Acordo comercial com EUA. Menos incertezas mas mais custos para empresas e consumidores
O tão esperado acordo comercial entre os Estados Unidos e a União Europeia, anunciado no domingo por Donald Trump e Ursula von der Leyen, impõe tarifas de 15 por cento sobre a maioria dos produtos europeus, colocando termo às ameaças norte-americanas de aplicar taxas de 30 por cento em caso de não entendimento até 1 agosto. Apesar de evitar uma nova escalada nas relações comerciais, as reações ao pacto entre Washington e Bruxelas não são consensuais.
O presidente do Conselho Europeu considerou que o acordo agora alcançado permite “estabilizar o comércio” com os Estados Unidos e proteger os “interesses fundamentais” da União Europeia.
"Evita a escalada, mas põe exigências novas na luta por mais acordos de comércio, no corte de barreiras e na agenda transformadora de simplificação e redução de custos".
O acordo comercial UE-EUA traz previsibilidade e estabilidade, vitais para as empresas portuguesas e a economia. Evita a escalada, mas põe exigências novas na luta por mais acordos de comércio, no corte de barreiras e na agenda transformadora de simplificação e redução de custos.
— Luís Montenegro (@LMontenegro_PT) July 28, 2025
Enquanto se aguarda um "conhecimento detalhado dos termos e impacto" do acordo, o executivo destaca que foram salvaguardados "alguns pontos críticos".
"Seja como for", sublinha o ministério liderado por Paulo Rangel, "nada substitui a liberdade de comércio".
"Por isso, é fundamental que a UE e Portugal não desistam de se bater pela progressiva redução e eliminação de direitos aduaneiros e barreiras equivalentes ao comércio com os EUA, bem como com os restantes parceiros comerciais", salienta a nota do MNE.
A Alemanha foi um dos primeiros países a saudarem o acordo, que evita “uma escalada desnecessária nas relações comerciais transatlânticas”.
“Assim, conseguimos preservar os nossos interesses fundamentais”, declarou o chanceler alemão num comunicado.
Friedrich Merz, contudo, admitiu que desejava “mais reduções no comércio transatlântico”, sendo que os Estados Unidos são o principal parceiro comercias da Alemanha.
Já para o ministro francês do Comércio Externo este pacto EUA-UE é desequilibrado. Laurent Saint-Martin considerou, em comentários à France Inter, mesmo que o bloco europeu se devia afirmar como potência económica."Eu não quero que fiquemos pelo que aconteceu ontem [domingo]", disse o ministro francês considerando que o acordo com os Estados Unidos é "desequilibrado".
Também o ministro francês dos Assuntos Europeus da França afirmou que este acordo comercial preliminar tem alguns méritos, como as isenções para setores-chave da economia francesa, como o de bebidas alcoólicas, mas reforçou que é desequilibrado.
“O acordo comercial negociado pela Comissão Europeia com os Estados Unidos trará uma estabilidade temporária para os agentes econômicos ameaçados pela escalada das tarifas norte-americanas, mas é desequilibrado”, escreveu Haddad no X.
A primeira-ministra italiana afirmou também que o acordo comercial é sustentável, mas frisou que vai ser necessário analisar os detalhes.
Giorgia Meloni disse, à margem da cimeira das Nações Unidos sobre sistemas alimentares que decorre esta segunda-feira na Etiópia, ainda que o agravamento das relações comerciais entre a Europa e os Estados Unidos teria consequências imprevisíveis e devastadoras. Mesmo assim, para a chefe do Governo de Roma é preciso estudar os detalhes do acordo, porque, sublinhou, o documento assinado no domingo é um acordo-quadro que juridicamente não é vinculativo.
"Há uma série de elementos que faltam, assim como não sei a que se refere quando se fala de investimentos sobre a compra de gás", declarou Meloni.
E para o primeiro-ministro da Hungria o acordo comercial preliminar assinado entre os Estados Unidos e a União Europeia é "pior" do que o acordo comercial anteriormente firmado entre o Reino Unido e os EUA.
“Este é um momento de alívio, mas não de celebração”, escreveu Bart de Wever nas redes sociais.
“Espero sinceramente que os Estados Unidos, no devido tempo, abandonem a ilusão do protecionismo e abracem novamente o valor do livre comércio – um pilar fundamental da prosperidade compartilhada. Enquanto isso, a Europa deve continuar a aprofundar o mercado interno, eliminar regulamentações desnecessárias e encontrar novas parcerias para diversificar a nossa rede comercial global. Que a Europa se torne o farol do comércio aberto, justo e confiável de que o mundo tanto necessita”.
Mercados de ações globais sobem após acordo comercial
Os mercados de ações globais têm estado a recuperar depois de os Estados Unidos e a União Europeia terem fechado o acordo comercial, afastando uma grande fonte de incerteza para as empresas de todo o mundo, embora prometendo um custo permanente para o comércio transatlântico de mercadorias.
As bolsas de valores europeias dispararam na abertura da sessão desta segunda-feira: o Dax da Alemanha subiu 0,8 por cento, o Cac 40 da França avançou 1 por cento, enquanto o Ibex da Espanha avançou 0,8 por cento.
Verifica-se o mesmo nos mercados de ações asiáticos que também mostram ter recuperado: o ASX200 da Austrália subiu 0,4 por cento, o Hang Seng de Hong Kong subiu 0,4 por cento, o índice Kospi da Coreia avançou 0,6 por cento e o CSI300 de Xangai avançou 0,1 por cento. No entanto, o Nikkei 225 do Japão caiu 1 por cento, entre as dúvidas sobre os detalhes do próprio acordo comercial com os EUA.
Com o novo acordo, também é já visível o alívio na indústria automóvel: o preço das ações da Mercedes-Benz subiu 1,8 por cento, atingindo o maior nível desde o final de março, e as da Porsche valorizaram-se 1,7 por cento.
A Volkswagen avançou 0,8 por cento, embora os ganhos tenham sido limitados por um corte nas projeções da marca premium, Audi.
O acordo, que serve para desarmar uma guerra comercial entre Bruxelas e Washington, foi anunciado este domingo por Donald Trump e por Ursula von der Leyen durante uma reunião com as equipas de negociação no 'resort' de golfe do líder republicano em Turnberry, oeste da Escócia.
O acordo bilateral inclui uma tarifa fixa e máxima de 15 por cento das exportações europeias nos Estados Unidos, em vez dos 30 por cento que Washington ameaçava aplicar a partir de 1 de agosto, caso não houvesse consenso, informou Von der Leyen após a reunião com o presidente norte-americano.
Esses 15 por cento serão aplicados "à maior parte dos setores, como automóveis, semicondutores e produtos farmacêuticos". Foram ainda acordadas "tarifas zero", por ambas as partes, numa série de "produtos estratégicos", incluindo nos do setor aeroespacial e seus componentes, certos químicos, produtos agrícolas, recursos naturais e matérias-primas.
O pacto inclui um compromisso da UE de comprar energia dos EUA no valor de 750.000 milhões de dólares e investir 600.000 milhões de dólares adicionais naquele país, além de aumentar as suas aquisições de equipamento militar americano.