Regicídio de D. Carlos "envolto em mistério"

por © 2007 LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A.
Mistério de um assassinato DR

O assassínio do Rei D. Carlos e do Príncipe D. Luís Filipe, há cerca de 100 anos, "continua envolto em mistério e suscita dúvidas" ao investigador José Manuel de Castro Pinto, que escreveu uma nova biografia do monarca.

"Há coisas que não se percebem. O Governo foi avisado mais que uma vez, uma delas a partir da embaixada em França de que o Rei corria risco de vida. Não se compreende como a carruagem régia ia tão desguarnecida, sem qualquer guarda militar ou municipal atrás", disse à Lusa o autor.

Para José Manuel de Castro Pinto, "apesar do que se conhece, nomeadamente que o atentado foi cuidadosamente preparado, o regicídio está envolto em mistério, e há no mínimo clara incúria do Governo de João Franco".

O Rei D. Carlos e o Príncipe Real D. Luís Filipe foram assassinados na Praça do Comércio, em Lisboa, a 01 de Fevereiro de 1908, quando regressavam de Vila Viçosa.

A Família Real seguiu numa carruagem descoberta sem escolta da estação fluvial de Sul e Sueste em direcção à rua do Arsenal, onde Buíça e outro seu cúmplice atentaram contra a vida do soberano e do príncipe herdeiro.

Segundo o autor, que faz uma leitura de vários relatos de testemunhas da época, o Rei tinha optado por mandar abrir a carruagem, segundo o coronel Alfredo Albuquerque, que adianta ainda ter o monarca telegrafado afirmando preferir usar carruagem ao automóvel.

Citando várias fontes da época, o autor afirmou que "era já voz corrente que se ia matar o Rei até como um gesto contra o Governo do ambicioso João Franco. Até o criado de Thomaz de Mello Breyner, médico da Corte, o informou que iam matar o Rei".

"Havia vários sectores da sociedade descontentes com a governação de João Franco, não só sectores republicanos como até monárquicos convictos", afirmou Castro Pinto, segundo o qual a consequência directa do regicídio foi a implantação da República em 1910.

Do atentado escaparam ilesos a Rainha e o infante D. Manuel, que assumiria a coroa até à implantação da República, vindo a falecer em Londres em Julho de 1932, aos 42 anos.

Para o autor "não há ilesos nos sectores nobres e monárquicos da morte do Rei e do Príncipe".

Autor de outras biografias, nomeadamente da do salteador José do Telhado, Castro Pinto afirmou ter escolhido a figura de D. Carlos por lhe "suscitar interesse" e ter sido "um diplomata notável, um artista de mérito" e também "para que se fizesse justiça à Rainha D. Amélia, a quem muito devemos desde a fundação do Instituto dos Socorros a Náufragos à Assistência Nacional aos Tuberculosos e o Museu dos Coches".

"D. Carlos. A vida e o assassinato de um Rei", com chancela da Plátano Editora, é qualificado pelo seu autor como "uma obra de divulgação".

"Não é uma biografia definitiva de todo, mas antes uma aproximação à vida do monarca desde a sua meninice até ao bárbaro assassinato", afirmou.

O autor divide o livro em quatro partes. A primeira, desde o nascimento de D. Carlos em 1863 à sua subida ao trono em 1889; a segunda aborda a questão do ultimato inglês e a partilha de África e ainda as querelas partidárias e dissidências; a terceira intitulada "a galopada final para o assassínio" começa com a chamada de João Franco para presidir ao Governo até 1908.

A quarta parte dedica por inteiro à personalidade de D. Carlos Fernando Luís Maria Vítor Miguel Rafael Gabriel Gonzaga Xavier Francisco de Assis Jose Simão de Bragança Sabóia Bourbon e Saxe-Coburgo-Gotha, 35º e penúltimo Rei de Portugal.

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