Maria João Pires e Fundação Saramago homenageiam fotógrafo Sebastião Salgado
A pianista Maria João Pires e o fotógrafo Steve McCurry estão entre as personalidades que reagiram à morte do fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado, ocorrida hoje, em Paris, recordando o seu "trabalho árduo de repor alguma justiça no mundo".
A Fundação José Saramago recordou o trabalho conjunto do escritor com o fotógrafo, no livro dedicado ao Movimento dos Sem Terra, no Brasil, e expressou "agradecimento a Sebastião Salgado que, com as suas fotografias, ajudou a que os nossos olhos se abrissem para as maravilhas e para os horrores que existem no mundo".
"Lamentamos profundamente a morte de Sebastião Salgado, fotógrafo cujo talento e generosidade tivemos a sorte de conhecer e acompanhar em diferentes momentos", escreveu a Fundação José Saramago na sua página na rede social X.
A pianista Maria João Pires escolheu também as redes sociais para reagir à morte do fotógrafo da "Amazónia", desejando "força e coragem" à sua companheira, Lélia Salgado.
Para Maria João Pires, de Salgado deve ficar "a vontade de aprendermos com ele o amor à Terra, a beleza da natureza e, muito particularmente, o trabalho árduo de repor alguma justiça no mundo."
O fotógrafo norte-americano Steve McCurry, companheiro de Sebastião Salgado na agência Magnum, afirmou que "a sua visão e humanidade deixaram uma marca indelével no mundo da fotografia".
"Juntamente com Lélia, não só documentou a condição humana com uma profundidade inigualável, como também ajudou a curar o planeta através do seu trabalho de reflorestação com o Instituto Terra", acrescentou o fotógrafo premiado da "Rapariga Afegã", na sua página oficial no Facebook.
A Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS) recordou, por seu lado, a presença de Sebastião Salgado em Portugal, em 2017, "para relatar o drama das migrações em massa no programa Fronteiras XXI.
"Durante a década de 1990, Sebastião Salgado fotografou milhares de pessoas em fuga de genocídios étnicos e da guerra --- populações para quem, num instante, tudo mudou", escreve a FFMS, recordando as palavras do próprio Sebastião Salgado, o artigo resultante desse encontro e o modo como sempre retratou essas vidas interrompidas, "plenas de dignidade".
Em Espanha, a Fundação Princesa das Astúrias recordou o vencedor do Prémio Príncipe das Astúrias das Artes, em 1998, com a sua imagem, ao lado do atual rei Filipe VI, e a fundação CaixaForum, que promoveu a exposição "Génesis" do fotógrafo, elogiou "uma das visões mais humanistas e empenhadas da fotografia contemporânea".
"Em 2017, tivemos o privilégio de colaborar na exposição `Génesis`, uma viagem visual pela beleza intocada do nosso planeta. O seu legado continua a convidar-nos a protegê-lo", conclui a fundação espanhola.
Um dos mais premiados fotógrafos a nível internacional, considerado um dos maiores expoentes da fotografia no mundo, Sebastião Salgado morreu hoje, em Paris, aos 81 anos.
Sebastião Salgado morreu no dia em que é inaugurada a exposição "Venham Mais Cinco -- O Olhar Estrangeiro sobre a Revolução Portuguesa (1974--1975)", em Almada, que inclui fotos suas tiradas durante a revolução portuguesa.
Sebastião Salgado registou esses primeiros tempos de transição em Portugal, e também em Angola e Moçambique, ao serviço das agências Sygma, Gamma e Magnum.
"Todas as pessoas que tinham ideias libertárias, na Europa, foram para Portugal, na esperança de que seria um grande país democrático, com ideias sociais avançadas. Portugal foi um sonho. E aos poucos, aquilo tudo foi também aterrando, porque me lembro de que, para comprar um quilo de carne num talho, a gente ficava uma hora na fila. Todo o mundo ficava discutindo política", disse Sebastião Salgado em entrevista em 2024 ao jornal Público, sobre aquela passagem por Portugal.
Nascido em 08 de fevereiro de 1944, em Aimorés, Minas Gerais, Brasil, Sebastião Salgado iniciou a sua carreira de fotógrafo em Paris, em 1973.
Salgado foi alvo de uma grande exposição em Portugal, em 1993, na inauguração do Centro Cultural de Belém, em Lisboa.
Em 2014, expôs em Lisboa, no Torreão Nascente da Cordoaria Nacional, a série "Génesis", dedicada à natureza.
Um ano depois, os cinemas portugueses acolheram o documentário "O Sal da Terra", de Wim Wenders e Juliano Ribeiro Salgado, sobre o fotógrafo brasileiro.
Membro das agências de fotografia Sygma, Gamma e, posteriormente, a Magnum, Sebastião Salgado fundou a Amazonas Images, com a mulher, Lélia Wanick, em 1994, e juntos criaram o Instituto Terra para a reflorestação da Mata Atlântica brasileira, promovendo a plantação de mais de três milhões de árvores, em pouco mais de duas décadas.