Esta primeira longa-metragem de Teresa Prata foi seleccionada para participar fora de competição na secção "Focus on World Cinema" da 31.ª edição do festival - que decorre entre 23 de Agosto e 03 de Setembro - e também foi convidada a participar no Festival Internacional de Cinema do Rio de Janeiro, em Setembro.

Ainda estudante de cinema, em Berlim, Teresa Prata leu "Terra Sonâmbula", a história de Muidinga, um menino moçambicano "de olhos sonhadores" que procura a família num cenário de guerra civil, achou-a "maravilhosa e fantástica" e sentiu que "tinha de ser contada" no cinema.

"É um dos livros mais bonitos de Mia Couto - sublinhou a cineasta - Uma história de guerra sem soldados, sobre os efeitos do conflito nas pessoas normais, que não têm dinheiro para abandonar o país. Carregam os seus sonhos às costas e sofrem a guerra na voz, no corpo".

Depois de ter contactado Mia Couto para obter permissão para basear-se no livro, a realizadora fez uma adaptação cinematográfica da história e escreveu o argumento seguindo "a linguagem poética do escritor, entre a prosa e a poesia".

Depois de encontrar um diário de uma mulher que vive num velho navio ancorado e procura o filho, Muidinga convence-se de que é ele a criança perdida e decide procurá-la.

Na viagem é acompanhado por Tuahir (Aladino Jasse), um velho "duro e cheio de histórias", que o quer como a um filho, apesar de não conseguir mostrar o seu profundo afecto.

Quase todos os actores são moçambicanos e não são profissionais, referiu a realizadora, nomeadamente o menino de 12 anos que encarna o personagem principal (Muidinga/Nick Lauro Teresa), que respondeu aos anúncios colocados em jornais e na televisão, em Moçambique.

Do elenco, apenas Ana Magaia (Tia Euzinha), uma das mais conhecidas actrizes do país, e a portuguesa Laura Soveral (D. Virgínia) se dedicam profissionalmente ao cinema.

"Foi um projecto duro e longo, mas durante estes sete anos, nunca deixei de acreditar nele", comentou a realizadora sobre o filme, totalmente rodado no sul de Moçambique, num perímetro de 200 quilómetros em redor de Maputo.

Formada em argumento e realização pela Deutsche Film und Fernsehakademie Berlin, Teresa Prata é autora das curtas-metragens "Uma Questão de Vida ou Morte" (1994), "Mil Olhos, O Sonhador do Oeste "(1996), "Leopoldo" (1999) e "Partem tão Tristes, os Tristes" (1999).

A longa-metragem "Terra Sonâmbula" é uma co-produção de Portugal (Filmes do Fundo), Alemanha (ZDF/ARTE), e Moçambique (Ébano Multimédia), e teve o apoio do Ministério da Cultura, através do Instituto do Cinema e Audiovisual (ICA), da RTP, e do Instituto Camões.

"Terra Sonâmbula" estreia-se dia 27 de Agosto, às 21:50, e será exibido também a 28 e 29 no Festival Cinema de Montreal.

No mesmo Festival serão igualmente exibidos os filmes portugueses "20,13", de Joaquim Leitão, e "Deus Não Quis", de António Ferreira, também ambos sobre a guerra colonial, e "A outra margem", de Luís Filipe Rocha.