Ideia de reparações expressa por PR merece plena concordância - investigador

por Lusa

O investigador angolano Afonso Vita, autor do livro "A Rota dos Escravos", que será apresentado neste sábado em Lisboa, disse hoje à Lusa que "concorda plenamente" com a ideia de reparações expressa pelo Presidente português.

"Eu estou plenamente de acordo com o Presidente. O `tio Celito`. Nós chamamos-lhe `tio Celito`. Mas antes de falarmos de reparação - não sei se essa reparação ainda é possível, porque foram milhares e milhares de vidas humanas e a vida não tem preço -, o que eu colocaria seria o reconhecimento que Portugal na verdade liderou esse processo", afirmou.

Marcelo Rebelo de Sousa reconheceu há cerca de duas semanas, num jantar com correspondentes estrangeiros em Portugal, as responsabilidades de Portugal por crimes cometidos durante a era colonial, sugerindo o pagamento de reparações pelos erros do passado.

"Temos de pagar os custos. Há ações que não foram punidas e os responsáveis não foram presos? Há bens que foram saqueados e não foram devolvidos? Vamos ver como podemos reparar isto", afirmou Marcelo, citado pela agência Reuters, aquando do referido jantar.

"Portugal criou, inventou a escravatura moderna e liderou por mais de 100 anos este processo. Quer dizer, se nós tivermos que procurar um responsável o número um é Portugal, mas o nosso objetivo já não é dizer quem foi o culpado, quem começou. O que queremos é que o mundo reconheça que cometeu esse crime e a partir daí não se voltar um dia a fazer a mesma coisa", disse hoje Afonso Vita à Lusa.

Afonso Vita reconhece que há formas de reparar os danos originados no passado, mas do seu ponto de vista, "o reconhecimento e a valorização dessa história é já um passo muito importante em vias de respeitar os africanos que foram forçosamente levados para outros destinos".

Investigador e diretor do Instituto de Fomento do Turismo de Angola, Afonso Vita apresenta sábado no Museu Nacional de História Natural e de Ciência, da Universidade de Lisboa, o livro "A Rota dos Escravos", em que revisita os caminhos culturais e as memórias de um passado, inscrevendo-os no mapa internacional do turismo, com foco nos afrodescendentes que desconhecem as suas origens.

Doutorado em Geografia Humana aplicada ao Turismo pela Universidade de Coimbra, Afonso Vita identifica em nove províncias de Angola -- Bengo, Benguela, Cabinda, Cuanza Sul, Cuanza Norte, Luanda, Malanje, Namibe e Zaire -, infraestruturas relacionadas diretamente ao tráfico negreiro, que pretende inscrever na Rota dos Escravos.

O projeto inclui a realização bianual de um Festival de Encontro e Reencontro da Africanidade, que deverá ter a primeira edição em 2025.

"A rota turística e cultural de escravos em Angola visa em primeiro lugar valorizar a história do passado de um povo, que foi escondido a sete chaves durante séculos. Enquanto durou o fenómeno do tráfico de escravos, Angola é o país que mais homens, mulheres e crianças perdeu e isso afetou o seu tecido demográfico até aos dias de hoje", salientou.

O objetivo do livro, resultado da sua tese de doutoramento em Coimbra, é mostrar "o passado dramático do povo angolano e da África em geral e transformar esta história numa ponte que vai ligar a África, Angola em particular, com a sua diáspora".

"Através do turismo transformar esse passado sombrio em turismo de memória e ligar então Angola à sua diáspora. Em outras palavras, reconstituir a geografia das rotas de escravos", conclui.

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