TAP. Christine Ourmières-Widener diz que está a servir de "bode expiatório"

por RTP
António Cotrim - Lusa

A ainda CEO da TAP está no Parlamento para responder novamente aos deputados sobre os contornos da saída de Alexandra Reis da empresa, um caso que levou, mais tarde, ao seu próprio despedimento, que classifica como "ilegal e uma falta de respeito". Sobre Alexandra Reis, reiterou que estava desalinhada com a estratégia e "não tinha perfil para o cargo".

Na sua declaração inicial, Christine Ourmières-Widener começou por ressalvar os resultados “excepcionais” da TAP publicados no dia 21 de março. “Muito boas notícias”, sublinhou a ainda CEO.

A gestora da TAP explicou que o seu trabalho a obrigava a uma maior proximidade com o secretário de Estado Miguel Cruz, com quem trabalhou no plano de reestruturação da companhia.
Sobre Alexandra Reis, voltou a referir que havia um “desalinhamento” com a estratégia que levava para a companhia aérea. “Não tinha o perfil necessário para ocupar o cargo devidamente”, pelo que era necessário uma reorganização.

Christine Widener explicou então os contornos do processo de Alexandra Reis, que resultaram no acordo de 500 mil euros para a saída, um montante autorizado pelo ministro Pedro Nuno Santos, de acordo com informação do secretário de Estado.
“Em conclusão, não estive envolvida em qualquer decisão numérica neste assunto, que foi tratado pelas entidades competentes. Apenas fiz trabalho de coordenação entre os advogados e com o secretário de Estado e o ministro”, sublinhou, para referir que não percebe como é que se diz que este era um caso de gestão.

Dizendo que “não tomou nenhuma decisão relevante” no processo de saída e que atuou como um intermediário entre o Governo e os advogados, explicou que “não sabia que não havia coordenação entre o Ministério das Infraestruturas e Habitação e o Ministério das Finanças, tão pouco sabia que o Ministério das Infraestruturas não tinha poder para aprovar este acordo, bem como não sabia que havia um risco legal, naquela altura”.

“Eu sou um bode expiatório”, declarou Christine Widener, considerando o processo da sua saída “ilegal” e manifestamente uma “falta de respeito” por uma gestora com o seu currículo.


“Fui demitida pela televisão, por dois ministros com um processo ilegal”, acusou.
PSD pede mais documentos

O PSD pediu os documentos e pareceres que deram “respaldo jurídico” à decisão do Governo de despedir por justa causa a presidente executiva da TAP para averiguar se foi a decisão que “melhor salvaguarda os interesses dos contribuintes portugueses”.

“O PSD quer ter a certeza de que entre a sexta-feira de assinatura da proposta de relatório (da IGF) e a segunda-feira de homologação, se existem todos estes documentos, todos estes pareceres que, com segurança inequívoca, apontem a figura de despedimento por justa causa como a melhor solução para resolver esse problema e como aquela solução que melhor salvaguarda os interesses dos contribuintes portugueses”, disse aos jornalistas o coordenador do PSD na comissão de inquérito à TAP, Paulo Moniz.

O PSD justificou assim o requerimento hoje entregue em sede de comissão, explicando que “uma decisão dessas tem que estar juridicamente muito sustentada até porque Christine Ourmières-Widener disse já que a audiência prévia tratou-se de um mero formalismo”.

Segundo Paulo Moniz, “esta figura encontrada do despedimento por justa causa tem uma litigância e um risco de assunção de custos muito maior”.


“Tenho uma boa relação com Fernando Medina. Quando assumiu as suas funções como ministro falámos sobre a TAP. Não sei se ainda o posso dizer, mas na altura tinha uma relação muito boa”, afirmou Christine Widener já em resposta a uma questão sobre a sua relação com o ministro das Finanças.Empresa do marido procurou contrato com a TAP

Questionada sobre a existência de uma relação entre a TAP e a Zamna Technologies, empresa em que é diretor o seu marido, Christine Widener descartou qualquer relação, antes de ser também questionada se a sua relação com a gestora Alexandra Reis começou a deteriorar-se quando esta se recusou a assinar um contrato com a Zamna.

A CEO insistiu na tese de que não havia qualquer contrato com a empresa do seu marido e não esteve em vista essa parceria, apesar de ter existido a apresentação de uma proposta da Zamna Technologies.

Explicando que a companhia aérea optou por outras soluções, e que essa questão já foi explicada noutra altura, Christine Widener acrescentou que “a TAP se decidiu por outra solução”.
CEO não garante que administrador financeiro soubesse valor da indemnização

A presidente executiva da TAP disse não poder confirmar se o administrador financeiro Gonçalo Pires tinha conhecimento do valor da indemnização a Alexandra Reis, adiantando apenas que teve mais do que uma conversa sobre esta saída com este responsável.

Na comissão de inquérito, Christine Widener foi questionada pelo deputado do Chega, Filipe Melo, se sabia se Gonçalo Pires tinha “conhecimento que Alexandra Reis ia ser despedida e se tinha noção dos valores que estavam a ser negociados”.

Sobre o processo em concreto, a CEO da TAP respondeu que o administrador financeiro estava a par desta questão com Alexandra Reis porque o informou de que tinham sido concluídas as negociações para a sua saída. “Depois disso, sobre o valor mesmo não posso confirmar porque não me lembro exatamente. Não posso confirmar que tinha conhecimento do valor”.

A ainda CEO da TAP admitiu que, apesar de não estar envolvida nas nomeações posteriores de Alexandra Reis, quer para a NAV quer para secretária de Estado, ficou surpreendida.
Christine Widemer reuniu-se com deputados do PS antes de audição

A presidente executiva confirmou uma denúncia da IL sobre a reunião com o grupo parlamentar do PS, na véspera de ir ao Parlamento, em janeiro, dar explicações sobre a indemnização à ex-administradora Alexandra Reis.

Em resposta ao deputado Bernardo Blanco, Christine Widener confirmou que teve “uma reunião em 17 de janeiro” com o grupo parlamentar do PS, na véspera da audição de caráter obrigatório no parlamento, para explicar o acordo de saída da ex-administradora Alexandra Reis, com uma indemnização de meio milhão de euros.

O deputado da IL quis saber se naquela reunião houve alguma combinação de perguntas e respostas, nos esclarecimentos a dar à Assembleia da República, ao que a gestora disse não se recordar.

“Penso que a ideia era fazerem perguntas sobre o processo e eu respondi a essas perguntas”, disse a ainda presidente executiva, acrescentando que, segundo a sua agenda, não estavam membros do Governo presentes na referida reunião, mas sim assessores e chefes de gabinete de membros do Governo.

c/ Lusa
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