Dagong tentou comprar CPR mas dúvidas sobre independência dos chineses fez cair negócio
Lisboa, 09 jan (Lusa) -- A agência de `rating` chinesa Dagong abordou os responsáveis da Companhia Portuguesa de Rating para discutir a sua compra mas o negócio caiu por terra devido a dúvidas da CPR sobre a independência do processo do `rating`.
Fonte do setor financeiro, com conhecimento das negociações, disse à Agência Lusa que os responsáveis chineses abordaram os responsáveis da CPR em novembro, altura em que os líderes máximos da Dagong estiveram em Lisboa a participar numa conferência promovida pelo jornal i. Na altura, a viagem dos responsáveis à Europa, que começou por Portugal, foi aproveitada pelo presidente do BES, Ricardo Salgado, para anunciar que o banco havia assinado contrato com a Dagong.
A Dagong reuniu-se então com a liderança da CPR, onde demonstraram interesse em comprar a agência portuguesa e também que "havia disponibilidade e capacidade financeira" para fazer o negócio, de acordo com outra fonte com conhecimento das conversas.
No entanto, a proposta foi rejeitada pela CPR porque a visão transmitida pelos responsáveis da Dagong "não garantia a total Independência do `rating`", demonstrando um "enviesamento" do processo de `rating` para o lado dos credores, ou seja, mais benéfico para o lado chinês, adiantou.
Durante a conferência, o presidente da Dagong criticou as principais agências de `rating` a atuar maioritariamente no mercado norte-americano (Standard & Poor`s, Fitch e Moody`s) acusando-as de estar do lado dos países devedores, de usar os `ratings` para defender os interesses dos Estados Unidos e utilizar preconceitos políticos e de ideologia para defender os países devedores, ao invés de fazerem a sua obrigação, de assumir uma "postura imparcial".
No entanto, a proposta seria rejeitada precisamente porque os responsáveis chineses terão transmitido a ideia que a Dagong veria o `rating` como um instrumento de apoio de um dos lados, colocando em causa a independência da análise - a principal critica às maiores agências por empresas e bancos que têm mudado os seus contratos para agências alternativas, caso da Dagong ou da DBRS.
A estratégia passava por adquirir a CPR como forma de entrar no mercado europeu, uma vez que as novas regras da autoridade europeia que regula as agências de `rating` (ESMA) obrigam, entre outros requisitos, a terem sede na Europa ou uma subsidiária em terreno europeu.
A convicção entre os responsáveis portugueses é que o modo de operar da Dagong dificilmente passaria no crivo da ESMA, deixando assim a companhia portuguesa numa difícil situação, já que depois de muito tempo para obter licença para operar no mercado europeu, finalmente conseguiu obtê-la (ainda assim uma das primeiras a nível europeu) este verão.
A Agência Lusa contactou o presidente do conselho de administração da CPR, José Poças Esteves, mas este responsável apenas disse: "não confirmo". A Lusa tentou ainda contactar a Dagong, mas até ao momento não foi possível obter qualquer esclarecimento.
No entanto, durante a sua intervenção durante a conferência, José Poças Esteves defendeu novamente mudanças no sistema de notação de crédito, e uma reconfiguração do sistema para um "sistema de crédito global", mais e melhor concorrência, "uma perspetiva verdadeiramente supranacional" e "metodologias mais qualitativas e fundamentadas".
Fonte oficial da ESMA disse apenas que a autoridade não dá informação sobre registos até ao processo estar finalizado, mas explica que "qualquer agência de `rating` que queira operar na União Europeia (UE) -- quer diretamente quando tem sede na UE ou através de subsidiárias na UE -- tem de se registar na ESMA e cumprir todos os critérios da regulação da União Europeia. Isto inclui regras sobre a transparência, evitando conflitos de interesse, e regras de governança".