Escritora Alice Vieira, agradecida por prémio literário, lembra que é o jornalismo que a move

por Lusa

A escritora Alice Vieira, que venceu hoje o Prémio Iberoamericano SM de Literatura Infantil e Juvenil, disse à Lusa que é sempre bom ser reconhecida pelos livros que escreve, mas que, acima de tudo, não dispensa a escrita em imprensa.

"Há muita gente que diz, `ai eu, prémios, que horror não quero`. Eu gosto de tudo! Se me quiserem dar, eu aceito! A gente trabalha tanto, que ao menos que aquilo que a gente faça seja reconhecido, não é? Gostei muito deste prémio e até nem estava a acreditar", reagiu entre gargalhadas.

Alice Vieira, 80 anos, foi distinguida hoje com o Prémio Iberoamericano SM de Literatura Infantil e Juvenil, no valor de 30.000 dólares (cerca de 28.000 euros), pelo conjunto da obra literária.

O prémio foi criado em 2005 pela Fundación SM (México) e Alice Vieira é a primeira autora portuguesa a ser distinguida, juntando-se a uma galeria de galardoados como María Teresa Andruetto (Argentina), Ana Maria Machado e Marina Colasanti (Brasil), Jordi Sierra i Fabra (Espanha), Yolanda Reyes (Colômbia) e Antonio Orlando Rodríguez (Cuba).

Segundo a organização, Alice Vieira, que tem vários livros traduzidos para castelhano, foi distinguida pelo "estilo pessoal que transcende gerações e culturas", assim como pela "grande qualidade literária e diversidade da sua obra", como se lê no comunicado divulgado pela fundação iberoamericana.

"Ainda por cima, foi dado por unanimidade e todos os membros do júri quiseram dar-me os parabéns e passei o tempo todo a dizer `gracias`, gracias, gracias`", exclamou a autora.

A entrega do prémio está marcada para 28 de novembro, durante a Feira de Guadalajara, no México, mas Alice Vieira ainda não sabe se estará presente, recordando os seus 80 anos e a vontade de abrandar.

"Farto-me de ir a escolas, a livrarias, a bibliotecas, agora já não vou tanto porque estou velha e agora tenho que ter calma", disse.

Alice Vieira soma mais de 40 anos de carreira literária, que conjugou com o percurso no jornalismo. Apesar de ter escrito e publicado romance e poesia para adultos, foi na literatura para jovens que ganhou maior notoriedade, com títulos como "Rosa, minha irmã Rosa", "Úrsula, a maior", "Os olhos de Ana Marta", "Viagem à roda do meu nome" e "A espada do rei Afonso".

"Eu agora até tenho escrito pouco para jovens, tenho escrito mais para adultos ou então aqueles livros que podem ser lidos por jovens e adultos, que é mais ou menos aquilo que eu faço. Mas agora estou assim um bocadinho mais calma. Já são 80 livros publicados, já chega. Não me tirem é o trabalho dos jornais", disse.

E acrescentou: "Se a minha editora dissesse `olha já tens 80 livros publicados, já chega, pára. Eu parava logo! Agora jornais não, não me tirem, porque eu digo sempre que sou uma jornalista que escreve livros, isso é que não. Agora o resto, sim, parava".

Entre os prémios que recebeu destacam-se o Calouste Gulbenkian de Literatura Infantil por "Este rei que eu escolhi" (1993), o Grande Prémio Gulbenkian pelo conjunto da obra (1994) o prémio Maria Amália Vaz de Carvalho pelo livro de poemas "Dois corpos tombando na água" (2007).

Também já esteve nomeada para os prémios Hans Christian Andersen e ALMA -- Astrid Lindgren Memorial Award e, segundo a Direção Geral do Livro, Arquivos e Bibliotecas, já tinha sido nomeada quatro vezes para o prémio ibero-americano que agora venceu.

Atualmente, Alice Vieira diz estar a escrever um novo livro para adultos - "mas isto vai devagarinho, ainda tenho pouca coisa escrita" -- e colabora com quatro jornais e revistas, entre os quais o Jornal de Mafra e a revista Audácia.

"Isto ajuda-me a estar bem e a pensar", admitiu.

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