Rui Mourão vai ao Museu do Chiado demonstrar que protesto político também é arte

por Lusa

Lisboa, 02 jul (Lusa) -- O artista plástico Rui Mourão inaugura, na sexta-feira, no Museu do Chiado, em Lisboa, uma vídeo-instalação na qual pretende demonstrar que as novas formas de protesto político, no espaço público, se cruzam de "forma significativa" com a arte.

O artista explicou à Lusa que explora, nesta "vídeo-instalação", o conceito de "performance artivista", por si criado, e que procura evidenciar como os recentes protestos - "de qualquer quadrante político, mas todos tendo como alvo o bem comum" -- estão "contaminados pela arte".

Um dos exemplos citados por Rui Mourão remonta a 05 de outubro de 2012, quando, em plena celebração oficial da implantação da República, no Pátio da Galé, em Lisboa, a cantora lírica Ana Maria Pinto se infiltrou no local, para interpretar inesperadamente, "Firmeza", uma das "Canções Heroicas", de Fernando Lopes-Graça.

Outro exemplo dado pelo artista foi em fevereiro de 2013, quando o primeiro-ministro discursava no parlamento e, nas galerias, se começou a entoar a "Grândola, Vila Morena", de José Afonso, ou ainda, o caso de um grupo de monárquicos que conseguiu içar a bandeira azul e branca, com a máscara de "Darth Vader" de "A Guerra das Estrelas", nos Paços do Concelho, em Lisboa.

Intitulada "Os Nossos Sonhos Não Cabem Nas Vossas Urnas", frase que retirou de um dos cartazes da "Acampada do Rossio", em Lisboa, em 2011, a exposição apresenta dez "`performances artivistas` ocorridas em Lisboa entre 2009 e 2013, como uma única composição que constitui uma metáfora da esfera pública", explicou Rui Mourão à Lusa.

A vídeo-instalação é inaugurada às 19:00 de sexta-feira, no Museu do Chiado, em Lisboa, e conta com a apresentação de uma "performance", com a colaboração do Coletivo Negativo, e a apresentação do livro "Ensaio de Artivismo", de autoria do artista.

"Nesta obra demonstro os princípios que definem as performances ligadas ao `artivismo` e o que as contextualiza nos dias de hoje, nomeadamente nos novos e novíssimos movimentos sociais, para compreender as analogias existentes entre as estratégias de dissensão no âmbito do protesto político no espaço público e as dissensões formais do campo artístico".

"São essas estratégias -- artivistas -- vindas do exterior do sistema institucional que, apostando na criatividade, na emoção, na comunicação e no inesperado, permitem a qualquer pessoa motivada tornar-se num ator político a ocupar a esfera pública e a contribuir para o exercício da Democracia", rematou o artista.

A exposição, além das dez "performances artivistas", apresenta entrevistas realizadas com os protagonistas das ações, "que relatam, na primeira pessoa, os respetivos pontos de vista e estratégias".

Ao filmar os ativistas nas suas ações, "esta vídeo-instalação esboça uma etnografia de práticas e agentes de contestação ao nível dos novíssimos movimentos sociais", argumentou o artista, à Lusa.

Rui Mourão, de 36 anos, estudou fotografia e arte contemporânea na Universitat Autònoma de Barcelona e interpretação/cinema no Centre d`Estudis Cinematogràfics de Catalunya, estudou artes visuais na Maumaus - Escola de Artes Visuais, de Lisboa e na Konsthögskolan i Malmo, na Suécia, e fez uma pós-graduação em Culturas Visuais Digitais e mestrado em Antropologia, no ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa.

Com dezenas de exposições já apresentadas, Rui Mourão, em declarações à Lusa, contestou o facto "de os artistas visuais nunca terem qualquer contrato com os museus em que expõem, nem nunca serem remunerados pelo seu trabalho".

"Tal seria impensável em qualquer outra profissão! Como se nós não comêssemos, apesar das nossas exposições constituírem um fator dinamizador dos museus", acrescentou.

O artista reivindica "aquilo que as instâncias internacionais recomendam para um desenvolvimento sustentável, isto é, um por cento do Orçamento do Estado para a Cultura" e que a respetiva pasta governamental "esteja na mesa de decisões de igual para igual, isto é no conselho de ministros e não com representantes de relevância menor, como é o caso de um secretário de Estado".

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