Os planos do Governo de Boris Johnson para responder aos próximos desafios económicos do Reino Unido estão aquém do necessário e vão ter de ser rapidamente afinados, devido ao abrandamento económico provocado pela pandemia, em simultâneo com o Brexit, refere um relatório da London School of Economics a cujas conclusões o jornal The Guardian teve acesso.
Também nessa altura deverão começar a surgir os primeiros efeitos do novo clima económico britânico fora da União Europeia.
O choque do Brexit será duplicado e as condições empresariais nos
setores que sobreviveram ao impacto da pandemia e das medidas de
encerramento, irão sempre piorar, haja ou não acordo com a União
Europeia, referem também as conclusões.
A análise, efetuada pelo Centro para o Desempenho da Economia da LSE,
indica que "os setores que vão ser afetados pelo Brexit e aqueles que
estão a sofrer com a pandemia de Covid-19 e com o confinamento são, em
termos gerais, diferentes entre si", explicou ao The Guardian um dos co-autores
do estudo, o professor de Economia, Swati Dhingra.
Dhingra acrescentou que, a pandemia do novo coronavírus "reduziu
a capacidade da economia britânica em absorver novos choques" e
"apressar o Brexit" irá "alargar o número de setores" que estão a sentir
o agravamento do clima empresarial.
O estudo aconselha por isso o Governo a por em prática uma estratégia industrial que "deve refletir" a fria realidade de "estar num Reino Unido pós-Brexit numa economia mundial pós-Covid" marcada por um recuo do comércio global.
O estudo aconselha por isso o Governo a por em prática uma estratégia industrial que "deve refletir" a fria realidade de "estar num Reino Unido pós-Brexit numa economia mundial pós-Covid" marcada por um recuo do comércio global.
A LSE, tal como outras instituições, não quer avançar com números quanto a projeções do duplo impacto para a economia, embora vários setores multipliquem avisos das dificuldades que aí vêm.
O
setor de manufaturas britânico, por exemplo, admite que se estão a preparar planos de
resposta a redundância de pessoal, quando cessarem os apoios as
empresas.
Johnson vê segunda vaga
Também as recentes restrições impostas por Londres num quadro pandémico a viajantes oriundos de países como Espanha, ou Portugal, poderão vir a refletir-se nas futuras relações comerciais a estabelecer entre o Reino Unido e Bruxelas. Esta terça-feira, o primeiro-ministro britânico defendeu a decisão repentina de impor quarentena de 14 dias a quem entre no país vindo de regiões espanholas. Aos microfones da Sky News, Boris Johnson disse ver sinais de uma segunda vaga de Covid-19 na Europa.
França, Espanha, Bélgica e Alemanha estão a sofrer novos surtos infeciosos e muitos Governos recuaram na reabertura da economia e reintroduziram medidas de quarentena e recolhimento.
"Vamos ser absolutamente claros sobre o que está a suceder na Eruopa, entre os nossos amigos europeus: receio que estamos a começar a ver, nalguns locais, sinais de uma segunda vaga da pandemia", referiu.
"O que temos a fazer é reagir de forma rápida e decisiva onde pensamos que os riscos estão de novo a surgir", acrescentou Johnson.
O Reino Unido, um dos países europeus mais afetados pela Covid-19, registou nas últimas semanas um abrandamento dos contágios, mas há indícios de que o número de casos está a aumentar depois do levantamento das medidas de confinamento.
Cenários de desânimo
O relatório do Centro refere que o maior impacto da pandemia foi sentido nos setores que implicam maior contacto humano, como restaurantes, viagens aéreas, hotéis e artes e entretenimento.
O
teletrabalho permitiu, por outro lado, que outras áreas da Economia,
como indústrias de investigação ou serviços profissionais como
aconselhamento legal ou de contabilidade, ou até áreas de comunicação, fossem menos
afetadas.
O impacto da pandemia está longe de poder ser contabilizado, contudo nenhum cenário de abrandamento económico é contemplado nos planos já elaborados de resposta ao Brexit.
"O Governo tem de ir além da sua estimativa genérica dos impactos do
Brexit, para planos muito mais afinados", em preparação para o "maior
abrandamento dos nossos tempos", aconselhou John de Lyon, um investigador associado do Centro e co-autor do relatório.
O relatório da LSE aponta empresas como a
Vodafone, a Google, a KPMG, a GlaxoSmithKline, a Rolls-Royce e o grupo
Unilever, como exemplos de casos que continuaram a funcionar com
problemas mínimos.
O estudo lembra que o Brexit irá impor barreiras ao
comércio de bens e serviços com a União Europeia, seja a empresas
farmacêuticas preocupadas com aprovação de regulamentos, a bancos e
serviços que necessitem de transferir dados a partir de servidores do
bloco europeu ou a fabricantes de veículos e a importadores de roupas,
que serão obrigados a preencher declarações alfandegárias pelas primeira vez em
décadas.
O Centro da LSE refere que, desde 2017, o Governo britânico garantiu que a saída da União Europeia seria conduzida de acordo com estimativas sectoriais, mas que, até agora, só divulgou análises detalhadas em 10 setores.