China poderá usar moeda como arma contra Estados Unidos

A guerra comercial entre Estados Unidos e China pode estar prestes a entrar numa fase ainda mais perigosa para o sistema financeiro global. Uma desvalorização fora do comum da moeda chinesa esta segunda-feira pode ser um sinal de que Pequim poderá despoletar uma resposta dura por parte da Administração Trump, que já desaconselhou a China a tomar esse rumo.

RTP /
Neste momento, são precisos mais de sete yuans para se obter um dólar Thomas White - Reuters

A possibilidade de a China vir a desvalorizar a sua moeda começou a agitar os mercados já esta segunda-feira. Em Wall Street as ações caíram mais de 1,5 por cento depois de, na Ásia e na Europa, os índices de referência – indicadores de rendimento económico - terem registado uma queda de entre um a dois por cento.

Neste momento, são precisos mais de sete yuans para se obter um dólar.

Donald Trump já se manifestou quando ao assunto esta manhã no Twitter. “A China baixou o valor da sua moeda para um mínimo quase histórico. A isto se chama manipulação da moeda. Estás a prestar atenção, Reserva Federal?”, questionou Trump, referindo-se ao sistema de bancos centrais dos Estados Unidos.

“Esta é uma enorme violação que irá enfraquecer grandemente a China ao longo do tempo!”, alertou ainda o Presidente norte-americano.


Este enfraquecimento substancial da moeda chinesa face ao dólar, permitido pelo Banco Central da China, aconteceu pela primeira vez em mais de dez anos, e apenas poucos dias depois de Donald Trump ter ameaçado impor uma nova série de tarifas sobre as importações chinesas.

“[O Banco Central da China] está a claramente a escolher ir por esse caminho”, considerou Michael Every, diretor numa multinacional de serviços financeiros, ao New York Times. “Isto vai escalar rápida e gravemente”.

Os Estados Unidos vêem esta como uma medida agressiva por parte da China, que ao baixar o valor da sua moeda tornará as exportações mais baratas e permitirá a outros países um maior investimento no país, compensando, desse modo, as sanções norte-americanas sobre bens chineses.
Consequências na economia global
Yi Gang, governador do Banco Central, justificou a quebra desta segunda-feira com as “forças do mercado”, explicando que muitas moedas desvalorizaram em relação ao dólar recentemente. “Estou confiante em que o yuan vai continuar a ser uma moeda forte”, acrescentou.

A desvalorização é, de acordo com um comunicado lançado pelo Banco Central da China, da responsabilidade do “unilateralismo e medidas de protecionismo comercial, assim como do aumento de tarifas” imposto por Donald Trump.

Caso a China opte por desvalorizar ainda mais a sua moeda, poderá vir a sofrer consequências, uma vez que muitas das suas maiores empresas possuem empréstimos avultados em dólares americanos. Com o yuan mais fraco, pagar essas dívidas tornar-se-ia mais dispendioso.

Uma desvalorização do yuan originaria preocupações não só na China mas pelo globo, com os países que competem economicamente com Pequim a verem-se forçados a desvalorizar as suas próprias moedas. Algo que prejudicaria o crescimento global e originaria mais protecionismo nas trocas comerciais.
Governo chinês investe
Apesar do recente enfraquecimento, o yuan fortaleceu-se em 20 por cento face ao dólar nas últimas duas décadas, destacando-se das restantes moedas a nível mundial.

Essa perspetiva de crescimento é uma das razões pelas quais o Governo chinês tenciona aumentar o investimento em algumas regiões, entre as quais a área da Grande Baía, a sul do país, para onde está planeada a criação de um centro de inovação que envolve os setores petrolífero, tecnológico e financeiro.

O plano deverá levar a uma valorização do yuan e a um aumento do comércio, fazendo com que a moeda continue a ser internacionalizada.
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