Fusão Fiat Chrysler com Renault ao virar da esquina

por RTP
Em marçode 2019, Renault, Nissan e Mitsubishi Motors, confirmaram a sua Aliança. Reuters

A construtora automóvel italo-americana Fiat Chrysler (FCA) propôs casamento à francesa Renault e esta confirmou o seu interesse. A chegar a bom porto, a união irá criar o terceiro maior grupo mundial do setor, com um valor avaliado em 30 mil milhões de euros em bolsa.

Aplaudida pelos mercados e pelo Estado francês, e a concretizar-se, a combinação irá significar uma reviravolta na indústria automóvel mundial, com impacto significativo imediato na Aliança confirmada em março último, entre Renault-Nissan-Mitsubishi Motors. As construtoras japonesas poderão também vir a integrar o novo grupo, que poderá assim ultrapassar a Volkswagen e a Toyota.

Será também um casamento "entre iguais", com os acionistas de cada um dos fabricantes a deter 50 por cento da nova entidade. O maior acionista da Renault é o Estado francês.

A Fiat-Chrysler explicou as vantagens da proposta em comunicado, nomeadamente o facto da união dar origem ao terceiro "fabricante de equipamento de origem", com vendas anuais de 8,7 milhões de veículos e uma "forte presença em regiões e segmentos-chave".

Os catálogos dos dois grupos são "grandes e complementares e iriam dar uma cobertura completa do mercado, desde o luxo ao segmento do grande público", acrescenta o comunicado.
Apreensão
Tanto a FCA como a Renault, ambas produtoras de veículos populares, poderiam partilhar múltiplos elementos técnicos, com a Renault a trazer a sua experiência no setor elétrico e a FCA a abrir à europeia o importante mercado da América do Norte, com grandes SUV e pick-up, extremamente rentável.

A FCA garantiu já que nenhuma unidade de produção seria por isso encerrada, mencionando sinergias anuais superiores a cinco mil milhões de euros.

Apesar destas garantais, o maior sindicato da Renault, CGT, exigiu já que o Estado francês conserve uma "minoria de bloqueio" em caso de fusão, por temer "novas supressões de empregos".

Pouco antes do anúncio da FAC, o porta-voz do Governo francês, Sibeth Ndiaye, afirmou que Paris é "favorável" à fusão.

E pouco depois surgiu a anuência da Renault, com o Conselho de Administração reunido em Boulogne Billancourt, perto de Paris, a dizer-se "interessado" numa fusão com a Fiat-Chrysler.

"Após ter analisado com atenção os termos desta proposta amigável, o Conselho de Administração da Renault decidiu estudar com interesse a oportunidade de uma tal aproximação, apoiando a pegada industrial do grupo Renault e gerando valor adicional para a Aliança", com a Nissan, refere o comunicado da construtora.

"Uma próxima comunicação irá intervir no momento apropriado de forma a informar o mercado dos resultados destas negociações, conforme a legislação e os regulamentos aplicáveis", acrescenta.
Semanas ou meses
As notícias galvanizaram as ações de ambas construtoras, com a FCA a ganhar às 10h00 da manhã 9,16 por cento, a 12,612 euros na Bolsa de Milão, depois de subir mais de 18 por cento, e a Renault 13,81 por cento a 56,89 euros na Bolsa de Paris.

Fontes próximas do dossier referem que o anúncio é a concretização de "negociações iniciadas sob Carlos Ghosn", o ex-patrão da construtora francesa. A nova fase, que poderá concluir-se com a fusão, vai iniciar-se mas deverá demorar vários dias, até mesmo semanas.

Numa carta aos empregados da FCA, o CEO da empresa, Mike Manley, estimou um prazo ainda mais alargado. "Se esta fusão se concretizar, poderá requerer mais de um ano", para se tornar efetiva.

De acordo com uma fonte próxima do dossier, citada pela Agência France Press, John Elkann, neto de Gianni Agnelli, o lendário presidente da Fiat, e atual presidente da FCA, poderia ficar a presidir à nova entidade, com Jean-Dominique Senard, atual presidente da Renault, como seu presidente executivo. Mas nada está ainda decidido.
Nissan. Fecha-se uma janela, abre-se uma porta
Em novembro, a detenção de Carlos Ghosn, acusado de fraude financeira após revelações por parte da Nissan (que controla a Mitsubishi), esfriou as relações entre franceses e japoneses. As negociações com a FCA não fecham apesar disso a porta à participação japonesa."Pensamos que os benefícios se irão estender também aos parceiros da Aliança, Mitsubishi e Nissan", considerou Mike Manley.

A verificar-se esta inclusão, a fusão criaria um grupo de quase 16 milhões de veículos, ultrapassando a alemã Volkswagen (10,6 milhões) e a japonesa Toyota (10,59 milhões).

Uma aliança franco-italiana-americana iria contudo reforçar a parte francesa no seio da Aliança com a Nissan e a Mitsubishi, numa altura em que os japoneses recusam uma união mais estreita.

Será também a tábua de salvação para a FCA na Europa. Se a Renaul falhar, o grupo francês PSA (Peugeot, Citroën, DS, Opel, Vauxhall) poderá ser a alternativa, tendo já assinalado igualmente o seu interesse.

As fusões entre grandes construtoras automóveis estão na ordem do dia devido aos investimentos colossais requeridos pela evolução tecnológica, incluindo as motorizações elétricas, a condução autónoma e veículos conectados, para além das dificuldades colocadas aos mercados mundiais pelo mercado chinês.
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