Estudo de cidades expõe falta de preparação para alterações climáticas

por Nuno Patrício - RTP
Direitos Reservados

O estudo das cidades e das suas rotinas motivou várias organizações independentes ligadas ao ambiente. Perto de 400 cidades em todo o mundo foram analisadas: as ONG chegaram à conclusão de que nenhuma se encontra preparada para enfrentar as alterações climáticas.

Por outro lado, estudos recentes indicam que há uma crescente tendência global para viver em grandes cidades. Fator determinante para as escolhas em matéria de infraestruturas urbanas e da sua influência na capacidade de resistência às mudanças climáticas.


Estas questões que vão ser debatidas na quarta-feira no Pavilhão do Conhecimento, no Parque das Nações, em Lisboa. Serão apresentados “desafios climáticos” que a Europa pode ter de enfrentar a breve trecho, entre os quais chuvas mais frequentes, inundações e ondas de calor – só para começar.

O próximo Espaço à Quarta promove assim uma conversa entre especialistas sobre as aplicações das ciências e tecnologias espaciais no planeamento e monitorização das cidades, na procura do aumento da sua sustentabilidade e de forma a fazer face às alterações climáticas, aos riscos naturais e até à pressão provocada pelo aumento do turismo urbano.


Cidades inteligentes e sustentáveis
O nascimento das cidades ocorreu quando os humanos deixaram de ser caçadores-recoletores e descobriram a agricultura. Esta permitiu que a humanidade tivesse alimentos em abundância, contribuindo para o sedentarismo, surgindo desta forma as primeiras conglomerações no vale do Nilo, do Indo e na Mesopotâmia. Mais tarde surgiriam a civilizações grega e romana, que criaram grandes cidades e alguns conceitos básicos do urbanismo.

Estima-se agora que cerca de 55 por cento da população mundial – 4,2 mil milhões de habitantes – vivam em cidades.

Uma tendência que continua a aumentar, prevendo-se que em 2050 a população urbana seja mais do dobro da atual, com cerca de sete em dez pessoas a viver em cidades.

Porquê criar cidades inteligentes e sustentáveis?

O atual conceito de cidade refere-se a uma área densamente povoada onde se agrupam zonas residenciais, comerciais e industriais; uma área composta por um núcleo populacional caracterizado por um espaço amplo onde ocorrem relações e fenómenos sociais, culturais e económicos.

Contudo, neste conceito existem vários modelos de cidades com grandes diferenças entre si. Por esse motivo, é difícil chegar a uma definição concreta para cada um dos modelos, podendo haver cidades com escassos milhares de habitantes, ou extremos populacionais como a cidade chinesa de Cantão, com mais de 65 milhões de habitantes.

As 50 cidades mais populosas do mundo juntam mais de 795 mil milhões de habitantes, de acordo com o site citypopulation.de

É precisamente nas grandes metrópoles que os problemas mais se sentem e se acumulam. Destaca-se a gestão de movimentos populacionais, industrias, poluição e consumo de recursos. A estes somam-se agora as questões climáticas, para as quais as cidades não estão preparadas - a maioria é insustentável e economicamente inviável.

É pois necessário dar a conhecer e debater as melhores formas de gestão funcional das cidades.

Por isso, o Espaço à Quarta do Pavilhão do Conhecimento convidou um conjunto de investigadores, entre os quais Ana Oliveira, analista sénior de Dados Geospaciais na CoLAB +ATLANTIC, que desenvolveu e testou modelos de previsão empírica da exposição de cidades mediterrânicas ao calor, proporcionando alternativas de baixo custo para a avaliação térmica urbana. Os seus modelos permitem testar e comparar o desempenho de cenários alternativos de planeamento urbano, face aos efeitos das alterações climáticas.

Cristina Calheiros, investigadora do CIIMAR na Universidade do Porto, estuda o desenvolvimento de soluções baseadas na natureza, como telhados verdes, jardins verticais, leitos de plantas e ilhas flutuantes, para apoio à sustentabilidade dos territórios e como ferramenta de adaptação e mitigação às alterações climáticas.

André Oliveira, Chief Technology Officer no CoLAB +ATLANTIC e gestor no CEiiA, tem trabalhado em estruturas inteligentes e dinâmica multicorpo no Centro de Tecnologia e Pesquisa Aeroespacial Europeia (ESTEC) da ESA, na Holanda.

Giuseppe Cornaglia, gestor de Sistemas na Autoridade Nacional de Proteção Civil, foi responsável pela digitalização da cartografia florestal das matas nacionais e perímetros florestais, e foi co-autor do III Inventário Florestal Nacional (1995).

Por último, Alexandre Penha, adjunto de Operações no Comando da Proteção Civil, participou em diversos projetos nacionais e internacionais no âmbito da Proteção Civil. Foi também um dos responsáveis pelo desenvolvimento e implementação de sistemas de simulação de comportamento de incêndio no sistema de proteção civil nacional.


O encontro terá lugar esta quarta-feira, a parti das 18h30, com transmissão em direto no YouTube e no Facebook do Pavilhão do Conhecimento. O público poderá colocar questões em direto, no chat da plataforma. A moderação está a cargo de Ana Noronha, diretora executiva da Ciência Viva.

O Espaço à Quarta conta também com a participação de cientistas e especialistas de empresas que ajudarão a descobrir as aplicações do espaço na sociedade. Esta é uma iniciativa do ESERO Portugal, parceria entre a Ciência Viva e a ESA, com a Agência Espacial Portuguesa, Portugal Space.
Tópicos
pub