cantora que trazia na voz um pouco de Cabo Verde a quem mora fora do seu país.

No `Coqueiro`, um dos cafés do bairro, um grupo de homens juntou-se e cantou as canções que fizeram de Cesária Évora a "voz de Cabo Verde". Entre lágrimas, dança e tristeza, muitos lembraram que a cantora "ajudava muitas pessoas" do seu país.

"Ficámos tristes porque é uma peça fundamental da voz de Cabo Verde, conhecida em todo o mundo. Ela trazia um pouco de Cabo Verde até nós, que estamos fora do país há muitos anos", disse à agência Lusa, António Pina, conhecido por Silvestre, cantor de um grupo musical do bairro.

A morar na Cova da Moura há duas décadas, Silvestre canta, sempre que pode, as músicas da `diva dos pés descalços`. "Ela morreu, mas ficou a voz. Para recordar", disse.

Djujuty Alves, filho de músicos, tocou durante um ano com Cesária Évora, e além de a elogiar como cantora recorda também as suas qualidades como ser humano "que ajudava muitas crianças das ruas de Cabo Verde".

"É uma perda muito grande para Cabo Verde. Lá temos pouca coisa, mas a nível de música somos muito ricos", disse, sublinhando "a voz bonita" que canta o sentimento do povo cabo-verdiano.

Ao som de `Sôdade`, muitos dançam, outros choram e homenageiam desta forma Cesária, a cantora da `morabeza`, uma palavra do crioulo que não tem tradução em português, mas que se assemelha em muito à saudade.

Agora com quarenta anos de idade, Carlos Andrade conheceu Cesária Évora num bar em Cabo Verde há mais de 20. Emocionado, fala "daquela pessoa que praticava o bem", que ajudava muitas pessoas e que trazia Cabo Verde a quem está fora.

"Ficamos tristes. Agora ficam as músicas e as imagens. Ela ajudava muita gente, especialmente as crianças da rua. É assim que ela é", disse.

Natural da ilha de S. Vicente, Albertino Lima elogia também Cesária que considera "a Amália Rodrigues" de Cabo Verde, a diva de um país de emigrantes.

"Eu conhecia-a. Aliás, muitas das pessoas que cá estão a conheceram. Era uma pessoa amável, amiga de toda a gente. Era a nossa rainha do pé descalço. É como se fosse família", disse.

Cesária Évora morreu hoje aos 70 anos, no hospital Baptista de Sousa, em São Vicente, Cabo Verde, onde se encontrava internada desde sexta-feira.

Segundo o diretor clínico do hospital, Alcides Gonçalves, a morte ocorreu por volta das 11:20 por "insuficiência cardiorrespiratória aguda e tensão cardíaca elevada".

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