Escritor Ernesto Dabo diz que Guiné-Bissau é vítima da história e Cabralismo a solução

por Lusa

O escritor guineense Ernesto Dabo, um veterano combatente pela liberdade da pátria e "insatisfeito" com a situação que o seu país atravessa, acredita que a Guiné-Bissau é vítima da sua própria história e que o Cabralismo é a solução.

"Estamos numa circunstância de privilégio de termos tido alguém como [Amílcar] Cabral que pensou o país, organizou a luta e deixou um conjunto de ideias", disse à agência Lusa o autor de "Mantenhas ao Centenário", o seu mais recente livro, que será lançado no próximo dia 08 de fevereiro, em Lisboa.

Para Ernesto Dabo, considerado uma lenda viva da cultura guineense, que é ainda músico, dramaturgo e fotógrafo, "para se dirigir e dirigir bem a esfera do Estado e dos partidos" na Guiné-Bissau, "é fundamental ter uma atitude de respeito e de estudo de Amílcar Cabral".

"Tive o privilégio de integrar o grupo de combatentes pela liberdade da pátria. Sou um grãozinho de areia insignificante, mas essa educação tem sido barómetro na minha vida política e de cidadão e foi nessa perspetiva que fui analisando a atitude de dirigentes, cidadãos em destaque e outros fenómenos diversos", disse, a propósito dos pensamentos que compõem o novo livro.

E adiantou: "Eu sou de uma educação política e ideológica cabralista". "O cabralismo é invencível, é incontornável para o desenvolvimento da Guiné e Cabo Verde".

Sobre a situação atual da Guiné-Bissau, Dabo disse estar "altamente insatisfeito". "Temos tido muitas intervenções, muita disputa vazia, porque o tempo é o imperador de todos os aspetos da evolução".

Acredita que a Guiné-Bissau é "vítima da sua própria história", recordando que, "em 500 anos de presença colonial, não atingiu os dois a três por cento da população autóctone alfabetizada".

"Chegámos à independência com 99% da população analfabeta. E é com esses ovos, com falta de ovos, ou maus ovos, que vamos em 50 anos ter um estado desenvolvido, democrático, moderno? Não acredito", disse.

Saída de uma guerra de 11 anos, a Guiné-Bissau entra na independência com falta de quadros. "Alguém saía da guerrilha para ministro, de guerrilheiro para presidente", indicou.

"Tentámos organizar um Estado quase de mãos vazias e com a agravante de todos esses agentes chamados para a estrutura do Estado serem paupérrimos e, ao chegar a essas estruturas, todos sabemos como a coisa funciona", referiu.

"Somos extremamente frágeis nesse aspeto. Temos alguém que chega a um Governo, que é de baixa literacia, pobre. Olha para cima e vê o chefe a enriquecer e a ter propriedades, com os filhos a estudar em boas escolas na Europa, acaba-se por generalizar uma cultura de impunidade perante a corrupção", acrescentou.

O escritor considerou que "essa gangrena, essa enfermidade, não é fácil de combater", referindo-se à corrupção, a qual só poderá ser combatida e resolvida num "processo de luta, uma luta feroz".

E defendeu: "Tem que haver uma elite naquele país, mas uma elite culturalmente identificada, resolvida com a nação que quer dirigir e não uma elite administrativa que utiliza métodos antigos e resolve os seus problemas e não os do seu país".

"A minha vontade é que estivéssemos mais desenvolvidos do que uma Finlândia, uma Suíça ou outros", disse.

Parte da solução para a instabilidade que grassa na Guiné-Bissau há 25 anos está na juventude, que constitui "uma cada vez maior uma massa crítica".

"Hoje, já não é fácil chegar a uma tabanca ou numa cidade qualquer e ser o chefão lá da urbe", indicou.

Publicado pela Editorial Novembro neste ano em que se assinala o centenário do nascimento de Amílcar Cabral, o livro "Mantenhas ao centenário" será apresentado na sede da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

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