Mulheres que Contam. Maria Amélia Martins-Loução

por Silvia Alves - RTP

Maria Amélia Martins-Loução é Professora Catedrática de Ciências e Presidente da Sociedade Portuguesa de Ecologia. Foi uma das primeiras doutoradas em Biologia, foi vice-reitora da Universidade de Lisboa, recebeu o Prémio Ciência Viva 2021. É no Jardim Botânico de Lisboa, de que foi diretora, que respira o melhor ar de Lisboa.


Maria Amélia Martins-Loução é alfacinha de gema, mas desde pequena, teve frequente contacto com a Natureza nos tempos livres, de férias e aos fins-de-semana. Querer perceber o porquê das coisas, essa curiosidade que faz sempre o bom cientista, cresceu com ela.

Como tantos outros, melhor, como tantas outras, houve uma professora especial no seu percurso – uma professora de Geografia – que lhe passou esta “visão holística” do mundo, um termo recente, mas cuja “ciência” é bem mais antiga: a de olhar as coisas como um todo. Que é o que a Ecologia procura fazer: olhar multi e transdisciplinarmente, perceber a relação entre todos os elementos, como se influenciam e interdependem.

Trata-se de ler a Natureza.

“Quando nós lemos a Natureza, ela está a permitir-nos entender a sua mensagem, e o seu grito de alerta, ou não. E eu acho que, no fundo, ainda nos falta chegar exactamente a isso. Nós temos uma série de indicadores, nós temos uma série de informações que nos podem dar o alerta de que as coisas não estão bem ou, pelo contrário, estão na perfeição, mas precisamos de um todo de resposta e isso ainda precisamos de fazer, só se faz com a transdisciplinaridade dos conhecimentos múltiplos, complexos.”
É uma verdadeira aventura, compreender a biodiversidade e o funcionamento dos ecossistemas.

Maria Amélia Martins-Loução é Professora Catedrática jubilada.
 
Começou a sua carreira numa altura em que a Biologia significava “dar aulas”, mas queria ir mais longe. Teve o incentivo do seu Professor, Fernando Catarino, uma figura de referência numa área em que, há 50 anos, havia apenas um doutorado em Biologia de 10 em 10 anos.
 
Mas, Maria Amélia – ainda hoje as Professoras são tratadas pelo primeiro nome, e não pelo apelido, o que é reservado aos homens – portanto, e corrigindo o texto: Mas, a Professora Martins-Loução e muitas colegas biólogas e muitos colegas biólogos queriam fazer investigação.

Seguiu os passos do seu professor e mentor na área da citogenética. Em Heidelberg, contactou com o topo da área, com condições que não existiam na Faculdade de Ciências. Num congresso no Canadá sofre uma desilusão tremenda – um grande mestre italiano dissuade-a de perseguir os seus sonhos; nas entrelinhas, fica claro que se a Professora Martins-Loução persistisse naquela área, as suas publicações seriam boicotadas. Um acto de discriminação pela sua idade e, também, pelo seu género.

Contou com todo o apoio do seu professor, Fernando Catarino, hoje um amigo.
Mudou de tema de doutoramento e foi para Salamanca desenvolver o seu trabalho. Ao mesmo tempo, conseguiu desenvolver em Lisboa as condições laboratoriais para permitir a continuidade do seu trabalho. Abdicou de defender tese em Salamanca, agraciando a sua universidade com a sua tese de doutoramento – nos anos 80 ainda não existia o modelo misto, como hoje.
Abraçou sempre a missão de divulgar e comunicar ciência, como professora, claro, mas aperfeiçoou-se em 2004, tirando o Mestrado em Comunicação de Ciência – hoje em dia, escreve no jornal Público, participa em inúmeros eventos e actividades para todas as idades e níveis de saber.

Em 2021, recebeu o Prémio Ciência Viva, um entre muitos outros.
Foi Vice-Reitora da Universidade de Lisboa, Diretora do Jardim Botânico de Lisboa, Presidente do Museu Nacional de História Natural e Presidente do Departamento de Biologia Vegetal da Faculdade de Ciências.


Comemorando os 25 anos da Sociedade Portuguesa de Ecologia – a que preside – Maria Amélia Martins-Loução coordenou, juntamente com Rúben Oliveira, o livro Um pouco por toda a parte: a ecologia no século XXI, que reúne mais de 30 ensaístas. A obra foi lançada no final de Fevereiro de 2023.
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