Christine Lagarde. BCE "preparado" para intervir e estabilizar Zona Euro

por Graça Andrade Ramos - RTP
Christine Lagarde, presidente do BCE, fala aos deputados comissão de Assuntos Económicos e Monetários do PE em março de 2023 Reuters

A presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, aconselhou esta segunda-feira os bancos europeus a prepararem-se para um abrandamento do crescimento económico. Garantiu ainda que o BCE detém as ferramentas para qualquer apoio que se revele necessário para enfrentar recentes tensões financeiras.

Durante o "diálogo económico", com a comissão parlamentar de Assuntos Económicos e Monetários do Parlamento Europeu, reunida em Bruxelas, e enquanto presidente do Conselho Europeu de Riscos Sistémicos, ESRB, Lagarde sublinhou que "as instituições financeiras individuais deveriam preservar cuidadosamente os seus níveis atuais de resiliência, para garantir que poderiam aguentar um ambiente potencialmente menos favorável".

Ao referir o atual ambiente de tensão, causado pela falência do banco norte-americano SVB e pela perda de 25 por cento em bolsa do Credit Suisse, a presidente do BCE garantiu que a instituição está preparada para intervir, "se necessário", de forma a preservar a estabilidade financeira da Zona Euro.

"No que diz respeito à estabilidade financeira, temos todas as ferramentas que serão necessárias, que eventualmente são necessárias, para enfrentar tensões", garantiu a responsável pelo BCE. E, mesmo que tais ferramentas se revelassem insuficientes, o BCE seria capaz de "providenciar os ajustamentos ou recalibragens necessários para fazer face a qualquer risco de liquidez".
Apelo a regulamentação do financiamento não bancário

Enquanto presidente do Conselho Europeu de Riscos Sistémicos, Christine Lagarde apresentou diversas críticas e apelos de forma a minimizar impactos potencialmente exacerbados pela volatilidade do setor financeiro não bancário.

"Têm ocorrido diversos episódios de volatilidade dos mercados nos meses recentes, que causaram dificuldades de liquidez para intermediários financeiros não bancários. Estamos a analisar tais ocorrências com grande cautela", referiu Lagarde.

"O ESRB tem apelado repetidamente a reformas regulamentares do setor financeiro não-bancário", lembrou. "Particularmente, referimos a necessidade de um conjunto vasto de ferramentas para lidar com riscos sistémicos relativamente a intermediários" daquele setor. "Tanto eu como o meu predecessor trouxemos muitas vezes este problema perante este Comité", acrescentou.

"De forma geral, o progresso tem sido escasso até agora", criticou.

Lagarde sublinhou contudo que "o setor bancário da Zona Euro é resiliente, com fortes posições de capital e liquidez".

A presidente do BCE lembrou ainda aos deputados que, em setembro de 2022, o ESRB publicou um alerta geral quanto às vulnerabilidades do sistema financeiro da União Europeia.

Nem tudo nesse aviso se cumpriu. As perspetivas de crescimento foram revistas em alta para 2023 e riscos antecipados quanto ao crescimento do curto termo diminuíram. E, "apesar da expectativa de abrandamento do crescimento económico este ano, a economia da EU comprovou ser mais resiliente do que o esperado", afirmou Lagarde.

Contudo, "os desenvolvimentos nos mercados financeiros e bancários nas últimas semanas realçam a necessidade de manter a vigilância sobre as vulnerabilidades num ambiente macrofinanceiro desafiador", aconselhou.
Impacto do Credit Suisse
Lagarde saudou ainda "a ação rápida e as decisões tomadas pelas autoridades suíças" relativamente à forte queda em bolsa do banco Credit Suisse.

Na quinta-feira, o banco suíço tornou-se o primeiro banco de grande dimensão a receber ajuda pública de emergência desde a crise financeira de 2008.

Domingo, o presidente da Suíça, Alain Berset, anunciou que o grupo bancário suíço UBS iria comprar o Credit Suisse, considerando esta a melhor forma de "restaurar a confiança".

As negociações que culminaram nesta operação envolveram, além dos dois bancos, o Governo suíço e o banco central. O UBS irá beneficiar agora de uma garantia de nove mil milhões de francos suíços (9,11 milhões de euros) do Governo, para servir com um seguro caso sejam descobertos problemas em carteiras muito específicas do Credit Suisse.

O banco central anunciou também uma linha de liquidez que vai até 100 mil milhões de francos suíços (102 mil milhões de euros) para o UBS e o Credit Suisse.

A notícia da fusão, comunicada antes da abertura dos mercados, não teve o impacto positivo esperado no imediato.

Lagarde garantiu entretanto em Bruxelas que a exposição dos bancos europeus às dificuldades do Credit Suisse é “muito limitada”, da ordem dos “milhões”, sobretudo quanto às obrigações que se evaporaram com a fusão com o banco UBS.

A exposição das instituições vigiadas pelo BCE na Zona Euro é “muito limitada quanto ao Credit Suisse, particularmente quanto aos (títulos de dívida) AT1”, referiu Lagarde. “Falamos de milhões”.

Garantias repetidas pelo governador do Banco Central de França e pelos responsáveis do Deutche Bank e do Commerzbank.

Os títulos AT1 foram criados após a crise de 2008 e contam para o cálculo de fundos próprios de um banco.

As autoridades suíças decidiram que os detentores dessas obrigações iriam suportar parte do fardo financeiro resultante da fusão entre o Credit Suisse e o USB, privilegiando os acionistas do primeiro. Solução diferente teria a Zona Euro, onde os detentores das ações seriam “os primeiros a absorver as perdas”, indicou o BCE esta manhã.

c/ Lusa
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