Banco de Portugal revê crescimento do PIB de 2023 em baixa para 2,1%

por Inês Moreira Santos, Carlos Santos Neves - RTP
André Kosters - Lusa

O Banco de Portugal avançou esta quarta-feira com uma revisão em baixa das estimativas de crescimento do Produto Interno Bruto, prevendo agora 2,1 por cento em 2023 e 1,5 em 2024.

No Boletim Económico de outubro, apresentado no Museu do Dinheiro, em Lisboa, a instituição encabeçada por Mário Centeno procede a um corte nas previsões de crescimento económico, relativamente a junho, em 0,6 pontos percentuais para 2023 e 0,9 pontos para 2024.

A previsão do Banco de Portugal permanece acima da estimativa oficial do Ministério das Finanças, de 1,8 por cento para 2023. Contudo, o Executivo já fez saber que a sua previsão poderá ser revista em alta na proposta de Orçamento do Estado para 2024.

Quanto à inflação, o Banco de Portugal faz uma revisão em alta ligeira da estimativa para este ano e 2024: 5,4 e 3,6 por cento, respetivamente.Os preços da energia continuam a condicionar as contas do banco central, que, ainda assim, espera que a taxa mantenha uma trajetória de recuo.


O Boletim Económico revê então em alta de 0,2 pontos percentuais, em 2023, e de 0,3 pontos, em 2024, a previsão para o Índice harmonizado de preços no consumidor face a junho.

A instituição estima que a taxa de inflação regrida de 8,1 por cento em 2022 para 5,4 em 2023, 3,6 em 2024 e 2,1 por cento em 2025, comportamento que considera ser "consistente com o objetivo de estabilidade de preços do Banco Central Europeu". Recuperação pós-pandemia "é desafiante"

Sem nos darmos conta, atalhou Mário Centeno em conferência de imprensa, “a pandemia redesenhou o comércio internacional e a recuperação, neste momento, é no mínimo desafiante”.

Em média, segundo os indicadores agora divulgados, a “procura externa entre 23 e 25 cresce dois por cento”, valor que governador do Banco de Portugal afirma ser o “mais baixo dos últimos ciclos económicos que temos enfrentado”.

“Temos que ter consciência de que o enquadramento externo que hoje enfrentamos não é um enquadramento externo muito favorável a criar estímulos ao crescimento da Economia portuguesa (…) e isso coloca-nos perante esta dificuldade acrescida”.

Além desta referida desaceleração, o governador falou da “grande retenção” que permitiu que, mesmo “perante a maior crise das últimas décadas (…), nós consigamos hoje manter níveis de rendimento disponível das famílias, quer nominal quer real, (…)”, referindo-se ao mercado de trabalho que se caracterizou por “níveis de manutenção do emprego e até de crescimento sem nenhum paralelo na economia portuguesa”.

“Nós hoje confrontamos um período de crise pandémica e de recuperação em que temos um ganho de emprego”, afirmou ainda.

Quanto ao investimento, o antigo ministro da Finanças saudou as empresas por terem interpretado como temporária “a crise pandémica”, conseguindo que o ciclo de investimento em Portugal fosse o “mais alisado de toda a área do euro” e se mantivesse “compatível com uma interpretação temporária das tensões económica e inflacionistas que vivemos”.

As projeções indicam, ainda, que o investimento público cresça até 2025, sendo muito concentrado "nos dois anos que se seguem" e com uma "trajetória muito positiva". "É uma enorme responsabilidade para a economia portuguesa cumprir estes objetivos".
Mercado da habitação
O governador do Banco de Portugal afirmou não estar "completamente" convencido de que programas como o dos residentes não habituais seja o problema do mercado habitacional, ressalvando que o fim da mesma é uma questão política.

"Confesso que não estou completamente convencido que seja esse o problema, mas é uma questão política"
, afirmou o responsável do regulador bancário, quando questionado sobre o fim da taxa especial para novos residentes não habituais.

Em causa está o anúncio feito pelo primeiro-ministro, na segunda-feira, de que em 2024 o Governo vai acabar com a taxação especial para os residentes não habituais, por considerar que a medida já cumpriu a sua função e "não faz sentido" mantê-la.

Mário Centeno sublinhou então que "o ciclo de investimento residencial em Portugal foi muito penalizado pelo programa de ajustamento, que fez contrair o setor da construção durante muitos anos", pelo que o país estabeleceu programas como este para captar investimento.

"É preciso entender o contexto histórico em que tudo isto aconteceu. Se se entende que se pode e deve terminar com estes e outros programas no contexto que podem adicionar mais pressão" ao mercado habitacional é uma decisão política, afirmou.

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