África é citada de forma estereotipada pelo Ocidente, Rússia e China - Estudo
Um estudo publicado hoje pela organização Africa No Filter concluiu que o continente africano é citado de forma estereotipada quando mencionado pelo Ocidente, Rússia e China que, por sua vez, procuram uma parceria acérrima com África.
O relatório "Construir Parcerias num Mundo Desigual: África nos discursos políticos do Ocidente, da China e da Rússia" analisou as "representações persistentes e a retórica emergente no discurso político" destas três regiões relativamente às nações africanas de 2020 a 2023, explicou a Africa No Filter.
"Apesar da crescente proeminência geopolítica de África, os líderes mundiais continuam a debater-se com estereótipos ultrapassados do continente, ao mesmo tempo que tentam criar uma nova narrativa de colaboração", indicou a entidade.
Através de uma análise detalhada dos discursos e declarações públicas dos líderes do G7 (Estados Unidos da América, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Canadá), da China e da Rússia, a investigação identificou temas recorrentes, incluindo "parceria com África", "problemas africanos" e "ajudar África".
"O estudo destacou uma tensão entre a retórica das parcerias iguais e a imagem atual de África como um continente que requer ajuda, estabilidade e intervenção. Também examinou as complexidades nos discursos globais, particularmente no contexto das alterações climáticas, do comércio e do legado do colonialismo", explicou.
Durante o período 2020-2023, alguns líderes ocidentais reconheceram as implicações históricas e contemporâneas da violência colonial e a responsabilidade desproporcionada que os países industrializados devem assumir pelas alterações climáticas. No entanto, na maioria dos discursos políticos, estas análises continuam ausentes, lamentou.
A ajuda continua a ser um tema importante quando os líderes das nações mais poderosas falam de África, mas a igualdade na parceria está longe de ser uma realidade, indicou.
"A preocupação com a instabilidade de África não é altruísta, pois a maioria dos países ocidentais, bem como a China e a Rússia, estão interessados em investir em África e competem entre si em termos de volumes de comércio", disse.
Se, por um lado, a Rússia joga o duplo jogo da ajuda alimentar e da ajuda militar, os líderes ocidentais não utilizam diretamente a palavra "ajuda", mas sim "auxílio" ou "apoio", "muito provavelmente para apaziguar o interesse do capitalismo político", salientou.
Já o Presidente chinês, Xi Jinping, recorre ao bloco BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) como mecanismo de cooperação "para promover o crescimento económico, melhorar a governação global e promover a democracia nas relações internacionais", indicou.
Na opinião da autora do estudo, Hui Wilcox, "todos os países [mencionados] continuam também a sublinhar a generosidade da sua ajuda a África e a necessidade da sua ajuda para a paz e prosperidade do continente".
As conclusões desta investigação sugerem que, embora haja um reconhecimento crescente da autonomia e do potencial das nações africanas, a narrativa dominante fica muitas vezes aquém de um envolvimento verdadeiramente equitativo.
"A nossa análise não nos surpreende: os políticos, tal como as pessoas que representam ou governam, continuam a agarrar-se ao estereótipo da `África problemática` que precisa de ajuda, da `África exótica` cujo destaque está na Natureza e, por vezes, da `África sábia`, que oferece ideias inspiradoras". Assim, a representação de África é simultaneamente um reflexo de estereótipos persistentes e de novas aprendizagens, disse.
Desta forma, "este relatório apela a um esforço consciente por parte dos líderes mundiais para evitar estereótipos e estabelecer parcerias genuínas e mutuamente benéficas que reconheçam a influência histórica e contemporânea de África", concluiu.
Africa No Filter é uma organização que quer mudar as narrativas estereotipadas sobre África através de histórias que refletem um continente dinâmico, de progresso, inovação e oportunidade. É financiada pela Fundação Ford, Fundação Mellon, Fundações Open Society, Comic Relief, Fundação Hilton e Fundação Hewlett, segundo a entidade.