Luís Rodrigues regressa à TAP com plano de reestruturação e privatização nas mãos

por Inês Moreira Santos - RTP
RTP

O novo presidente da TAP assume funções. Luís Rodrigues deixou a liderança da SATA e, a partir desta sexta-feira, acumula a presidência da Comissão Executiva e do Conselho Administração da companhia aérea portuguesa, substituindo Christine Ourmières-Widener e Manuel Beja. Mas entre polémicas e demissões, o que espera o novo presidente da empresa?

Até agora na liderança da açoreana SATA, onde entrou no final de 2019 e liderava o processo de reestruturação da empresa, depois de anos sucessivos de prejuízos que rondavam os 50 milhões de euros.

Esta será a segunda passagem de Luís Rodrigues pela companhia aérea que, entre 2009 e 2014, foi administrador financeiro da empresa, com responsabilidades na manutenção do Brasil e da Groundforce.

Regressa agora à TAP com a missão de pacificar a companhia e de a preparar para a privatização. Luís Rodrigues leva ainda para a equipa o gestor Mário Chaves, que também vem da SATA.

O anúncio da tomada de posse de Luís Rodrigues foi realizado, na quarta-feira, pelo Ministério das Finanças, que adiantou, em comunicado, que a entrada em funções foi aprovada em assembleia-geral de acionistas, na qual o Estado se fez representar pela Direção-Geral do Tesouro e Finanças (DGTF).

Nesta reunião foram também adotadas as decisões sobre os procedimentos para a destituição de Ourmières-Widener (presidente executiva) e de Manuel Beja (presidente do Conselho de Administração), cujo último dia em funções foi na quinta-feira.

Segundo o Ministério, a deliberação conclui o processo, que foi iniciado na assembleia-geral de 13 de março, tendo a DGTF notificado a presidente do Conselho de Administração e o presidente da Comissão Executiva (PCE) “da companhia dos respetivos projetos de decisão de demissão no dia seguinte”.

“Ficam assim reunidas as condições para que a TAP inicie uma nova etapa, capaz de assegurar o foco na implementação bem-sucedida do plano de reestruturação da empresa, para a qual o contributo diário de todos os trabalhadores é imprescindível”, concluiu.
Proposta "irrecusável"

Quando o nome de Luís Rosrigues foi mencionado para as funções na Administração da companhia aérea, o próprio admitiu, numa entrevista à RTP Açores, que a proposta era "irrecusável", mas que a decisão de sair da SATA para a TAP "não é nada que se decida de ânimo leve".

Luís Rodrigues assume a liderança da TAP numa altura em que se verifica uma forte recuperação financeira da companhia aérea. Contudo, entra no meio de polémicas políticas e mediáticas, além de alguma instabilidade laboral.

O Governo anunciou a exoneração da presidente executiva da companhia aérea, Christine Ourmières-Widener e a do presidente do Conselho de Administração, Manuel Beja, a 6 de março, depois de divulgados os resultados de uma auditoria da Inspeção-Geral das Finanças (IGF), que concluiu que o acordo para a saída de Alexandra Reis é nulo e grande parte da indemnização de perto de meio de milhão de euros terá de ser devolvida.

O novo presidente da TAP terá como missão, principalmente, cumprir o plano de reestruturação e a venda da empresa a privados, além de ter de gerir as questões laborais e as relações com os sindicatos de trabalhadores.

Uma das tarefas mais difíceis do novo líder da TAP será a gestão das relações com as estruturas sindicais, uma vez que no relatório de resultados de 2022 da empresa é evidenciado que "é crítico ter novos acordos coletivos de trabalho competitivos". Isto é, alterar os acordos já existentes, reduzir custos e melhorar a produtividade - um dos pontos que é expresso no plano de reestruturação.

Já na quinta feira, os sindicatos representativos dos trabalhadores da TAP exigiram, em carta aberta ao novo presidente, o fim dos cortes salariais e a reintegração dos funcionários despedidos para que seja restabelecida a paz social na companhia aérea.

As estruturas sindicais pediram ao novo presidente da TAP uma reunião em breve e garantem que pode contar com os trabalhadores para serem "parte da solução" e “em conjunto elevar a TAP ao patamar que merece”.

Para estes, a entrada da nova administração da TAP é o “momento ideal para acabar com matrizes ideológicas e gestão algorítmica de má memória para todos, que apenas serviram para estrangular a vida dos trabalhadores do Grupo TAP”.


Dizem que os trabalhadores querem “lutar para restituir a credibilidade da companhia que foi irremediavelmente abalada", por culpa "da administração cessante bem como dos governantes”, e que o estado atual da empresa obriga a "medidas sérias e concretas que garantam a paz social".

No imediato, exigem "o fim dos ATE [acordo temporário de emergência], o fim dos cortes e dos congelamentos salariais, a reversão das denúncias dos AE [Acordos de Empresa], bem como a reintegração dos trabalhadores alvo do despedimento coletivo”.
Plano de reestruturação e privatização

Esperam-se várias tarefas e desafios a Luís Rodrigues quando assumir funções, mas há duas que se destacam: manter os lucros e o plano de reestruturação e preparar a privatização da empresa.

A TAP voltou a ter lucros em fechando o exercício com um resultado positivo de 65,6 milhões. O plano de reestruturação só previa lucros em 2025. Apesar de entrar em boas marés, a incerteza nos mercados económico e financeiro podem dificultar os objetivos estabelecidos e acordados com Bruxelas.

O novo presidente tem de continuar a baixar a dívida da empresa, aumentar as receitas e tentar conter os custos.


A somar a isso, Luís Rodrigues regressa com o processo de reprivatização em andamento. O banco de investimento norte-americano Evercore está já a trabalhar com a TAP na preparação da venda e no contacto com interessados há cerca de nove meses.

Em fevereiro, Fernando Medina afirmou que a venda da companhia iria “em breve” a Conselho de Ministros, o que ainda não aconteceu. Mas a reprivatização é para avançar e já há três interessados: a Lufhtansa, a Air France – KLM e grupo IAG.

A anterior CEO, Christine Ourmières-Widener, afirmou na comissão parlamentar de inquérito que achava “difícil” que a reprivatização ficasse concluída este ano, contudo o seu sucessor já tem experiência em processos semelhantes, tendo posto em marcha a privatização da SATA.

E a par disto, Luís Rodrigues tem de recuperar a imagem da TAP e as relações com o Governo. Com as demissões da presidente executiva e do chairman cessantes, ficaram a descoberto as principais complexidades da relação com os ministérios das Infraestruturas e das Finanças.

Recorde-se que a polémica começou no final de dezembro, quando foi avançado que a secretária de Estado do Tesouro tinha recebido uma indemnização de cerca de 500.000 euros para sair dois anos antes do previsto da administração da TAP. O processo foi negociado ao abrigo do código das sociedades comerciais, quando a TAP está abrangida pelo estatuto do gestor público.

O caso motivou uma remodelação no Governo, incluindo a saída do ex-ministro das Infraestruturas e Habitação, Pedro Nuno Santos.
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