Os sons, as cores e as formas de Kandinsky em novo projeto digital

por Nuno Patrício - RTP
Foto: Centro Pompidou/DR

O Centro Pompidou divulga a partir desta quarta-feira uma original colaboração com a Google Arts & Culture em torno do trabalho de Vassily Kandinsky. Trata-se de um projeto digital sem precedentes que permite mergulhar no trabalho deste artista-chave para a história da arte do século XX.

Vassily Kandinsky dedicou toda a vida à criação de um mundo pictórico e espiritual que é considerado um passo pioneiro para o movimento abstrato.

Ao longo dos anos, desenvolveu uma reflexão sobre a arte abstrata que coloca em causa a definição do que é uma pintura nas suas regras basilares. Embora muitos possam reconhecer algumas das suas obras de arte mais famosas, mais difícil será conhecer o homem responsável pelas telas.
Graças à digitalização de alta definição de milhares de obras e raros documentos de arquivo - telas, esboços, desenhos, privados fotografias, correspondência de cartas -, esta experiência digital reúne obras-primas icónicas, mas também permite conhecer o artista Kandinsky como nunca foi possível no passado.

Esta nova adaptação digital permite ao utilizador descobrir as viagens e encontros que deixaram uma marca duradoura na vida do artista, bem como o dom da sinestesia de Kandinsky, ou seja, a capacidade de perceção multissensorial que lhe permitiu explorar a relação entre sons, cores e formas.

O projeto é composto por três partes. A primeira é uma monografia de exposições, que reúne obras, fotografias, paletas, pincéis e outros objetos que lhe pertenciam.

Créditos: Centre Pompidou, MNAM-CCI/Georges Meguerditchian/Dist. RMN-GP

Entre estas, figura a Coleção Kandinsky doada ao Centro Pompidou pela esposa, Nina Kandinsky.

A segunda parte é uma "Galeria de Bolso" que permite a qualquer pessoa com um smartphone ou tablet "andar" por uma exposição em realidade aumentada e com a possibilidade de ver de perto, quase ao ponto de lhes poder tocar, algumas das mais importantes obras de Kandinsky presentes no Centro Pompidou.

Wassily e Nina Kandinsky na sua casa em Berlim/DR

A terceira parte, intitulada "Tocar como Kandinsky", é uma experiência original interativa que utiliza tecnologias de ponta para reinterpretar o dom da sinestesia de Kandinsky, combinando inteligência artificial e partituras musicais originais criadas por dois artistas de música experimental (Antoine Bertin e NSDOS).

"A cor é o teclado, os olhos são as harmonias, a alma é o piano com muitas cordas. O artista é a mão que toca, tocando uma tecla ou outra, para causar vibrações na alma" - Wassily Kandinsky.
Colaboração da Google Arts & Culture
Desde 2011 que a multinacional norte-americana Google tem apostado no segmento da arte e da cultura. Criou uma plataforma digital que permite aos internautas aceder ao mundo da cultura e da arte em qualquer lugar, através de um computador, tablet ou smartphone.

Com mais que 500 milhões de pesquisas relacionadas com arte no Google, todos os meses, o objetivo desta plataforma digital é democratizar o acesso à cultura, colocando ao dispor dos utilizadores tesouros, histórias e conhecimentos de mais de duas mil instituições culturais de 80 países, através de um ecrã.

O Centro Pompidou escolheu o trabalho de Vassily Kandinsky para lançar a sua colaboração com a Google Arts & Culture.
Para a ocasião, a empresa digitalizou a coleção do autor de mais de três mil obras, fotografias, documentos e objetos, adquiridos em 1981 pelo Centro Pompidou, graças à doação de Nina Kandinsky. Foi criado um projeto original em três partes, com base na coleção Kandinsky e sobre a coleção científica e experiência de Angela Lampe, curadora de Arte Moderna no Musée National d'Art Moderne, do Centro Pompidou, em França.

Uma monografia online – parte 1

A primeira parte do projeto consiste numa monografia online contendo vários documentos exclusivos, entre os quais encontramos várias cartas, manuscritos, documentação e fotografias, algumas delas divulgadas pela primeira vez ao público. Documentos que foram organizados por temas (música, viagens, comitiva) e revelam a vida e obra de Kandinsky desde a sua estreia na Rússia até ao tempo em que ensinava na escola Bauhaus.

Wassily Kandinsky no seu atelier em Neuilly-sur-Seine, França/DR

Com as ferramentas disponíveis na plataforma Google Arts & Culture, as exposições oferecem vários formatos interativos, nos quais é possível ver exposições temáticas, com "visitas detalhadas sobre as pinturas do autor, que permitem ao internauta ampliar e ver com detalhe as obras e artigos. Fornece-se ainda informações científicas precisas sobre o trabalho do mestre de arte abstrata.

Uma Galeria de bolso – parte 2

A segunda parte do projeto é uma “galeria de arte de bolso”, que na realidade vai permitir que os utilizadores consigam admirar as principais obras de Kandinsky. As peças são exibidas por tema e é possível ver a evolução da obra pictórica do artista desde os seus primeiros dias para abstração e das criações russas para Bauhaus, incluindo a obra “Os anos parisienses”.

Esta visita virtual, pioneira do género, permite uma imersão em cada uma das composições, proporcionando uma mais-valia nos detalhes das obras de arte do artista, sem precedentes, e que normalmente escapariam ao olhar normal.

“Play a Kandinsky” – parte 3

A terceira e última parte, a mais ousada, consiste numa experiência interativa em que o internauta pode "tocar um Kandinsky". Neste caso a aplicação oferece ao visitante a possibilidade de explorar o dom da sinestesia de Kandinsky, ou seja, capacidade de perceção multissensorial.

O dom da sinestesia acionava no cérebro do pintor em dois sentidos que funcionavam sistematicamente juntos: a audição e visão.


Kandinsky, ao olhar para as cores e as formas,  traduzia essas imagens em sons, harmonias e vibrações, com padrões que, para si, faziam sentido. E é essa experiencia que a Google e o Centro Pompidou consegue oferecer através da magia da computação, podendo o utilizador, através da música, descobrir uma das pinturas mais emblemáticas de Kandinsky: O quadro Amarelo, Vermelho, Azul.
Tocar nos quadros e ouvir os sons
Com esta experiência interativa, o utilizador tem a oportunidade de ouvir digitalmente os sons que Kandinsky ouvia e sentia dentro de si ,ao imprimir cor numa tela branca.
“Sem ter de se sujar”, o internauta, através do teclado e do rato, ao fazer zoom e clicar nas diferentes zonas da pintura, é convidado a descobrir os elos sonoros estabelecidos por Kandinsky entre música, formas e cores.

Por exemplo, Kandinsky associou a cor azul com o som produzido por um órgão e aos sentimentos de tristeza ou paz. Logo, quando o internauta toca num tom azul, vai ouvir sons deste instrumento, sendo que, dependendo da tonalidade mais forte ou mais suave, o som será reproduzido.

A tela é assim transformada numa criação que combina composições musicais (notas de instrumentos musicais) com as formas e cores da pintura, permitindo aos utilizadores compor notas sonoras através das cores na tela.
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