Vila dos EUA torna-se sucesso com ensino do português do pré-escolar ao secundário
O programa de ensino de português na vila de Hudson (nordeste dos EUA) tornou-se caso de sucesso, com o idioma a ser ensinado do pré-escolar ao secundário por professores recrutados diretamente de Portugal.
Num distrito escolar com 2.332 alunos, 670 aprendem português ou em português, destacando-se o caso da Escola Primária Farley, a única do distrito do estado de Massachusetts em que os alunos têm acesso a um programa `dual language`, ou seja, um programa letivo em duas línguas, em que num período as disciplinas são lecionadas integralmente em português e no período seguinte em inglês.
São 197 os alunos que têm aulas no modelo `dual language`, sendo um dos programas de maior sucesso e maior consistência no país, explicou à Lusa o coordenador do ensino português nos Estados Unidos da América (EUA), João Caixinha.
O programa de português em Hudson tem beneficiado de um acordo entre o Camões I.P. e o Departamento de Educação de Massachusetts, permitindo recrutar professores de português, no âmbito do Programa de Professores Visitantes de Portugal.
Tendo em conta a pequena dimensão do distrito escolar, Caixinha enalteceu o grande investimento que é feito pela gestão local na contratação dos docentes, incluindo 12 professores, dois especialistas de leitura e um `instructional coach` (formador de docentes).
Mas o sucesso do ensino de português em Husdon está também diretamente ligado à luta histórica dos imigrantes para que o idioma passasse das escolas comunitárias para as públicas.
Nessa luta destacou-se o comendador Claudinor Salomão, uma figura incontornável na comunidade portuguesa em Massachusetts e que nos anos 1970 liderou as reivindicações para que os impostos que os portugueses pagavam fossem também usados para esse fim, segundo explicou à Lusa o professor Aníbal Serra, cujo doutoramento focou-se nos alunos de herança no distrito escolar de Hudson.
Aníbal Serra mudou-se para os EUA como professor visitante e é hoje `instructional coach`, um líder educacional que trabalha em parceria com professores para aprimorar as práticas de ensino, o planeamento de aulas e os resultados dos alunos, em mais um exemplo do investimento de Hudson no português.
À semelhança de outras partes da costa leste dos EUA, a esmagadora maioria dos habitantes de ascendência portuguesa em Hudson tem origens açorianas, especialmente de Santa Maria, segundo a investigação de Aníbal Serra.
A maior vaga migratória de açorianos para Hudson verificou-se depois da Segunda Grande Guerra, sobretudo, nas décadas de 1960 e 1970, após a erupção dos Capelinhos no Faial, indicou.
"Nos anos 70, há tantos portugueses em Hudson, que o português é a língua franca, é a língua falada nas ruas. Com essa portugalização de Hudson, as comunidades juntaram-se e disseram: `já que nós pagamos impostos, queremos português nas escolas para os nossos filhos poderem escrever e falar a língua que nós falamos`. E é daí que vem. Nos anos 1970 começa o português nas escolas públicas como disciplina", disse o docente à Lusa.
Contudo, à medida que a imigração portuguesa para os EUA foi diminuindo, o português europeu "foi morrendo no sentido de falante" em Hudson, sublinhou.
"Nós temos o clube português, as festas, a comida, os restaurantes, os supermercados portugueses, mas já não se fala português europeu como nos anos 60 e 70. Agora fala-se muito o português do Brasil, porque são eles que chegam e são eles os falantes da língua", afirmou Serra.
Ana Pimentel chegou aos EUA há cerca de 18 anos como professora visitante de Portugal. Hoje é coordenadora de Educação para as línguas estrangeiras do distrito escolar de Hudson.
À Lusa, a docente destacou a vaga de imigração brasileira, que permitiu que a língua portuguesa ganhasse uma nova dimensão em Hudson e impulsionou a abertura do programa de `dual language`.
"Os alunos portugueses, quase todos de segunda e terceira geração, chegam até nós já sem a língua portuguesa, porque quando as escolas não apoiam, a língua perde-se na terceira geração. Mas o que aconteceu aqui é que esta vaga de imigração brasileira permitiu que a língua chegasse novamente, através dos nossos alunos", explicou.
Além de portugueses e brasileiros, Ana Pimentel indicou que o programa de ensino de português em Hudson conta também com alunos norte-americanos, que não têm qualquer relação com Portugal ou com o Brasil, mas cujos pais querem que sejam bilingues.
Os EUA são um dos países onde o ensino de português mais tem crescido, com mais de 20 mil alunos no ensino básico e secundário, e mais de dois mil estudantes no ensino superior, apoiados por mais de quatro centenas de professores, segundo dados oficiais, que apontam para um crescimento de 100% nos últimos 10 anos.