ANACOM contra compra da Media Capital pela Altice

por RTP
Negócio da compra da Media Capital pela Altice foi anunciado em julho António Pedro Santos - Lusa

O regulador das telecomunicações entregou à Autoridade da Concorrência o parecer sobre a proposta de compra da dona da TVI pelo grupo que detém a PT Portugal (Meo), a Altice. A ANACOM diz que a compra “não deverá ter lugar nos termos em que foi proposta”, considerando que “é suscetível de criar entraves significativos à concorrência efetiva nos vários mercados de comunicações eletrónicas”.

A ANACOM foi chamada a pronunciar-se sobre o impacto no mercado das telecomunicações eletrónicas do negócio de aquisição pela MEO do controlo exclusivo da Media Capital, através da compra da totalidade do capital social da Vertix, SGPS, detentora de 94,69% do capital social da Media Capital, e do lançamento de uma operação pública de aquisição sobre o restante capital da Media Capital.
O parecer da ANACOM não é vinculativo. Apenas o parecer da Entidade Reguladora para a comunicação Social tem um parecer vinculativo.
A Autoridade Nacional de Comunicações diz que este negócio proposto se traduz numa “integração vertical completa da cadeia de valor”, desde produção de conteúdos, fornecimento de canais de tv e de rádio, publicidade e distribuição do serviço de televisão.

A ANACOM recorda que o negócio envolve a Plural, a principal produtora de conteúdos televisivos em Portugal; o canal TVI, líder de audiências e principal espaço publicitário televisivo; a MEO, o operador de telecomunicações líder em vários mercados de comunicações eletrónicas (com quotas de mercado acima dos 40%), a Sapo e a IOL, principais portais de Internet.

Dada a dimensão do negócio e dos intervenientes, a ANACOM elenca as possíveis ameaças decorrentes dessa concentração:

• Encerrar, total ou parcialmente, o acesso dos operadores concorrentes aos seus conteúdos e canais de televisão e de rádio bem como ao seu espaço publicitário.

• Encerrar, total ou parcialmente, o acesso de outros canais (por exemplo, a SIC e a RTP) às suas plataformas, nomeadamente de televisão por subscrição, portais de Internet (Sapo e IOL) e serviços OTT.

• Utilizar informação sensível ou confidencial dos concorrentes em seu benefício, nomeadamente no âmbito das campanhas de publicidade.

• Introduzir menor transparência nos preços praticados no serviço de TDT internamente (à TVI) e externamente (aos restantes operadores de televisão), dificultando a análise e verificação do cumprimento das condições regulamentares impostas neste âmbito.

• Impedir os operadores alternativos de fornecer serviços na gama “760” à TVI, nomeadamente para televoto, participação em concursos televisivos e angariação de donativos.

Perante esta capacidade que a nova empresa passaria a ter e “caso se concretizem, estes incentivos podem colocar entraves significativos à concorrência efetiva nos mercados de comunicações eletrónicas”.

Por outro lado, a ANACOM realça que na proposta de aquisição que esteve a analisar, “não foram especificamente identificados benefícios da operação de concentração pela notificante”.

O acordo de princípio para a compra da Media Capital pelo MEO (grupo Altice) foi anunciado em julho deste ano. A compra de 440 milhões de euros esteve envolta num ambiente de crispação política. Surgiu poucos dias depois de o primeiro-ministro ter endereçado duras críticas à Altice pela forma como tem gerido a empresa e os recursos humanos.

Os vários partidos políticos vieram a público por causa do negócio e o Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa chamou a Belém a Altice, Prisa, Media Capital e Impresa para audiências.
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