Do Egito a Portugal. O "regresso" de Tutankhamon cem anos depois

Até ao dia 4 de novembro de 1922, o "Rei Tut" era um dos faraós menos conhecidos da história egípcia. Ao descobrir o seu túmulo, o egiptólogo britânico Howard Carter alcançou um dos maiores feitos arqueológicos da história mundial. A Biblioteca Nacional de Portugal inaugurou uma exposição para celebrar o centenário da descoberta.

O túmulo, há mais de três mil anos no vale dos Reis na margem ocidental do Nilo, foi encontrado praticamente intacto, recheado de artefactos preciosos, como tecidos, peças de ouro e escrituras sagradas.
 



A Biblioteca Nacional de Portugal, em Lisboa, inaugurou no início de novembro a exposição "Tutankhamon em Portugal. Relatos na imprensa portuguesa (1922-1939)".

A exposição dá a conhecer o projeto de investigação desenvolvido, desde 2016, pelos egiptólogos José das Candeias Sales e Susana Mota sobre a forma como a imprensa portuguesa noticiou a descoberta arqueológica e os impactos daí decorrentes na produção cultural nacional.

A descoberta do túmulo foi amplamente documentada, recebendo uma forte cobertura da imprensa mundial. A imprensa portuguesa não foi exceção: acompanhou com interesse o que se passava no distante Vale dos Reis, informando com regularidade e detalhe, levando a história do faraó a milhares de portugueses e alimentando um crescente interesse público pelo antigo Egito.

José das Candeias Sales e Susana Mota recolheram todas as notícias publicadas nos jornais portugueses sobre a descoberta do túmulo do faraó entre 1922, o ano da descoberta do túmulo e 1939, o ano da morte de Howard Carter. No total, analisaram 28 periódicos portugueses e 234 noticias, dando conta do interesse da imprensa portuguesa pela descoberta arqueológica e como a fez chegar ao seu público, tornando-se um agente ativo da receção do antigo Egito em Portugal.


Sendo que os egiptólogos trabalham há tantos anos a cultura egípcia, não queriam deixar passar em branco o centenário de uma descoberta que tanto a marcou. Em 2019, tiveram a ideia de transformar o projeto de investigação numa exposição. José das Candeias Sales e Susana Mota contactaram a Biblioteca Nacional por acreditarem que ali seria o sítio por excelência, uma vez que é na Biblioteca que estão arquivados os elementos que permitiram a investigação. Toda a direção e técnicos da Biblioteca Nacional acolheram com entusiasmo a ideia dos egiptólogos e juntaram esforços para a realizar. 

A exposição, patente até ao dia 5 de abril de 2023 - dia em que se assinala o centenário da morte de Lord Carnarvon, o conde que financiou a descoberta arqueológica, acompanha cronologicamente a narrativa da descoberta, das escavações e dos conflitos com as autoridades egípcias, de forma a expor o impacto que estas questões tiveram há 100 anos no dia-a-dia dos portugueses. 


Durante todas as quintas-feiras de janeiro, José das Candeias Sales e Susana Mota vão conduzir um curso livre - "De Tutankhamon a Carter à Tutmania e Mumiamania” - onde vão aprofundar de forma científica todas as temáticas associadas ao projeto, ao Tutankhamon e à exposição. Os egiptólogos desejam contribuir desta forma para "ajudar à preparação e à formação daqueles que [como eles] gostam muito da história do Antigo Egito".