Covid-19. FMI alerta para provável revisão em baixa das previsões económicas globais

por Joana Raposo Santos - RTP
Apesar de prever uma recuperação parcial em 2021, o FMI deixou claro que os resultados podem piorar de acordo com o desenvolvimento da crise pandémica. Foto: Remo Casilli - Reuters

O Fundo Monetário Internacional (FMI) alertou para a forte possibilidade de uma revisão em baixa das previsões económicas globais, numa altura em que a crise de Covid-19 continua a afetar a esmagadora maioria dos países. A organização frisou ainda que o eventual reatar da guerra comercial entre China e Estados Unidos poderá enfraquecer a recuperação económica.

“Sem soluções médicas imediatas, cenários mais adversos poderão, infelizmente, materializar-se em algumas economias”, lamentou Kristalina Georgieva, diretora do FMI, durante um evento online do Instituto Universitário Europeu. “O facto de o comportamento deste vírus ser desconhecido está a deixar nublado o horizonte para as projeções”.

As projeções de abril do FMI apontaram para uma contração de três por cento da economia global, valor que, a concretizar-se, marcaria a pior recessão desde a Grande Depressão dos anos 1930. Agora, Georgieva mostrou-se ainda mais pessimista, avisando que os mais recentes dados económicos de muitos países fazem antecipar uma contração da economia global superior a esses três por cento. Apesar de prever uma recuperação parcial em 2021, o FMI deixou claro que os resultados podem piorar de acordo com o desenvolvimento da crise pandémica.

A economia norte-americana tem sido particularmente atingida pelo vírus, tendo estagnado devido ao encerramento dos Estados como medida de contenção.

Dados do Governo dos EUA revelados na sexta-feira revelaram o aumento da taxa de desemprego para 14,7 por cento no último mês. De acordo com a Casa Branca, esse número pode atingir os 20 por cento já em maio.
A prejudicial tensão EUA-China
Kristalina Georgieva aproveitou a ocasião para lançar um aviso aos Estados Unidos, referindo-se à tensão entre Washington e Pequim. Para a responsável, o recurso ao protecionismo económico pode enfraquecer a perspetiva de recuperação global neste momento crítico.

Donald Trump, que tem avindo a criticar duramente a China pela forma como esta lidou com a pandemia desde o início, acusando o país de omitir informações sobre o vírus, ameaçou castigá-la com a imposição de novas tarifas.

Na sexta-feira, o Presidente sugeriu mesmo interromper a primeira fase do acordo comercial entre os dois países, que tinha estabelecido a eliminação de algumas tarifas impostas pelos EUA em troca da aquisição de mais bens norte-americanos pela China. A ameaça surge depois de a crise económica na China originada pela Covid-19 fazer com que a potência asiática não esteja a conseguir cumprir com o acordo.

Apesar de, na sexta-feira, as autoridades comerciais da China e dos EUA terem assegurado que mantinham a intenção de seguir com o acordo comercial até ao fim, alguns especialistas acreditam que a aquisição de bens norte-americanos prometida por Pequim está muito atrás do ritmo necessário para atingir a meta estabelecida para o primeiro ano de 77 mil milhões de dólares a mais do que em 2017.

Questionada sobre quão preocupada está com o aumento de tensões entre as duas potências e a possibilidade de estas prejudicarem o crescimento global, a diretora do FMI disse ser “imensamente importante que resistamos àquela que pode ser uma tendência natural de nos recolhermos atrás das nossas fronteiras”.
Países mais pobres em elevado risco
Nesse contexto, Georgieva defendeu que reacender o comércio mundial é fundamental na resposta à crise económica, “caso contrário os custos vão subir, as receitas vão descer e vamos viver num mundo menos seguro”.

A responsável avançou que o FMI já forneceu fundos de emergência a 50 dos 103 países que os pediram. Os países mais pobres permanecem em risco elevado devido à quebra nas exportações originada pela pandemia, apesar de nesses locais o número de casos de infeção e de mortes por Covid-19 ser inferior do que em países mais ricos.

Gita Gopinath, principal economista do FMI, afirmou num evento na sexta-feira que a situação piorou desde março, altura em que o Fundo estimou que os países e mercados em desenvolvimento precisariam de 2,5 biliões de dólares em financiamento externo para conseguirem ultrapassar a crise sanitária e económica.

“É provável que esta crise dure muito mais tempo”, lamentou. “Portanto, as necessidades podem aumentar ainda mais do que prevemos agora”.

O novo coronavírus continua sem dar tréguas na maioria dos países do mundo, tendo já contagiado quase quatro milhões de pessoas e provocado 274 mil mortes.
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