Sotheby`s devolve joias sagradas à Índia. Tesouro estará ligado a restos mortais de Buda

A leiloeira Sotheby's devolveu um tesouro em joias à Índia após a acusação de estar a violar as leis do património cultural indiano. Em causa está um conjunto de cerca de 334 pedras preciosas, pérolas, rubis, safiras e folhas de ouro. Esta semana, o Governo indiano garantiu o repatriamento das relíquias que acredita estarem ligadas aos restos mortais do Buda. A pressão da Índia começou quando interrompeu o leilão, há dois meses, em Hong Kong.

Carla Quirino - RTP /
Sotheby's

Em maio, a Sotheby’s preparava-se para leiloar as 334 pedras preciosas nos escritórios em Hong Kong quando o Ministério indiano da Cultura ameaçou tomar medidas legais “por violações das leis do património cultural”.

A crescente pressão do Governo indiano e dos líderes budistas globais prende-se com o conjunto de joias consideradas sagradas, por se acreditar estarem ligadas aos restos mortais do Buda – as Gemas de Piprahwa.
Tesouro funerário

A história da descoberta dos artefactos preciosos remonta a 1898, quando o gerente imobiliário inglês William Claxton Peppé escavou um montículo de terra da sua propriedade em Piprahwa, no norte da índia, perto do local de nascimento do Buda.

As gemas foram originalmente enterradas num monumento funerário em forma de cúpula em Piprahwa, na atual Uttar Pradesh, na índia, datado entre os anos 240-200 a.C. Terão sido misturados com alguns dos restos cremados do Buda, que morreu aproximadamente em 480 a.C.

Peppé desenterrou 1.800 pérolas, rubis, safiras e folhas de ouro – localizadas ao lado de fragmentos de ossos identificados por uma urna inscrita como pertencente ao próprio Buda.

Parte deste espólio como os urnas, relicários e pedras preciosas foi entregue ao Governo colonial indiano que as enviou para o Museu Indiano em Calcutá - atual Museu Imperial de Calcutá.

O restante tesouro que inclui um conjunto de 300 gemas ficaram na posse da família Peppé durante 127 anos.

Acabou por ser exibido publicamente na Sotheby's Hong Kong em fevereiro e maio deste ano e estava avaliado em cerca de 11 milhões de euros.

Apresentação de algum do espólio precioso de Piprahwa | Foto: Leiloeira Sotheby's
Devolução da Sotheby's
Os planos da leiloeira foram travados quando investigadores e líderes budistas questionaram se os objetos sagrados - especialmente aqueles ligados a restos humanos - deveriam ser tratados como mercadorias.

Para muitos budistas, as joias são inseparáveis dos restos sagrados e destinados a serem venerados, não vendidos.

Os historiadores e arqueólogos consideram que as relíquias fazem parte da herança partilhada do clã Sakya do Buda e dos budistas em todo o mundo. Desde então, os fragmentos de ossos foram distribuídos para países como Tailândia, Sri Lanka e Mianmar, onde permanecem objetos de veneração.

Entretanto, Chris Peppé, bisneto de William, em sua defesa, argumentou à BBC em maio que a família procurou doar as relíquias, mas “todas as opções apresentaram problemas e um leilão parecia a maneira mais justa e transparente de transferir essas relíquias para os budistas".

A 7 de maio, a Sotheby's adiou o leilão das joias e esta semana, foi confirmado o retorno do espólio.

O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, reagiu na rede X, classificando o momento como “um dia feliz para a herança cultural” indiana.

Modi acrescentou que este anúncio “tornou todos os indianos orgulhosos com o retorno das relíquias sagradas de Piprahwa do Buda Bhagwan, depois de 127 longos anos". 


"Estas relíquias sagradas destacam a estreita associação da Índia com o Buda Bhagwan e os seus nobres ensinamentos. Também ilustra o nosso compromisso em preservar e proteger diferentes aspetos da nossa cultura gloriosa”, rematou Modi.

A leiloeira declarou estar "grata à família Peppé por ter salvaguardado as gemas e por ter trabalhado em conjunto - e com o governo indiano - de boa fé para alcançar este resultado".

Em comunicado, a Sotheby’s sublinhou ainda que estava contente por fazer parte do processo da "devolução histórica" das gemas sagradas para a Índia.

“Isto completa a nossa busca ativa nos últimos dois meses para identificar quem melhor pode ser o fiel depositário das gemas. Este dia é o culminar da nossa estreita colaboração com a família Peppé, o comprador e o governo indiano para concluir esta venda, que vê o retorno permanente das gemas Piprahwa para o país, onde estarão em exibição pública no futuro", acentuou a leiloeira.
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