Maré vermelha na banca. Bolsas europeias em queda após derrapagem do Credit Suisse

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
EPA

As bolsas europeias registaram fortes quedas na sessão desta quarta-feira por causa dos receios com o Credit Suisse. O segundo maior banco suíço caiu 30 por cento na bolsa, para um novo mínimo, arrastando o setor financeiro europeu, já fragilizado pelo colapso do banco norte-americano Silicon Valley Bank. O banco central suíço já se mostrou disponível para injetar liquidez no Credit Suisse "se necessário".

O Credit Suisse, um dos maiores bancos da Europa, está em dificuldades depois de o seu maior acionista, o Banco Nacional Saudita, ter rejeitado injetar mais dinheiro na instituição para fazer face às suas dificuldades.

"Não podemos porque excederíamos 10 por cento (da participação), é uma questão regulamentar", explicou Ammar al-Khudairy, presidente do banco estatal saudita, à Bloomberg.

Após as declarações de Ammar al-Khudairy, o Credit Suisse caiu 30 por cento na bolsa de valores de Zurique para um mínimo histórico.

As ações do banco sediado em Zurique, um dos 20 maiores da Europa e um dos 50 maiores do mundo, caíram abaixo de dois francos suíços (2,04 euros) pela primeira vez a meio da manhã, mas continuaram a sua queda livre e agora situam-se em 1,5 francos (1,54 euros).

A derrapagem do banco suíço arrastou as bolsas europeias para uma maré vermelha, que encerraram a sessão desta quarta-feira com fortes perdas.


A bolsa de Madrid viu o índice IBEX35 deslizar mais de quatro por cento. Londres, Frankfurt e Paris perderam mais de 3 por cento. A bolsa de Lisboa encerrou esta quarta-feira a cair 2,77% para 5.812 pontos.

Nos Estados Unidos, grandes bancos como JPMorgan Chase & Co JPM.N, Citigroup C.N e Bank of America Corp BAC.N caíram entre 2% e 6%.

A reguladora financeira suíça FINMA e o banco central do país disseram esta quarta-feira que o Banco Nacional da Suíça fornecerá liquidez ao Credit Suisse "se necessário".

As duas instituições disseram, em comunicado conjunto, que o Credit Suisse "atende aos requisitos de capital e liquidez impostos a bancos sistemicamente importantes".
"Pior altura para um banco europeu ter problemas”
A queda histórica do Credt Suisse veio fazer soar ainda mais os alarmes da banca, numa altura em que aumentam os receios em relação a um possível efeito dominó após a falência do norte-americano Silicon Valley Bank.

Os receios em relação à queda do banco suíço levaram o Banco Central Europeu (BCE) a contactar os bancos que supervisiona para os questionar relativamente à sua exposição ao Credit Suisse.

O Tesouro dos EUA também disse estar a monitorizar a situação.

Em entrevista à RTP3, Pedro Lino, analista de Mercados, considera que “esta é a pior altura para um banco europeu ter problemas, principalmente com a dimensão do Credit Suisse".
Analistas alertam que a derrapagem do Credit Suisse eleva o grau de alerta para outra dimensão. O economista Nouriel Roubini disse, em entrevista à Bloomberg TV, que o Credit Suisse pode ser “demasiado grande para ser salvo”. Para Nouriel Roubini, a queda do Credit Suisse seria semelhante ao colapso do Lemanh Brothers, nos Estados Unidos, que provocou a crise financeira de 2008.

Para além de ser "demasiado grande para ser salvo", Pedro Lino alerta para o risco da queda do Credit Suisse noutros bancos, dada a sua enorme exposição.

A agência Reuters avança que o Governo suíço está a ser pressionado a intervir. Segundo a agência, as autoridades suíças e o Credit Suisse Group AG estão a discutir formas de estabilizar o banco.
Credit Suisse: um banco com crises em cadeia
O Credit Suisse atravessa por estes dias o seu pior momento em 167 anos de história. Desde 2019 que o banco está em crise interna, mas a situação agravou-se agora devido à crise mais generalizada desencadeada pelo colapso do Silicon Valley Bank.

Nos últimos dois anos, o banco registou perdas milionárias: em 2021 ascenderam a 1.572 milhões de francos suíços (1.600 milhões de euros) e em 2022 quase quintuplicaram para os 7.293 milhões de francos (7.400 milhões de euros).

O Credit Suisse também sofreu levantamentos de liquidez no valor de 123.200 milhões de francos suíços (126.000 milhões de euros) no ano passado.

Entre os principais fatores subjacentes às contas sombrias está a sua exposição a empresas de risco que entraram em colapso em anos anteriores, tais como o fundo de cobertura norte-americano Archegos e a empresa de serviços financeiros anglo-australiana Greensill.

Além dos problemas financeiros, o banco suíço tem sido alvo de controvérsias e tem enfrentado problemas de reputação, que levaram a uma extensa remodelação do conselho nos últimos anos.

c/agências
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