A arquiteta portuguesa e dirigente do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (ICOMOS) Maria José de Freitas defendeu hoje maior prevenção do impacto ambiental no património na Grande Baía, região do sul da China.
"Tudo isto deve ser pensado a nível regional e faz sentido que haja uma atuação conjunta nessa matéria, que já está de pé, mas que, na minha opinião, deve ser acelerada (...), no sentido de ser mais proativa do que reativa", disse a presidente do comité científico internacional do ICOMOS sobre património construído partilhado.
A Grande Baía é um projeto de Pequim que tem como objetivo criar uma metrópole mundial a partir das regiões administrativas especiais chinesas de Macau e de Hong Kong e outras nove cidades da província vizinha de Guangdong (Guangzhou, Shenzhen, Dongguan, Foshan, Zhongshan, Huizhou, Jiangmen, Zhuhai e Zhaoqing), onde habitam mais de 80 milhões de habitantes.
O centro histórico de Macau foi classificado como Património Mundial pela UNESCO em 2005.
Maria José de Freitas, arquiteta a trabalhar em Macau, apontou especificamente para o caso das cidades portuárias, ameaçadas pela subida do nível das águas.
"A questão climática é uma situação a que o ICOMOS está atento. A subida do nível das águas naturalmente ameaça as cidades portuárias e os centros históricos. No caso de Macau isso será evidente, no caso [da zona] do Porto Interior já acontece", referiu à Lusa, à margem do Fórum do património cultural da zona da Grande Baía.
Maria José de Freitas notou, porém, que há já "uma série de situações que estão a ser testadas a nível académico e científico" e que depois podem ser disseminadas por toda a região.
O ICOMOS, lembrou a arquiteta, organizou em 2022 uma conferência sobre o impacto ambiental no património na zona do delta do Rio das Pérolas, com especialistas de Hong Kong, Macau e província de Guangdong.
Para fazer face aos fenómenos meteorológicos severos em Macau, como tempestades tropicais, o presidente da Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau, o engenheiro Joseph Lee, defendeu na altura uma "combinação de soluções baseadas na natureza", como o desenvolvimento de mangais que podem ajudar a reduzir o impacto das ondas em caso de tufões, e de "soluções estruturais".
Joseph Lee disse nesse mesmo ano à Lusa que recebeu 1,14 milhões de patacas (131 mil euros) de financiamento para liderar uma investigação pioneira de três anos sobre condições meteorológicas severas no território.
No que diz respeito ao Fórum do património cultural da zona da Grande Baía, que decorre entre hoje e sexta-feira, e junta em Macau especialistas das várias cidades da região, Maria José de Freitas acredita que "esta partilha" é "útil no sentido de aproximar as metodologias de análise, de mapeamento do património existente" e "de formas de recuperação".
Neste primeiro dia, foi lançado o portal "Circuito do Património Cultural da Zona da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau", para já apenas em língua chinesa, e onde é possível conhecer em mais detalhe o património da região.