Schäuble prescreve terceiro resgate "bem mais pequeno" para a Grécia

O ministro alemão das Finanças escolheu a imprensa publicada esta sexta-feira no seu país para levantar mais uma ponta do véu sobre o cenário de um terceiro programa de resgate financeiro a aplicar à Grécia, antecipando que a assistência adicional deverá traduzir-se em “somas bem mais pequenas” do que os montantes dos resgates anteriores, na ordem dos 240 mil milhões de euros. Em entrevista ao diário germânico Handelsblatt, Wolfgang Schäuble lembra, porém, que Atenas terá de preencher a exigência prévia de “um excedente primário”.

RTP /
“Vamos ter de nos preocupar em meados do próximo ano com novas medidas para a Grécia”, repetiu o ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble Thomas Peter, Reuters

É um potencial embaraço para a chanceler alemã, em plena campanha para as eleições de 22 de setembro, e um vaticínio de austeridade sem tréguas para os gregos.

No dia seguinte às primeiras declarações do seu ministro das Finanças sobre um novo envelope condicionado para os cofres públicos helénicos, Angela Merkel aproveitou um evento de campanha em Schwäbisch Gmünd, no Estado de Baden-Württemberg, para alegar que “o que Schäuble disse sobre a Grécia” já “toda a gente sabia”.

“Fizemos progressos, mas a crise não acabou”, sublinhava anteontem a chanceler alemã.


Wolfgang Schäuble, o ministro das Finanças de Angela Merkel, volta à carga com a tese de que não há nada de novo na posição que assumiu há três dias, quando, a meio de uma iniciativa de campanha perto de Hamburgo, clamou que a Grécia “vai ter necessidade de um novo programa”.

Agora, em declarações publicadas pelo jornal alemão Handelsblatt, o governante esforça-se por demonstrar que não se quis demarcar do até agora guião oficial de Berlim e dos centros de decisão da Europa: quaisquer decisões sobre intervenções financeiras adicionais em Atenas só serão tomadas a partir de 2014.

A perspetiva de um terceiro pacote de resgate, argumentou o ministro alemão ao diário financeiro, está vinculada à “condição de o governo de Atenas cumprir os seus compromissos”. A expectativa, reiterou, é a de que “as somas” de um novo programa sejam “bem mais pequenas” do que as anteriores. “Porque a Grécia já terá então um excedente primário” – saldo orçamental excluindo a despesa com juros.

A oposição alemã foi célere a capitalizar a intervenção do ministro das Finanças, apontando o dedo à aparente inversão de marcha no discurso do governo de Merkel. Um “disparate”, segundo Schäuble.

“Não quero que digam de mim após as eleições, independentemente dos resultados e do que eu fizer a seguir, que não disse a verdade. Por isso, estou feliz por a opinião pública ter agora prestado mais atenção ao que eu tenho vindo a dizer uma e outra vez há muito tempo. Vamos ter de nos preocupar em meados do próximo ano com novas medidas para a Grécia”, arguiu.
“Algo mais terá de acontecer”
Logo na terça-feira o ministro grego das Finanças procurou refutar a necessidade de uma terceira vaga de intervenção financeira externa em Atenas. E decorridas 24 horas, à saída de uma reunião com Yannis Stournaras na capital grega, Jörg Asmussen, do diretório do Banco Central Europeu, reiterava que a cúpula da União poderia até analisar mais “medidas” e “uma assistência suplementar”. Mas apenas se os gregos fossem ao encontro de decisões adotadas em novembro de 2012 pelo Conselho Europeu.

“É incontestado que temos uma decisão da cimeira europeia de novembro último que diz que a Europa examinará medidas e uma assistência suplementares quando a Grécia tiver concretizado um excedente primário anual e logo que o plano de saneamento orçamental tenha sido implementado”, vincou o representante do BCE.


Foto: John Kolesidis, Reuters

Foi no final de julho que o Fundo Monetário Internacional exortou a União Europeia a debruçar-se sobre a hipótese de um terceiro resgate financeiro da Grécia e assim assegurar a sustentabilidade da dívida do Estado helénico, tendo em conta o cálculo de um buraco orçamental de cerca de 11 mil milhões de euros até 2016 – 4,4 mil milhões no próximo ano e 6,5 mil milhões de euros em 2015.

As previsões da troika apontam para uma dívida pública de 176 por cento do PIB em 2013. Espera-se que este rácio recue para os 124 por cento até 2020.

O cenário de um terceiro programa de assistência financeira ganhou ontem ainda mais consistência com declarações do presidente do Eurogrupo à publicação holandesa Het Financieele Dagblad. Jeroen Dijsselbloem, que é também o ministro holandês das Finanças, afirmou que “um novo programa será necessário” porque “os problemas na Grécia não vão estar resolvidos em 2014”. Pelo que “algo mais terá de acontecer”.

Já na véspera o comissário europeu para os Assuntos Financeiros não excluíra por completo um novo pacote de resgate, ainda assim assinalando, em declarações ao jornal finlandês Helsinging Sanomat, que essa não seria a única via. “Melhorar a sustentabilidade da dívida através da extensão dos prazos de devolução dos empréstimos” foi o exemplo referido por Olli Rehn.
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