Estado exerce direito de preferência sobre modelo de estátua de Machado de Castro
A empresa pública Museus e Monumentos de Portugal (MMP) confirmou hoje à Lusa que exerceu o direito de preferência sobre a compra, em leilão, de um modelo da estátua pedestre do rei José I, de Machado de Castro.
No `site` da Cabral Moncada Leilões, a obra, que tinha uma base de licitação entre 4.000 e 6.000 euros, surge como tendo sido vendida no leilão de segunda-feira por 29.000 euros.
No começo do mês, a MMP fez publicar em Diário da República a abertura do processo de classificação patrimonial do modelo.
De acordo com o anúncio publicado em Diário da República, o presidente da MMP determinava "a abertura do procedimento de classificação como bem móvel de interesse nacional do modelo em barro da estátua pedestre de D. José I (1714-1777), da autoria de Joaquim Machado de Castro (1731-1822), cuja proteção e valorização representa um valor cultural de significado relevante para a Nação".
Num parecer, a diretora do Museu Nacional Machado de Castro, Sandra Saldanha, pedia não só a classificação da obra, mas também que fosse garantida a sua aquisição, por via do direito de preferência, devido ao "inegável interesse nacional" da peça e ao valor por que estava avaliada.
Na fundamentação, era lembrado que aquele museu nacional, localizado em Coimbra, se encontra "atualmente a desenvolver uma nova museografia, prevendo a criação de um espaço dedicado ao patrono do Museu na sua exposição permanente, onde será exposto o modelo em barro da estátua equestre do rei D. José, classificado em 1970 e recentemente adquirido pela MMP para o acervo do referido museu e onde o modelo em apreço teria, provavelmente, lugar".
Esta referência é a um modelo em barro para uma estátua equestre do rei, adquirida em 2024 pela MMP por 123 mil euros.
A escultura em barro "corresponde à segunda etapa do processo de criação de uma estátua pedestre de D. José I", segundo a descrição feita pela MMP, sendo o primeiro um modelo em cera que faz parte do acervo do Museu de Lisboa.
"O modelo do Museu de Lisboa foi vendido num leilão da casa Dinastia, realizado a 20 de março de 1975, tendo como proveniência a família dos marqueses de Pombal. Curiosamente, o primeiro modelo em cera da estátua equestre ainda hoje se conserva em propriedade da mesma família", lê-se na documentação da MMP.
Por seu lado, no `site` da Cabral Moncada pode ler-se que, "com o aparecimento deste modelo de barro, o exemplar em cera passa a ser entendido como o ponto de partida de um projeto escultórico para uma estátua pedestre de D. José I, possivelmente destinada a uma praça, à semelhança da célebre estátua equestre [que está na Praça do Comércio, em Lisboa]".
A peça terá sido começada a ser trabalhada cerca de 1775, sendo "evidente que o falecimento do monarca [em 1777] ditou o abandono do projeto", segundo a descrição da MMP, que indica que o modelo terá ficado na posse do escultor nascido em Coimbra, até à sua morte, em Lisboa, em 1822.
Este texto da MMP sugere que a obra se destinava não a uma praça, mas "muito provavelmente" à Real Biblioteca Pública da Corte, antecessora do que é hoje a Biblioteca Nacional.
Joaquim Machado de Castro era filho de um organista e barrista, com quem terá iniciado os estudos artísticos. Ainda em Coimbra, estudou latim com os jesuítas antes de, aos 14 anos, se mudar para Lisboa, "onde prosseguiu a aprendizagem de santeiro iniciada com o pai", recorda a biografia do artista.
"Figura singular no panorama artístico português", deixou trabalhos na Basílica da Estrela, no Palácio Nacional da Ajuda e na Sé Catedral de Lisboa, entre muitos outros locais.