Memórias de Aquilino Ribeiro guardadas na aldeia de Soutosa

por © 2007 LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A.
Várias salas estão recheadas com estantes de primeiras edições dos livros de Aquilino Ribeiro Lusa

Memórias de Aquilino Ribeiro estão guardadas na casa onde terá escrito algumas das suas 70 obras, na aldeia de Soutosa, Moimenta da Beira, tendo como "guardiã" a sua nora Maria Josefa de Campos.

A idosa, de 86 anos, luta por manter vivo o projecto do seu marido, o juiz conselheiro Aníbal Aquilino Fritz Tiedemann Ribeiro, nascido em 1914 do primeiro casamento do escritor com a alemã Grete Tiedemann, que em 1988 criou uma fundação dedicada ao pai naquela casa.

"O meu marido, que faleceu vai fazer dez anos (em 1999), quis instituir a fundação para que as pessoas pudessem conhecer o espaço onde o pai escreveu alguns dos seus livros", contou à Agência Lusa Maria Josefa, que preside à fundação.

Satisfeita pelo reconhecimento que a Assembleia da República deu a Aquilino Ribeiro, promovendo a transladação dos seus restos mortais para o panteão nacional, no dia 19, só lamenta que o marido não esteja vivo para assistir.

"Sinto uma grande satisfação por isso acontecer. Este reconhecimento não devia ser só agora, mas ainda vai a tempo", afirmou.

Maria Josefa viveu até ao ano 2000 naquela casa, que pertenceu ao pai de Aquilino Ribeiro (Joaquim Francisco Ribeiro) e que depois foi segundo lar do próprio escritor, que a ele regressava nos meses de Verão, mas a falta de condições levou-a a encontrar outra residência.

A casa é, no entanto, visitada com frequência por grupos de escolas de todo o país e turistas portugueses, que podem percorrer os seus vários espaços, nomeadamente a sala do rés-do-chão com uma janela virada para o pátio, onde ainda se mantém a secretária do "Mestre Aquilino".

No primeiro andar, várias salas estão recheadas com estantes de primeiras edições dos livros de Aquilino Ribeiro e vitrinas onde estão expostos, através de postais e fotografias, "pedaços" da vida do escritor, com destaque para o período partilhado com Grete Tiedemann.

Aquilino Ribeiro apaixonou-se por Grete Tiedemann quando frequentava a Faculdade de Letras da Sorbonne, tendo depois ido viver temporariamente para a Alemanha, onde fora conhecer a família da namorada.

Na casa de Soutosa está também a Biblioteca de Aquilino Ribeiro, com mais de oito mil volumes, mas que de momento não é possível visitar.

A Fundação publicou, há dois anos, o Catálogo da Biblioteca de Aquilino Ribeiro, organizando as obras por ordem de autores e títulos, mas Maria Josefa admitiu que aquele espaço "ainda não está em condições".

Disse ainda à Lusa ter lido todas as obras de Aquilino, escolhendo como a favorita "Quando os lobos uivam" (1958), um incómodo romance contra o regime que se tornou objecto raro entre os portugueses depois de ter sido apreendido.

Apesar de o romance "A Casa Grande de Romarigães" (1957) ser considerado por especialistas a obra-prima de Aquilino Ribeiro, a idosa desvaloriza a importância do local que o inspirou na vida do escritor.

"Não existe casa grande nenhuma, existe uma pequena casa que nós visitámos duas vezes e estava em muito mau estado. Ele (Aquilino Ribeiro) passou lá as férias um ano e voltou para Soutosa. Soutosa é que era o seu lugar preferido, onde vinha sempre", garantiu.

As primeiras recordações que Maria Josefa tem daquele que viria a ser seu sogro são da altura em que "o via no Chiado, na Bertrand".

Ficaram-lhe também gravados na memória episódios das boas relações que o seu marido tinha com o pai.

"O meu marido gostava imensamente dele, tanto que, quando íamos em viagem para fora, ia sempre ler o `Le Monde` para ver se vinha alguma notícia sobre o pai", contou.


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