Economia
Peritos europeus confirmam primeiros factos sobre o apagão de abril: colapso da rede era "inevitável"
O relatório preliminar da ENTSO-E, conhecido esta sexta-feira, revela a sequência de falhas que levaram à maior interrupção energética na Europa das últimas duas décadas. Confirma que houve um aumento de tensão em cascata, com origem no sul de Espanha.
Apesar de ter sido um evento sem precedentes e dificilmente controlável, há ainda dados em falta por parte dos produtores. Cinco meses depois e já há mais algumas luzes quanto ao incidente que deixou Espanha e Portugal totalmente às escuras.
O incidente de 28 de abril, classificado como de grau 3 - o nível mais grave previsto pela regulamentação europeia -, está a ser analisado por um painel de peritos da Rede Europeia de Operadores de Sistemas de Transmissão de Eletricidade (ENTSO-E).
O primeiro relatório factual é agora divulgado, quase um mês antes do prazo inicial previsto.
Este primeiro documento resulta do cruzamento de dados facultados pelos operadores de rede - a REN, em Portugal, a RedElétrica, em Espanha, e a RTE, em França - bem como de vários produtores e comercializadores e outras entidades.
O documento confirma a causa que já tinha sido apontada anteriormente: um aumento de tensão em cascata com origem no sul de Espanha, mas revela pela primeira vez que houve sinais, horas antes de as luzes se apagarem.
Num encontro com jornalistas, a ENTSO-E explica que os dias anteriores não destoaram da típica produção esperada num habitual dia de primavera, mas que na manhã do dia 28 de abril houve um aumento na geração de renováveis que levou a uma quebra dos preços que seriam praticados no mercado no dia seguinte. Isto é, o preço a que os produtores vendem a energia aos comercializadores. Chegou a ser negativo.Não é estabelecida a correlação entre uma coisa e outra, mas essa dinâmica terá gerado uma variação de tensão em Espanha, que se começou a sentir na rede cerca de uma hora antes do apagão.
O incidente de 28 de abril, classificado como de grau 3 - o nível mais grave previsto pela regulamentação europeia -, está a ser analisado por um painel de peritos da Rede Europeia de Operadores de Sistemas de Transmissão de Eletricidade (ENTSO-E).
O primeiro relatório factual é agora divulgado, quase um mês antes do prazo inicial previsto.
Este primeiro documento resulta do cruzamento de dados facultados pelos operadores de rede - a REN, em Portugal, a RedElétrica, em Espanha, e a RTE, em França - bem como de vários produtores e comercializadores e outras entidades.
O documento confirma a causa que já tinha sido apontada anteriormente: um aumento de tensão em cascata com origem no sul de Espanha, mas revela pela primeira vez que houve sinais, horas antes de as luzes se apagarem.
Num encontro com jornalistas, a ENTSO-E explica que os dias anteriores não destoaram da típica produção esperada num habitual dia de primavera, mas que na manhã do dia 28 de abril houve um aumento na geração de renováveis que levou a uma quebra dos preços que seriam praticados no mercado no dia seguinte. Isto é, o preço a que os produtores vendem a energia aos comercializadores. Chegou a ser negativo.Não é estabelecida a correlação entre uma coisa e outra, mas essa dinâmica terá gerado uma variação de tensão em Espanha, que se começou a sentir na rede cerca de uma hora antes do apagão.
Em detalhe, a ENTSO-E explica que houve alguns períodos de oscilação, todos em Espanha. Primeiro, entre as 11h03 e as 11h08. Depois, entre as 11h19 e as 11h22. Não é atípico que haja oscilações - sejam elas do lado da produção ou não - e nesse momento, diz a entidade, tudo indica que os operadores da rede tomaram "várias medidas de mitigação" previstas nos protocolos europeus.
De acordo com a análise da ENTSO-E, a sequência de falhas teve início às 12h32 (hora de Bruxelas), quando diversas centrais solares e eólicas no sul de Espanha se desligaram subitamente da rede, seguidas de perdas adicionais em regiões como Granada, Badajoz, Sevilha e Cáceres. Em menos de um minuto, foram retirados mais de 2,5 gigawatts de capacidade de produção. Esta quebra reduziu a compensação reativa disponível, provocando uma escalada da tensão elétrica e desencadeando um efeito em cascata em toda a Península Ibérica.
Às 12h33, o sistema ibérico começou a perder sincronismo com a rede continental, registando oscilações de frequência e tensão que não puderam ser estabilizadas pelos planos automáticos de defesa de Portugal e Espanha. Pouco depois, as interligações com França e Marrocos também foram desligadas, consumando a separação elétrica da Península e o colapso total dos sistemas português e espanhol.
Às 12h33, o sistema ibérico começou a perder sincronismo com a rede continental, registando oscilações de frequência e tensão que não puderam ser estabilizadas pelos planos automáticos de defesa de Portugal e Espanha. Pouco depois, as interligações com França e Marrocos também foram desligadas, consumando a separação elétrica da Península e o colapso total dos sistemas português e espanhol.
Houve uma redução da exportação de energia de Espanha para França e um ajustamento ao nível das ligações internas, bem como das interligações entre os dois países, para acomodar precisamente essas oscilação.O relatório final sobre o apagão elétrico de 28 de abril em Portugal e Espanha será publicado no primeiro trimestre de 2026, vários meses antes da data inicialmente prevista, fixada em 28 de outubro do mesmo ano.
O comissário europeu da Energia defendeu esta sexta-feira que a União Europeia deve "agir de forma decisiva" para evitar "incidentes inéditos" como o do apagão na Península Ibérica.
"A primeira avaliação do painel de peritos sobre o apagão em Espanha e Portugal, publicada hoje pela ENTSO-E, transmite uma mensagem clara: este foi um acontecimento sem precedentes. Um incidente inédito que destaca que o sistema energético europeu enfrenta novos desafios", reagiu Dan Jørgensen.
"A primeira avaliação do painel de peritos sobre o apagão em Espanha e Portugal, publicada hoje pela ENTSO-E, transmite uma mensagem clara: este foi um acontecimento sem precedentes. Um incidente inédito que destaca que o sistema energético europeu enfrenta novos desafios", reagiu Dan Jørgensen.
"Temos de aprender juntos com esta experiência e agir de forma decisiva para evitar incidentes semelhantes", acrescentou, garantindo que "a Comissão Europeia já está a trabalhar numa revisão do quadro de segurança energética da UE para garantir que os sistemas estão preparados para o futuro".
"O nosso estilo de vida e prosperidade económica dependem de um sistema energético que seja não só mais limpo e eficiente, mas também seguro, fiável e resiliente", concluiu.