Brexit. "Não receio uma recessão" diz ministro das Finanças do Reino Unido

por Graça Andrade Ramos - RTP
Sajid Javid, foi nomeado em julho de 2019 Chanceler do Exchequer, ou ministro das Finanças do Governo de Boris Johnson Reuters

Dados estatísticos publicados esta sexta-feira, mostraram que o Produto Interno Bruto (PIB) do Reino Unido contraiu uma média de 0.2 por cento no segundo trimestre, pela primeira vez desde 2012 e surpreendendo os analistas, que esperavam um crescimento zero.

Em reação, a libra esterlina caiu para os níveis mínimos atingidos em 2017 e apenas recuperou ligeiramente, levantando receios de uma recessão.

A oposição apontou logo o dedo ao Partido Conservador e aos seus fracassos quanto ao acordo com Bruxelas para o Brexit.

O novo ministro das Finanças britânico, Sajid Javid, afastou contudo esse cenário e relativizou o peso do Brexit na contração registada.

"Claro que há empresas a ter o Brexit em consideração quando tomam decisões", afirmou à BBC. No primeiro trimestre "assistimos a um armazenamento significativo por parte das empresas britânicas na expetativa de um Brexit que não chegou a dar-se", acrescentou o chanceler.

A acumulação de reservas anterior à primeira data marcada para o Brexit, 29 de março, ajudou a aumentar a produção, levando a economia britânica a registar no primeiro trimestre um crescimento de 0.5 por cento.

"Agora que estão a desfazer-se do que acumularam, a produção está a diminuir", explicou Javid. "Ninguém ficará surpreendido com os números hoje divulgados", concluiu.Entre as causas da contração económica estão também encerramentos antecipados na indústria automobilística e o abrandamento do setor da construção.

Pelo contrário, John McDonnel, o ministro-sombra para as Finanças, considerou que "os deploráveis números da economia são um resultado direto da incompetência conservadora".

"A trapalhada que os conservadores fizeram no Brexit, incluindo o [primeiro-ministro] Boris Johnson a levar-nos para um não acordo, está a dar cabo da economia", afirmou.

Os Democratas Liberais também se mostraram preocupados.

"Procurar um Brexit sem acordo é uma escolha política sem mandato; estes números mostram que os empregos das pessoas e os seus meios de subsistência estão a ser sacrificados no altar do extremismo", reagiu Chuka Umunna, o tesoureio do partido e seu porta-voz para os temas económicos.
Sem medo do Brexit
A incerteza quanto ao Brexit tem levado a uma enorme volatilidade do PIB, mas Javid mostra plena confiança na economia britânica.

"Não espero recessão alguma. E nem precisam de acreditar em mim. Não há um único cenário que preveja uma recessão, o Banco de Inglaterra, independente, não espera uma recessão. E isso é porque sabem que os fundamentos da economia se mantêm sólidos", garantiu o responsável pelas Finanças do executivo de Boris Johnson.

"Os salários estão a crescer, o emprego está a bater recordes e esperamos vir a crescer mais do que a Alemanha, a Itália e o Japão, este ano", frisou Javid. O responsável pelas Finanças britânicas diz mesmo que a melhor forma de lidar com a incerteza é garantir que o país irá abandonar a União Europeia a 31 de outubro, com ou sem acordo.

"Temos de nos preparar para uma saída sem acordo e há ainda muito a fazer para isso", afirmou Javid esta sexta-feira, frisando que o Governo britânico quer um acordo de Brexit, que seja "justo e sensato".

"Se se der um não acordo, não tenho medo nem estou preocupado com isso", garantiu. "Estou confiante de que somos capazes de lidar com uma saída sem acordo, como sairemos ainda mais fortes".
"Situação grave" ou talvez não
A confiança do chanceler britânico não é partilhada pelo principal economista da Confederação Empresarial britânica.

À BBC, Alpesh Paleja não teve dúvidas em referir que "é evidente, a partir das nossas análises, que o impulso geral se mantém frouxo, estrangulado por uma combinação de abrandamento económico mundial e pela incerteza face ao Brexit".

"Por isso, a opinião entre os empresários é de que a situação é grave", garante.

Já a Federação dos Pequenos Empresários - que tem apelado a um orçamento de emergência - diz que, se as Finanças adiarem uma reação para depois de 31 de outubro, os seus esforços serão "demasiado poucos, demasiado tarde".

"O tempo é essencial. A menos que o chanceler intervenha já com uma ação radical, podemos vir a enfrentar um outono caótico - e um inverno muito longo", referiu o seu presidente, Martin McTague.

Entre os economistas, as opiniões dividem-se.

Se uns falam de uma "economia em declínio", a "rondar uma recessão" devido aos "receios de um abrandamento do crescimento mundial exacerbados por uma paralisia relacionada com o Brexit", outros preferem apontar o consumo privado, que se mantém "robusto", apesar de uma imagem geral sombria.

O consumo das famílias cresceu 0.5 por cento no segundo trimestre e está ainda em crescimento, pelo que "não é momento para entrar em pânico", referiu Samuel Tombs, economista chefe na Pantheon Macroeconomics.

Tombs acrescentou que o armazenamento tem travado a economia, a qual "está lenta mas não paralisada".
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