Museu de Arte Antiga inicia programação fora de portas com exposição no Museu Abade de Baçal

O Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), que encerra para obras no dia 29 de setembro, vai ter uma programação "fora de portas" já a partir de outubro com uma exposição no Museu Abade de Baçal, em Bragança.

Lusa /

O MNAA, localizado na Rua das Janelas verdes, em Lisboa, vai encerrar ao público no âmbito de obras do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), e deverá reabrir no segundo semestre de 2026, indicou a diretora do museu em entrevista à agência Lusa.

De acordo com a nova diretora, Maria de Jesus Monge, "está a ser preparada um programação fora de portas a começar já no final de outubro no Museu Abade de Baçal, que termina obras nessa altura".

"Será um primeiro momento fora de portas com uma exposição própria, integralmente com obras do MNAA", sublinhou a responsável, acrescentando que este programa "vai ter continuidade sobretudo fora de Lisboa, porque é importante que também no exterior dos grandes centros os públicos possam beneficiar do muito que a coleção do museu tem para oferecer".

De acordo com a direção, durante a última semana de abertura, entre hoje e 28 de setembro, a entrada no MNAA será gratuita, e está previsto para domingo um programa de atividades para crianças e famílias de entrada livre, entre visitas orientadas, jogos e momentos musicais.

"Não basta ter uma coleção extraordinária, é preciso que o público tenha melhor conhecimento e acesso à informação das obras. Queremos ter uma boa estratégia de comunicação para atrair aqueles que se interessam pelo que o museu pode oferecer", advogou a historiadora e museóloga que foi vogal da empresa pública Museus e Monumentos de Portugal (MMP) entre outubro de 2023, até à substituição da administração, em maio de 2024.

Durante as obras, estão previstas intervenções em três zonas do edifício do MNAA.

No piso 2, dedicado às coleções de ourivesaria, joalharia, cerâmica e artes da expansão, serão atualizados os equipamentos museográficos e o discurso expositivo, e na Galeria de Arte Europeia, decorrerá uma reformulação e atualização da sinalética e da museografia.

As duas outras empreitadas -- além do restauro da Capela das Albertas em curso -- referem-se à reabilitação do edifício nas coberturas e conservação das fachadas do museu.

É intenção da direção, durante o período de encerramento, "reforçar o trabalho em rede", em conjunto com a MMP, tutelada pelo Ministério da Cultura, Juventude e Desporto, que gere os museus e monumentos nacionais, bem como com outros museus com os quais o MNAA tem projetos conjuntos.

"Nós vamos estar muito ativos durante o encerramento, não só a preparar as obras para exposições, fazer pequenos restauros, alargar a conservação e a continuação da investigação da coleção. Queremos tornar os espaços mais acessíveis e publicar projetos de investigação, e lançar também a fotobiografia do museu", acrescentou.

Questionada sobre os recursos humanos qualificados atualmente disponíveis no MNAA, Maria de Jesus Monge elogiou uma "equipa de excelência, que, aparentemente, sendo grande, não o é, porque há um grupo de conservadores e gestores de coleção que detêm um saber imenso a preparar-se para sair nos próximos dez anos".

"Sentimos uma imensa necessidade de ter continuadores, de conservadores juniores que um dia possam assumir esses lugares. Está a tornar-se difícil perceber, daqui a uma década, quem estará no museu a trabalhar no estudo e conhecimento das coleções. Neste momento, temos falta de toda uma geração que possa um dia vir a assumir essa função tão importante", admitiu a diretora à Lusa.

Por outro lado, a museóloga apontou na necessidade de formar funcionários "em novas competências que antes não estavam presentes nos museus, e hoje são fundamentais, sobretudo na área da mediação, novas tecnologias, comunicação, e novas formas de interagir com o público".

Maria de Jesus Monge assinalou que atualmente existe "um vazio" em certas áreas de formação, e o MNAA "quer também voltar a ter um papel nessa área, apoiando a rede de museologia nacional nas suas competências específicas que não se aprendem na universidade, mas sim no museu, num trabalho prático, com os objetos".

Nesse sentido, o Museu Nacional de Arte Antiga vai começar já este ano com uma ação de formação na área da gravura dirigida a técnicos da MMP.

"Nós vamos fechar, mas não vamos desaparecer. Vamos ter uma visibilidade que demonstra que continuamos a servir", salientou a diretora do MNAA, que também foi conservadora do Museu-Biblioteca da Casa de Bragança desde 1996, onde assumiu a direção em 2000.

Criado em 1884, o MNAA reúne atualmente um acervo de cerca de 40 mil peças, albergando a mais relevante coleção pública do país em pintura, escultura, artes decorativas -- portuguesas, europeias e da Expansão --, desde a Idade Média até ao século XIX, e o maior número de obras classificadas como "tesouros nacionais", assim como a maior coleção de mobiliário português.

No acervo encontram-se, nos diversos domínios, algumas obras de referência do património artístico mundial, nomeadamente os Painéis de São Vicente, de Nuno Gonçalves, considerada uma obra-prima da pintura europeia do século XV.

De acordo com a informação mais recente do portal Mais Transparência, no âmbito do PRR foi atribuído um financiamento de 6,57 milhões de euros para intervenções no MNAA, dos quais já foram pagos 1,32 milhões, tendo como prazo de conclusão 30 de junho de 2026.

O PRR é um programa europeu, com um período de execução até 2026, que visa implementar um conjunto de reformas e investimentos destinados a repor o crescimento económico sustentado, após a pandemia.

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